São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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VENEZUELA

Bloqueio de avenidas é dispersado com gás e balas de borracha; para comandante do Exército, greve é "sabotagem"

Oposição radicaliza ações contra Chávez

DA REDAÇÃO

A oposição ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que realiza uma greve geral há duas semanas, promoveu ontem de manhã um bloqueio de grandes avenidas e estradas, causando um grande caos no trânsito da capital, Caracas. O protesto faz parte da estratégia da oposição de radicalizar suas ações para forçar Chávez a renunciar e a convocar eleições antecipadas.
O anúncio de uma grande passeata em direção ao palácio presidencial de Miraflores, ainda sem data definida, elevou o temor de enfrentamentos e violência. No dia 6, um tiroteio durante uma manifestação da oposição em Caracas deixou três pessoas mortas.
A greve geral, iniciada no dia 2, já provocou a paralisação total das exportações de petróleo, produto que responde por 80% das vendas externas do país. A crise venezuelana levou o preço do petróleo a superar os US$ 30 no mercado futuro em Nova York pela primeira vez em dois meses.
O comandante-geral do Exército, Julio Garcia Montoya, chamou a greve na indústria petrolífera de "sabotagem" e disse que ela é "uma agressão contra a sobrevivência do Estado".
As manifestações de ontem foram dispersadas pela polícia com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha disparadas contra prédios nos quais manifestantes batiam panelas. Em uma avenida, policiais se perfilaram para separar cerca de 500 manifestantes de uma centena de chavistas, que levavam barras de ferro, garrafas e bastões. Apesar do tráfego reduzido por causa da greve, o protesto provocou grandes congestionamentos em Caracas.
Soldados com rifles se colocaram diante de uma delegacia ocupada pelo Exército, enquanto manifestantes pediam que eles deixassem o local. Chávez ordenou uma militarização de Caracas em novembro e desafiou uma decisão da Justiça, na sexta, para devolver o controle da Polícia Metropolitana para a prefeitura de Caracas, governada por um adversário político. Anteontem, ele ordenou às Forças Armadas que ignorassem ordens da Justiça. A Promotoria criticou a orientação.
A greve foi convocada pela oposição para forçar Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato, mas os líderes grevistas já exigem a renúncia de Chávez, cujo mandato vai até 2007, e a convocação de eleições antecipadas.
"A única coisa que pedimos de você é que convoque eleições agora", afirmou Carlos Ortega, presidente da CTV (Confederação dos Trabalhadores da Venezuela), um dos organizadores da greve. "Mas você não é um democrata. Você não quer eleições. O que você quer é confronto e violência."
Chávez diz que não renuncia e que seguirá a Constituição, que prevê a realização de um referendo só a partir de agosto, quando seu mandato chega à metade.
Os EUA voltaram ontem a defender a realização de um referendo, como haviam feito na sexta. Em abril, quando Chávez foi afastado da Presidência por dois dias por um golpe frustrado, os EUA louvaram sua queda.
Além de afetar a indústria petroleira, a greve geral também provocou danos à produção de ferro, aço e alumínio. Chávez disse anteontem que ordenou a importação de gasolina, leite e arroz e o uso das reservas internacionais do país para combater o desabastecimento. Já há filas em postos, bancos e supermercados.
Chávez diz que os grevistas querem derrubá-lo por meio de um golpe. O governo determinou a ocupação de refinarias e petroleiros pelas Forças Armadas, para tentar garantir a produção, mas não obteve resultados até agora.
Em uma entrevista publicada ontem pelo jornal "The Washington Post", Chávez disse que só renunciaria se a violência e a crise econômica tornassem a Venezuela ingovernável, mas que o pior da greve geral já teria passado.
"Se eu perceber que falhei, poderia renunciar, mas não se colocarem uma arma na minha cabeça", disse. "Há uma ou duas semanas, eles estavam nos levando a essa situação [de ingovernabilidade] e vocês poderiam dizer que o país estava mais perto desse cenário. Mas posso dizer hoje, com responsabilidade, que estamos nos afastando dessa situação, nos recuperando", disse.


Com agências internacionais


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