São Paulo, terça-feira, 17 de dezembro de 2002

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IGREJA

Suspeitos terão direito a julgamento e culpados de "um único ato" serão permanentemente removidos de atividades pastorais

Vaticano aprova medidas contra pedófilos

DA REDAÇÃO

O Vaticano aprovou ontem medidas para punir padres católicos responsáveis por abusos sexuais contra crianças e para tentar protegê-las de novos ataques. A igreja vai garantir um julgamento justo para os padres suspeitos e punições duras para os culpados, segundo autoridades católicas.
Descrevendo a pedofilia como uma "ofensa abominável", o Vaticano disse que a igreja deve reconquistar o respeito dos católicos, cuja confiança ficou abalada pela onda de escândalos sexuais.
Em outubro, o Vaticano rejeitou as propostas de bispos norte-americanos para punir religiosos acusados de abuso -como a remoção imediata de padres suspeitos- e disse que elas violavam o princípio da presunção de inocência e dificultavam a possibilidade de um julgamento justo.
O Vaticano disse temer que os padres acusados fossem punidos antes que sua eventual culpa fosse comprovada, no que o papa João Paulo 2º, 82, descreveu como um "julgamento sumário".
Segundo a versão revisada que foi anunciada ontem, qualquer padre acusado de abuso sexual vai ter direito a um julgamento, com representação legal, antes de enfrentar uma eventual expulsão da igreja.
As novas regras determinam que quem cometer abuso sexual deve ser permanentemente removido de suas atividades pastorais "quando um único ato de abuso sexual cometido por um padre ou por um diácono for admitido ou comprovado". Mas os culpados podem permanecer na igreja -desde que fora das atividades pastorais para evitar contato com menores.
Se o pedófilo for transferido para uma instituição para receber tratamento, as autoridades eclesiásticas do local devem ser informadas de que ele pode representar perigo para crianças.
O cardeal Giovanni Battista Re, chefe da Congregação dos Bispos, disse, em uma carta para o bispo Wilton Gregory, presidente da conferência episcopal dos EUA, que o Vaticano está determinado a combater e evitar ataques contra crianças. "As normas essenciais em sua formulação atual pretendem garantir uma proteção efetiva aos menores e estabelecer um procedimento rigoroso e preciso para punir, de forma justa, aqueles que são culpados de tais ofensas abomináveis", disse Re.
O anúncio aconteceu três dias depois de o papa ter aceitado a renúncia do cardeal Bernard Law ao posto de arcebispo de Boston após meses de críticas pela forma com que ele lidou com os casos de abusos cometidos por padres da sua arquidiocese.
Os escândalos atingem diversos países além dos EUA, e as determinações do Vaticano devem servir para os religiosos em geral.
Em caso semelhante ao de Law, aumentou a pressão na Irlanda para que o cardeal Desmond Connell renuncie. O padre Patrick McCafferty o exortou a renunciar. "Homens como Bernard Law -quem quer que seja, onde quer que esteja-, saiam agora porque vocês não estão aptos a liderar o povo de Deus", afirmou McCafferty em artigo publicado em um jornal local. Pesquisa realizada no mês passado revelou que 90% da população irlandesa considera que a imagem da igreja foi abalada por causa dos escândalos.


Com agências internacionais


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