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Argentina manda Clarín desfazer negócio
Governo considera que grupo de mídia descumpriu exigências para manutenção de fusão de operadoras de TV a cabo
Clarín qualifica decisão como novo episódio de "campanha sistemática de perseguição" da gestão Cristina contra o grupo
Cristina Kichner, presidente da Argentina
SILVANA ARANTES
DE BUENOS AIRES
Em atrito com o Grupo Clarín, maior conglomerado de
mídia argentino, o governo da
presidente Cristina Kirchner
decidiu intervir no negócio que
responde por 61% da receita da
empresa.
Uma resolução assinada pelo
secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, divulgada na noite da última segunda, torna "sem efeito" a fusão
das empresas Cablevisión e
Multicanal, autorizada em
2007 e com a qual o Grupo Clarín conquistou a liderança no
mercado de TV a cabo.
A decisão fixa prazo de 60
dias para que sejam definidas
medidas concretas para o desmembramento da empresa.
A Cablevisión recorrerá à
Justiça para reverter a ordem
oficial, que classificou de "abusiva e arbitrária". Segundo a
empresa afirma em nota, "trata-se de uma decisão eminentemente política, que se inscreve
no marco da campanha sistemática de perseguição que diversos órgãos públicos empreendem contra a empresa e
que fazem parte da escalada de
ataques oficiais e paraoficiais
contra o Grupo Clarín".
Cristina, que já se disse vítima de "fuzilamento midiático"
e alfinetou a linha editorial dos
órgãos de imprensa do Grupo
Clarín, críticos ao seu governo,
adotou neste ano uma série de
medidas que lesam o grupo.
Entre elas, está a Lei de Serviços Audiovisuais, aprovada
pelo Congresso, que impõe limites à atuação das empresas
privadas nos setores de rádio e
TV. De acordo com as novas regras, o Clarín será obrigado a
reduzir seus negócios no mercado de TV.
Exigências
Na fusão da Multicanal, que
pertencia ao Grupo Clarín, com
a Cablevisión, foi investido US$
1,1 bilhão. Com parecer favorável da Comissão de Defesa da
Concorrência, a operação foi
aprovada em 2007.
A aprovação condicionava a
permanência do aval ao negócio a investimentos em expansão e digitalização da rede,
além da prestação de serviço
gratuito a escolas e hospitais e a
cobrança de um valor mais baixo para parcela dos assinantes.
O atendimento a essas exigências deveria ser concretizado num prazo máximo de dois
anos -esgotado na semana
passada. O argumento do governo para suspender a fusão é
que a empresa não cumpriu as
exigências estabelecidas. A resolução, porém, não menciona
especificamente quais foram os
itens descumpridos.
A Cablevisión diz que a conclusão da Secretaria de Comércio Interior "revela um claro
prejulgamento", porque não
houve "tempo hábil" para analisar o relatório de mais de mil
folhas, entregue pela empresa
ao órgão do governo na sexta-feira passada.
O relatório da Cablevisión
apresenta dados com os quais a
empresa afirma ter não apenas
cumprido, mas superado as exigências, tendo investido US$
632 milhões desde então.
Para preparar o documento,
a empresa contratou a consultoria de ex-integrantes da Comissão de Defesa da Concorrência argentina e o parecer de
uma empresa estrangeira.
Procurada pela Folha, a Secretaria de Comércio Interior
afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentaria o assunto.
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