São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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"Seja homem, vista-se de mulher", pede oposição

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A prisão de um líder estudantil que desafiou o regime dos aiatolás deflagrou um novo e criativo protesto contra o governo do Irã: nos últimos dias, centenas de homens começaram a divulgar fotos na internet usando o hijab (véu muçulmano), peça obrigatória para as mulheres sob as rígidas leis da República Islâmica.
A inusitada campanha teve início depois que Majid Tavakoli foi detido por criticar o governo em um ácido discurso na semana passada.
No dia seguinte, a agência de notícias Fars, ligada à poderosa Guarda Revolucionária, divulgou fotos de Tavakoli usando o hijab, afirmando que ele tentava escapar disfarçado de mulher no momento da prisão.
As imagens causaram uma onda de indignação entre os críticos do regime, que acusam as autoridades de ter obrigado o estudante a usar o véu para humilhar a oposição.
Imediatamente, vários sites da internet começaram a receber uma avalanche de fotos de homens usando o hijab, em solidariedade a Tavakoli.
"Seja homem, envie sua foto vestido de mulher", pede um dos mais visitados sites de iranianos expatriados, o Iranian. com. Atendendo ao apelo, centenas de iranianos aparecem com véus de todas as cores.
A maioria usa verde, símbolo dos protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, em junho.
Tavakoli já tinha sido preso diversas vezes por criticar a rigidez da teocracia iraniana. Numa delas, em 2006, ficou detido por 15 meses, após ser acusado de insultar o islã.
Além de um ato visto com o propósito de causar constrangimento, a divulgação das fotos de Tavakoli vestido de mulher tem um significado adicional na narrativa política do Irã pós-Revolução Islâmica.
A agência Fars comparou o episódio ao da fuga de Abolhassan Banisadr, em 1981. Primeiro presidente do Irã após a chegada dos aiatolás ao poder, em 1979, Banisadr teria usado roupas femininas para fugir do país após entrar em confronto com o líder supremo da revolução, o aiatolá Khomeini.
Nos sites usados pelos dissidentes iranianos, muitos dos simpatizantes alegam que seu objetivo é não apenas lutar pela libertação de Tavakoli, mas manifestar solidariedade com as mulheres iranianas, que são obrigadas a seguir o código islâmico de vestimenta em público, além de possuírem menos direitos que os homens.


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