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"Seja homem, vista-se de mulher", pede oposição
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
A prisão de um líder estudantil que desafiou o regime
dos aiatolás deflagrou um novo e criativo protesto contra o
governo do Irã: nos últimos
dias, centenas de homens começaram a divulgar fotos na
internet usando o hijab (véu
muçulmano), peça obrigatória
para as mulheres sob as rígidas
leis da República Islâmica.
A inusitada campanha teve
início depois que Majid Tavakoli foi detido por criticar o governo em um ácido discurso na
semana passada.
No dia seguinte, a agência de
notícias Fars, ligada à poderosa Guarda Revolucionária, divulgou fotos de Tavakoli usando o hijab, afirmando que ele
tentava escapar disfarçado de
mulher no momento da prisão.
As imagens causaram uma
onda de indignação entre os
críticos do regime, que acusam
as autoridades de ter obrigado
o estudante a usar o véu para
humilhar a oposição.
Imediatamente, vários sites
da internet começaram a receber uma avalanche de fotos de
homens usando o hijab, em solidariedade a Tavakoli.
"Seja homem, envie sua foto
vestido de mulher", pede um
dos mais visitados sites de iranianos expatriados, o Iranian.
com. Atendendo ao apelo, centenas de iranianos aparecem
com véus de todas as cores.
A maioria usa verde, símbolo
dos protestos contra a reeleição do presidente Mahmoud
Ahmadinejad, em junho.
Tavakoli já tinha sido preso
diversas vezes por criticar a rigidez da teocracia iraniana.
Numa delas, em 2006, ficou
detido por 15 meses, após ser
acusado de insultar o islã.
Além de um ato visto com o
propósito de causar constrangimento, a divulgação das fotos de Tavakoli vestido de mulher tem um significado adicional na narrativa política do
Irã pós-Revolução Islâmica.
A agência Fars comparou o
episódio ao da fuga de Abolhassan Banisadr, em 1981. Primeiro presidente do Irã após a
chegada dos aiatolás ao poder,
em 1979, Banisadr teria usado
roupas femininas para fugir do
país após entrar em confronto
com o líder supremo da revolução, o aiatolá Khomeini.
Nos sites usados pelos dissidentes iranianos, muitos dos
simpatizantes alegam que seu
objetivo é não apenas lutar pela libertação de Tavakoli, mas
manifestar solidariedade com
as mulheres iranianas, que são
obrigadas a seguir o código islâmico de vestimenta em público, além de possuírem menos direitos que os homens.
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