São Paulo, terça-feira, 18 de janeiro de 2005

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EIXO DO MAL

Pentágono ataca reportagem de Hersh, o mesmo que revelou a tortura em Abu Ghraib, mas não nega a operação

Irã é o próximo alvo dos EUA, diz jornalista

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Os EUA planejam uma operação militar contra o Irã, afirma o premiado jornalista investigativo americano Seymour Hersh em reportagem divulgada ontem no site da revista "The New Yorker". Para tanto, vêm realizando vôos de reconhecimento sobre o país desde junho do ano passado.
"Para seu segundo mandato, [o presidente George W.] Bush tem uma pauta agressiva e ambiciosa contra os mulás, o Irã e outros alvos na atual guerra ao terror", escreve Hersh.
Ele também afirma que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, deve ganhar mais poder e deixar de trocar informações com outras agências do governo. "A CIA continuará a perder espaço e servirá, cada vez mais, como catalisador da política de Bush e do vice-presidente Dick Cheney. Tal processo já está em curso", diz.
Dan Bartlett,diretor de comunicação da Casa Branca, disse à rede de TV CNN que "nem todas as conclusões de Hersh se baseiam em fatos", e o Pentágono apressou-se em contestar a credibilidade da reportagem. "O texto do sr. Hersh está tão repleto de erros sobre fatos fundamentais que a credibilidade da reportagem como um todo acaba destruída", escreveu o porta-voz Lawrence DiRita à imprensa.
Mas, apesar de comparar a reportagem a um "romance sobre uma história alternativa" e de contestar alguns fatos descritos por Hersh -reuniões da Defesa, encontros do subsecretário Douglas Feith com políticos israelenses e o tom de segredo em torno das operações militares-, o comunicado do Pentágono não desmente o núcleo da matéria: a intenção de atacar o Irã. Nem os vôos de reconhecimento já feitos.
"A verdade é que o governo americano quer manter a pressão sobre o Irã. Por isso não houve um desmentido do artigo como um todo", afirmou o general da reserva Donald Shepperd à CNN.
Em uma entrevista concedida ao jornal "The Washington Post" na sexta-feira e publicada anteontem, Bush disse: "Os iranianos -os iranianos reformistas, suspeito- estão muito esperançosos de que os governo dos EUA mantenha firme a crença de que a democracia deva se espalhar. Há lugares onde somos impopulares, mas em outros somos benquistos".
No passado, o presidente incluiu o Irã por diversas vezes em seu "eixo do mal" -países que, a seu ver, representavam uma ameaça nuclear ao mundo: Iraque, Irã e Coréia do Norte.

Evitando vexames
Sempre citando fontes na Defesa, na CIA e no governo, além de analistas políticos e estrategistas, Hersh diz que o foco das missões de reconhecimento tem sido recolher dados sobre o sistema nuclear e os mísseis iranianos.
Com isso, a operação visa evitar o que ocorreu no Iraque -onde as armas de destruição em massa que serviram de motivo para invadir o país nunca foram achadas.
As fontes também descrevem uma complexa rede de cooperação com Paquistão e Israel.
"Os civis no Pentágono querem entrar no Irã e destruir o máximo de infra-estrutura possível," afirma um consultor com laços estreitos com o Pentágono, numa clara alusão a Rumsfeld e a seu sub para questões de inteligência, Stephen Cambone.
"O alvo imediato dos ataques será destruir, ou desorientar temporariamente, a capacidade do Irã de se tornar uma potência nuclear. Mas há outros motivos em jogo. Os falcões do Pentágono pedem um ataque de proporções limitadas, pois no minuto que a aura de invencibilidade dos mulás for abalada, o regime iraniano vai cair", afirma o jornalista.



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