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EIXO DO MAL
Pentágono ataca reportagem de Hersh, o mesmo que revelou a tortura em Abu Ghraib, mas não nega a operação
Irã é o próximo alvo dos EUA, diz jornalista
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Os EUA planejam uma operação militar contra o Irã, afirma o
premiado jornalista investigativo
americano Seymour Hersh em reportagem divulgada ontem no site da revista "The New Yorker".
Para tanto, vêm realizando vôos
de reconhecimento sobre o país
desde junho do ano passado.
"Para seu segundo mandato, [o
presidente George W.] Bush tem
uma pauta agressiva e ambiciosa
contra os mulás, o Irã e outros alvos na atual guerra ao terror", escreve Hersh.
Ele também afirma que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, deve ganhar mais poder e
deixar de trocar informações com
outras agências do governo. "A
CIA continuará a perder espaço e
servirá, cada vez mais, como catalisador da política de Bush e do vice-presidente Dick Cheney. Tal
processo já está em curso", diz.
Dan Bartlett,diretor de comunicação da Casa Branca, disse à rede
de TV CNN que "nem todas as
conclusões de Hersh se baseiam
em fatos", e o Pentágono apressou-se em contestar a credibilidade da reportagem. "O texto do sr.
Hersh está tão repleto de erros sobre fatos fundamentais que a credibilidade da reportagem como
um todo acaba destruída", escreveu o porta-voz Lawrence DiRita
à imprensa.
Mas, apesar de comparar a reportagem a um "romance sobre
uma história alternativa" e de
contestar alguns fatos descritos
por Hersh -reuniões da Defesa,
encontros do subsecretário Douglas Feith com políticos israelenses e o tom de segredo em torno
das operações militares-, o comunicado do Pentágono não desmente o núcleo da matéria: a intenção de atacar o Irã. Nem os
vôos de reconhecimento já feitos.
"A verdade é que o governo
americano quer manter a pressão
sobre o Irã. Por isso não houve
um desmentido do artigo como
um todo", afirmou o general da
reserva Donald Shepperd à CNN.
Em uma entrevista concedida
ao jornal "The Washington Post"
na sexta-feira e publicada anteontem, Bush disse: "Os iranianos
-os iranianos reformistas, suspeito- estão muito esperançosos
de que os governo dos EUA mantenha firme a crença de que a democracia deva se espalhar. Há lugares onde somos impopulares,
mas em outros somos benquistos".
No passado, o presidente incluiu o Irã por diversas vezes em
seu "eixo do mal" -países que, a
seu ver, representavam uma
ameaça nuclear ao mundo: Iraque, Irã e Coréia do Norte.
Evitando vexames
Sempre citando fontes na Defesa, na CIA e no governo, além de
analistas políticos e estrategistas,
Hersh diz que o foco das missões
de reconhecimento tem sido recolher dados sobre o sistema nuclear e os mísseis iranianos.
Com isso, a operação visa evitar
o que ocorreu no Iraque -onde
as armas de destruição em massa
que serviram de motivo para invadir o país nunca foram achadas.
As fontes também descrevem
uma complexa rede de cooperação com Paquistão e Israel.
"Os civis no Pentágono querem
entrar no Irã e destruir o máximo
de infra-estrutura possível," afirma um consultor com laços estreitos com o Pentágono, numa
clara alusão a Rumsfeld e a seu
sub para questões de inteligência,
Stephen Cambone.
"O alvo imediato dos ataques
será destruir, ou desorientar temporariamente, a capacidade do
Irã de se tornar uma potência nuclear. Mas há outros motivos em
jogo. Os falcões do Pentágono pedem um ataque de proporções limitadas, pois no minuto que a aura de invencibilidade dos mulás
for abalada, o regime iraniano vai
cair", afirma o jornalista.
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