São Paulo, quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

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Base de Morales racha sobre Cochabamba

Vice-presidente diz que "governo paralelo" criado por ala mais radical no Estado é ilegítimo; cocaleiros prometem barrar governador

Conselho Departamental, dominado por aliados de Morales, decidirá futuro de Reyes Villa; camponeses também rejeitam junta

DA REDAÇÃO

O vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, afirmou ontem ser ilegítimo um "governo paralelo" formado na madrugada de ontem em Cochabamba, cujo governador faz oposição ao presidente Evo Morales. A formação do governo paralelo evidenciou uma divisão na base de apoio de Morales naquele Estado, onde a crise se estende há dez dias.
"Este governo respeita as autoridades legalmente constituídas mediante o voto democrático", disse García Linera. Um porta-voz da Presidência afirmou que "não reconhece nenhum governador que não seja Manfred Reyes Villa".
Os protestos pela renúncia do governador começaram no último dia 8, após ele anunciar um referendo por maior autonomia do Estado em relação ao governo federal. Na sexta, Reyes Villa desistiu da convocação -seria a segunda votação popular sobre o tema desde julho, quando o "sim" perdeu em Cochabamba e em mais quatro dos nove Estados bolivianos. Mas os protestos seguiram.
O governo paralelo, formado por 15 representantes de diversos setores e liderado pelo ex-guerrilheiro Tiburcio Herrada Lamas, também não foi reconhecido pela direção da federação de camponeses.
O líder agrário Daniel Claros afirmou que os camponeses continuam mobilizados pela renúncia do governador, mas que aguardam decisão do Conselho Departamental. O conselho se reuniu ontem em sessão convocada por Johnny Ferrel, governador interino -Reyes Villa, que diz "temer por sua vida", estava no Estado de Santa Cruz e, segundo o jornal "El Deber", voltou ontem a Cochabamba -capital do Estado de mesmo nome.
O conselho, que age como organismo fiscalizador do poder governamental, deveria decidir sobre o futuro do governador. Dos 23 conselheiros, 19 são do MAS (Movimento ao Socialismo), partido de Morales. Até a conclusão desta edição, não havia informação sobre a reunião.

Governo paralelo
A decisão de criar um governo "popular revolucionário" foi tomada na madrugada de ontem, na presença de menos de mil pessoas, e contrariou a deliberação de um "cabildo", ou assembléia popular, realizado algumas horas antes em Cochabamba, no qual estavam presentes 30 mil manifestantes.
O cabildo havia pedido a renúncia de Reyes Villa e outorgado o mandato aos conselheiros departamentais para que eles elegessem um novo governador por vias legais.
Reyes Villa afirmou ontem que "não pode nem deve renunciar", pois é "uma autoridade eleita democraticamente", e disse estar disposto a convocar um referendo para saber se deve permanecer no cargo.
Claros afirmou que "não vão deixá-lo entrar" na sede do governo porque "ele já não é mais governador". Para o líder camponês, o fato de Reyes Villa estar "ausente da cidade há mais de uma semana não dá direito" a ele de voltar ao governo.
Os cocaleiros esperavam ontem por uma decisão dos líderes para saber se continuavam os protestos.


Com agências internacionais


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