São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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HAITI EM RUÍNAS

Equipes salvam três em ruínas de mercado

Número de haitianos resgatados com vida dos escombros em Porto Príncipe chega a 70, segundo as Nações Unidas

Em operação de salvamento que durou todo o dia de ontem, bombeiros dos EUA ainda tentavam retirar dois sobreviventes das ruínas


JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A PORTO PRÍNCIPE

Cinco dias após o terremoto que atingiu Porto Príncipe, uma operação de resgate retirou três sobreviventes que estavam presos nos escombros do supermercado Caribbean. Até o fechamento desta edição, 65 bombeiros da Flórida (EUA) ainda tentavam resgatar um homem e uma mulher que permaneciam no local.
Na noite de sábado para domingo, os bombeiros conseguiram retirar uma menina de sete anos e um homem de 34 das ruínas, segundo o porta-voz da equipe americana South Florida Urban Research and Rescue, Charles McDermott.
A operação de salvamento se estendeu durante todo o dia. No começo da manhã de ontem, os bombeiros resgataram uma mulher de 50 anos. O cunhado dela, Fadel Almaghabi, passou no local durante a tarde para agradecer a equipe de resgate e, com os olhos vermelhos, ele abraçou o bombeiro que a salvou. Ela seguiu viagem ontem para Miami.
"Ela está muito bem. Durante todo o tempo manteve a esperança de sair de lá. Estava havia cinco dias sem água e sem comida em uma área muito pequena. Ela mal podia se mover", afirmou Almaghabi, acrescentando que, que durante todo o tempo, acreditou que sua cunhada estivesse viva.
Segundo McDermott, a equipe de resgate conta com um tradutor para falar em francês crioulo com o homem e a mulher que permaneciam sob os escombros. O homem está preso pelo pé e não consegue se mexer. "Estamos tão próximos deles que pudemos colocar uma câmera especial. Eles conseguem ver a luz da câmera, mas ainda não conseguem nos ver", disse.
As vítimas estão no terceiro andar. Para chegar até lá, é preciso se arrastar de barriga até o local. Durante a tarde, houve um momento de pânico. Os bombeiros saíram correndo, tirando máscaras. Já na rua, eles se abraçaram e iniciaram a contagem para verificar se todos tinham conseguido sair. A operação foi interrompida porque o teto começou a ceder. Segundo McDermott, há risco de que o prédio todo desabe.
A rua foi fechada com um cordão de isolamento fiscalizado pela polícia. Do outro lado, um grupo de cerca de 50 haitianos aguardava o fim da operação para tentar entrar nos escombros e pegar comida. Do lado de fora do prédio era possível ver os produtos nos andares mais altos. Segundo os bombeiros, o local deve ser demolido após o fim da operação. O objetivo é evitar que mais haitianos morram sob os escombros, uma vez que há grande risco de novo desabamento.

Outros resgates
A ONU -cuja sede em Porto Príncipe ficou destruída- anunciou que o dinamarquês Jen Kristensen, membro da Minustah, foi encontrado sem ferimentos ontem. Equipes também retiraram uma mulher dos escombros do prédio de uma universidade na capital. E uma das proprietárias do Hotel Montana, Nadine Cardoso, foi resgatada do que sobrou do edifício, que abrigava altos funcionários da missão.
Os sobreviventes se somam aos 70 que, segundo a ONU, haviam sido salvos por 43 equipes internacionais, com 1.739 socorristas e 161 cães farejadores.
Os grupos chegaram a 60% das regiões mais afetadas pelo terremoto. "O moral das equipes segue muito alto, apesar das dificuldades e das condições", disse, em Genebra, a porta-voz da agência humanitária da ONU, Elisabeth Byrs.
Não se sabe o número de mortos na tragédia. Até ontem, autoridades haitianas falavam em 100 mil a 200 mil. O braço pan-americano da OMS estimava as mortes em 50 mil a 100 mil, número que "parece ser o mínimo", segundo o premiê haitiano, Jean-Max Bellerive.
Em visita à capital haitiana, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que "esta é uma das piores crises humanitárias em décadas".


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