São Paulo, quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

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Obama envia mais 17 mil soldados para Afeganistão

Aumento emergencial eleva total americano para 55 mil e não representa a decisão definitiva sobre estratégia de ocupação

Anúncio ocorre no mesmo dia em que relatório da ONU aponta aumento de 40% de mortes civis no país em 2008, em relação a 2007

Rahmat Gul/Associated Press
Afegão passa por pôster de recrutamento das Forças Armadas do país em Jalalabad

DA REDAÇÃO

O presidente Barack Obama anunciou ontem o envio de mais 17 mil soldados ao Afeganistão, elevando para 55 mil o total de tropas dos EUA no país da Ásia Central. Em comunicado, ele disse que a medida "não pré-determina" a revisão da estratégia de ocupação do território afegão, que seu governo vem levando a cabo.
O anúncio, assinalou "The New York Times", representa a opção por um meio-termo frente ao pedido de urgência de até mais 30 mil soldados feito pelo Departamento de Defesa e pela cúpula militar americana no Afeganistão.
Ao mesmo tempo em que atende a reivindicação, Obama adia a decisão definitiva sobre o futuro da estratégia americana -que depende da definição de objetivos militares e políticos "realistas", como frisa o secretário da Defesa, Robert Gates.
O anúncio ocorreu no mesmo dia em que a Unama (missão da ONU para o Afeganistão) divulgou um relatório em que aponta aumento de 40% nas mortes de civis no país no ano passado, em relação a 2007. Foram 2.118 os mortos, o saldo mais elevado desde a invasão americana, em 2001. Em 2007, morreram 1.523.
Os números da ONU revelam a deterioração das condições de segurança a seis meses das eleições presidenciais afegãs. O anúncio de Obama vai ao encontro da sua intenção de fazer do país o foco principal do combate ao terrorismo -no comunicado, ele criticou indiretamente o governo de seu antecessor, George W. Bush, ao dizer que o Afeganistão "não recebeu a atenção nem os recursos" necessários.

Desviadas do Iraque
Segundo o Pentágono, os EUA mantêm hoje 38 mil soldados no Afeganistão, 23 mil deles sob comando da Otan, a aliança militar ocidental - cujos países têm em conjunto 55 mil soldados no país asiático (serão 72 mil com o reforço anunciado ontem).
Os novos efetivos anunciados por Obama são 12 mil combatentes do Exército e dos Fuzileiros Navais e 5.000 soldados de apoio. Eles fazem parte de duas brigadas que iriam substituir tropas no Iraque, de onde o presidente promete retirar a maior parte dos atuais 135 mil soldados dos EUA.
Autoridades americanas admitem que a medida pode causar mais baixas civis num primeiro momento -motivo de constante atrito entre o presidente afegão, Hamid Karzai, e autoridades americanas.

Mortes civis
De acordo com o relatório da Unama, 1.160 (55%) das 2.118 mortes civis foram decorrentes de ações da insurgência liderada pelo grupo radical islâmico Taleban, desalojado do poder pelos EUA em 2001, no pós-11 de Setembro. As tropas ocidentais -Otan e os EUA- foram responsáveis por 829 mortes (39%), 552 das quais em consequência de ataques aéreos.
O documento diz ainda que a maior parte das mortes ocorreu nas regiões sul (872) e sudeste (417), áreas em que os insurgentes vêm ganhando terreno. O avanço já ameaça a capital Cabul, até então uma ilha de relativa segurança, onde três ataques simultâneos mataram 20 pessoas há uma semana.
Outro destaque do relatório é o pico de mortes ocorrido em julho e agosto, em que morreram mais de 600 civis (323 e 341, respectivamente), em contraste com números na casa dos cem nos demais meses.
O porta-voz da Otan, Martin O'Donnell, disse que em setembro foram adotadas medidas para reduzir mortes de civis, entre as quais não pedir reforço aéreo em áreas povoadas.
As mortes civis de autoria dos insurgentes foram decorrentes sobretudo de bombas em estradas, carros-bomba e ataques suicidas, como os realizados em Cabul. A autoria de outras 130 mortes não pôde ser estabelecida por terem ocorrido em meio a fogo cruzado.

Com "New York Times" e agências internacionais


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