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Camboja julga chefe de campo da morte
Kaing Guek Eav é o primeiro dirigente do regime do Khmer Vermelho, nos anos 70, levado a tribunal
DA ASSOCIATED PRESS
O chefe de uma prisão na
qual cerca de 16 mil homens,
mulheres e crianças foram torturados e mortos apareceu ontem diante do tribunal do Camboja que julga acusados de genocídio. É o primeiro julgamento de envolvidos no regime
do Khmer Vermelho, grupo
maoísta que tomou o poder em
1975 e foi derrubado por uma
invasão vietnamita, em 1979.
Kaing Guek Eav, o Duch, é
acusado de crimes contra a humanidade e é o primeiro de cinco réus que devem ser submetidos a julgamentos, longamente
adiados, pelo tribunal especial,
que tem a assistência da ONU.
O regime do Khmer -que no
tabuleiro da Guerra Fria tinha
o apoio dos EUA e da China,
mas não da União Soviética-,
esvaziou as cidades para "reeducar" no trabalho rural população escolarizada. Converteu o
Camboja num cemitério coletivo no qual pelo menos 1,7 milhão de pessoas morreram de
fome, doenças e executadas.
Duch, 66, que chefiou a prisão S-21 do Khmer Vermelho,
na capital, Phnom Penh, é o
único dos réus a ter expressado
remorso. "Duch quer pedir o
perdão das vítimas e também
do povo cambojano", disse seu
advogado. A audiência de ontem fixou o cronograma do julgamento, que deverá começar
no final de março.
"Não sou apenas eu quem
quer justiça hoje. O povo cambojano todo vem esperando
por isso há 30 anos", disse Vann
Nath, um dos menos de 20 sobreviventes da S-21, que assistiu à audiência com mais 500
pessoas. Vann, que sobreviveu
por pintar e esculpir retratos
do líder do Khmer, Pol Pot
(1925-1998), descreveu Duch
como "um homem cruel".
"Esta audiência representa a
concretização de esforços para
criar um tribunal justo e independente", disse o juiz Nil
Nonn. Mas o tribunal já atraiu
críticas. Seus procedimentos,
muito lentos, vêm sofrendo ingerência política do governo e
têm sido acusados de parcialidade e escassez de verbas.
Alguns observadores acreditam que o premiê Hun Sen
-ele próprio ex-oficial do
Khmer Vermelho, depois dissidente- esteja controlando o
âmbito de ação do tribunal.
Os outros quatro que enfrentarão julgamento são Khieu
Samphan, o ex-chefe de Estado
do grupo; Ieng Sary, seu ministro das Relações Exteriores;
sua mulher Ieng Thirigh, que
foi ministra de Assuntos Sociais, e Nuon Chea, o ideólogo-chefe do movimento.
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