São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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Investigação entra em "fase decisiva"

JULIO GOMES FILHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM MADRI

O governo espanhol anunciou ontem que as investigações sobre os atentados terroristas que deixaram 201 mortos em Madri, há uma semana, entraram numa "fase decisiva".
A declaração foi dada pelo ministro do Interior, Ángel Acebes -o mesmo que, no dia dos ataques, atribuíra a autoria deles ao grupo terrorista basco ETA.
Acebes não deu detalhes sobre esse estágio dos trabalhos, segundo ele para não prejudicar o andamento das investigações.
O ministro também anunciou um plano de medidas antiterror em resposta aos atentados. A vigilância será reforçada em lugares que recebem grande número de civis, como aeroportos, estações de trem e praças esportivas. Além disso, será aumentada a proteção policial a "objetivos estratégicos" do país.
Acebes justificou a adoção do plano dizendo que "é necessário adotar medidas de prevenção diante da maior ameaça à democracia atualmente".

Alfinetada política
O governo avisou ontem que permanece o risco terrorista na Espanha e que o plano de segurança não foge do que já é colocado em prática por outros países da União Européia.
As medidas antiterror na Espanha significam um controle rígido das fronteiras terrestres e marítimas pelas Forças Armadas e um intercâmbio maior de informações entre as polícias das regiões autônomas e os serviços de inteligência nacionais.
O plano foi acertado com o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que ganhou as eleições gerais no último domingo e assumirá o comando da política espanhola já no mês que vem.
Apesar do acordo entre os partidos, no entanto, o futuro primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero, aproveitou uma entrevista para alfinetar os adversários políticos -o Partido Popular, do premiê José María Aznar, acusado de manipular informações sobre os atentados para evitar prejuízos eleitorais.
"O modelo de segurança espanhol é deficitário em matéria de coordenação policial. É necessário criar um modelo novo, mais eficiente, que faça frente ao terrorismo", disse Zapatero à rádio Onda Cero.

Procurados são 20
A polícia segue buscando marroquinos suspeitos de participação na ação em Madri. Segundo o jornal "El Mundo", não são só cinco os marroquinos procurados, como havia dito o governo anteontem, mas sim 20.
Outros três marroquinos estão presos, além de um argelino, que teve sua detenção prolongada por mais 48 horas pelo juiz Baltasar Garzón.
Jamal Zougam, um dos detidos e que faria parte de grupos radicais islâmicos desde 1993, depôs ontem e disse que por cima dele "só está Deus".
O marroquino teria sido o responsável pela compra dos cartões telefônicos dos celulares conectados aos detonadores das bombas que explodiram em quatro trens, na quinta-feira passada.
Pessoas ligadas a Zougam estão sendo investigadas por toda a Espanha, inclusive em Barcelona. Foi exatamente na Catalunha que um "fórum" de terroristas islâmicos foi realizado oito dias antes dos atentados terroristas nos EUA em 11 de setembro de 2001.
O jornal catalão "El Periodico" afirmou que a polícia de Barcelona lançou uma grande operação de busca na comunidade norte-africana da cidade.
Apesar de a pista marroquina ser a mais forte até agora, no entanto, fontes policiais afirmaram que o mundo radical islâmico é muito complexo e uma combinação entre vários grupos poderia ter articulado os atentados em Madri.


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