São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2010

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Líder brasileiro é alvo de tietagem palestina

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH

Lula recebeu tratamento de popstar ontem em Ramallah, com direito a coro organizado, agarrões e histeria coletiva. Os palestinos retribuíram o ardente apoio dado pelo presidente brasileiro a sua luta por um Estado independente com manifestações de tietagem explícita.
Para ver Lula de perto, cerca de 200 pessoas se aglomeraram em volta de um pequeno palco montado para a inauguração da rua Brasil, um modesto trecho mal asfaltado bem em frente à sede do governo palestino. Estima-se que haja cerca de 2.000 brasileiros na Cisjordânia.
E o presidente não decepcionou a plateia, formada por pessoas vindas de várias partes da Cisjordânia, quase todas com alguma ligação com o Brasil, além da afetiva. Logo na abertura de seu discurso, Lula disse que estava feliz em estar pela primeira vez "naquele país", levando os fãs ao delírio.
A paulistana Fadah Thum, há dez anos morando em território palestino, organizou um grupo de 40 pessoas de Al Mazra'a Al Sharqia, conhecida como a "aldeia brasileira" da Cisjordânia. Durante o discurso, puxou o coro para Lula, trocou acenos com o presidente e foi a primeira a abraçá-lo quando se formou o enorme tumulto no fim da cerimônia.
"Fiquei emocionada, porque foi uma homenagem muito bonita do presidente a um povo muito sofrido", disse Fadah, que está escrevendo sua tese de pós-graduação na universidade palestina de Bir Zeit sobre a política brasileira em relação à causa palestina desde 1948.
Entre os cartazes exibidos pela plateia, muitos exaltavam a amizade entre brasileiros e palestinos. Outros pediam que Lula intercedesse a favor da causa palestina. Mustafa Dahl, técnico de futebol originário de São Paulo, que mora em Beitunia, ao lado de Ramallah, disse que há missões mais difíceis.
"Acho mais fácil fazer a paz do que ensinar futebol aos palestinos", brincou Dahl.
Mas embora a simpatia pelo presidente tenha sido unânime, havia vozes pragmáticas quanto a sua pretensão de ter papel mediador no conflito. "A intenção é boa, mas só nós podemos resolver nossos problemas", disse Fathi Abu Moghli, ministro da Saúde palestino.
Quando a rua já estava inaugurada e o presidente já depositava flores no túmulo do histórico presidente palestino Iasser Arafat, dezenas de pessoas ainda se espremiam diante do portão fechado, implorando para entrar no local.
Vestido com um gasto mas elegante terno azul turquesa e uma kefiah branca na cabeça, o tradicional lenço árabe, o agricultor Khader Joseph foi o primeiro a chegar à rua Brasil, quase duas horas antes da cerimônia. Nascido na Cisjordânia, Joseph viveu 20 de seus 78 anos no Rio Grande do Sul, na década de 1970.
"Aprendi a ser brasileiro e tinha de estar aqui para ver o presidente", disse Joseph, elogiando o apoio explícito de Lula à causa palestina. "Seremos eternamente agradecidos."


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