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Líder brasileiro é alvo de tietagem palestina
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
Lula recebeu tratamento de
popstar ontem em Ramallah,
com direito a coro organizado,
agarrões e histeria coletiva. Os
palestinos retribuíram o ardente apoio dado pelo presidente
brasileiro a sua luta por um Estado independente com manifestações de tietagem explícita.
Para ver Lula de perto, cerca
de 200 pessoas se aglomeraram
em volta de um pequeno palco
montado para a inauguração da
rua Brasil, um modesto trecho
mal asfaltado bem em frente à
sede do governo palestino. Estima-se que haja cerca de 2.000
brasileiros na Cisjordânia.
E o presidente não decepcionou a plateia, formada por pessoas vindas de várias partes da
Cisjordânia, quase todas com
alguma ligação com o Brasil,
além da afetiva. Logo na abertura de seu discurso, Lula disse
que estava feliz em estar pela
primeira vez "naquele país", levando os fãs ao delírio.
A paulistana Fadah Thum, há
dez anos morando em território palestino, organizou um
grupo de 40 pessoas de Al Mazra'a Al Sharqia, conhecida como a "aldeia brasileira" da Cisjordânia. Durante o discurso,
puxou o coro para Lula, trocou
acenos com o presidente e foi a
primeira a abraçá-lo quando se
formou o enorme tumulto no
fim da cerimônia.
"Fiquei emocionada, porque
foi uma homenagem muito bonita do presidente a um povo
muito sofrido", disse Fadah,
que está escrevendo sua tese de
pós-graduação na universidade
palestina de Bir Zeit sobre a política brasileira em relação à
causa palestina desde 1948.
Entre os cartazes exibidos
pela plateia, muitos exaltavam
a amizade entre brasileiros e
palestinos. Outros pediam que
Lula intercedesse a favor da
causa palestina. Mustafa Dahl,
técnico de futebol originário de
São Paulo, que mora em Beitunia, ao lado de Ramallah, disse
que há missões mais difíceis.
"Acho mais fácil fazer a paz
do que ensinar futebol aos palestinos", brincou Dahl.
Mas embora a simpatia pelo
presidente tenha sido unânime, havia vozes pragmáticas
quanto a sua pretensão de ter
papel mediador no conflito. "A
intenção é boa, mas só nós podemos resolver nossos problemas", disse Fathi Abu Moghli,
ministro da Saúde palestino.
Quando a rua já estava inaugurada e o presidente já depositava flores no túmulo do histórico presidente palestino Iasser
Arafat, dezenas de pessoas ainda se espremiam diante do portão fechado, implorando para
entrar no local.
Vestido com um gasto mas
elegante terno azul turquesa e
uma kefiah branca na cabeça, o
tradicional lenço árabe, o agricultor Khader Joseph foi o primeiro a chegar à rua Brasil,
quase duas horas antes da cerimônia. Nascido na Cisjordânia,
Joseph viveu 20 de seus 78
anos no Rio Grande do Sul, na
década de 1970.
"Aprendi a ser brasileiro e tinha de estar aqui para ver o
presidente", disse Joseph, elogiando o apoio explícito de Lula
à causa palestina. "Seremos
eternamente agradecidos."
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