São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2011

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ONDA DE REVOLTAS

ONU aprova uso da força contra Gaddafi

Brasil se abstém de resolução do Conselho de Segurança que estabelece uma zona de exclusão aérea na Líbia

Ditador se preparava para ofensiva final contra rebeldes no leste do país; invasão por terra é descartada

ÁLVARO FAGUNDES
DE NOVA YORK

Sem o voto do Brasil, o Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas aprovou ontem uma resolução que abre caminho para uma ação armada contra o ditador da Líbia, Muammar Gaddafi.
O governo brasileiro se absteve na decisão de autorizar "todas as medidas necessárias" contra Gaddafi, que se preparava para esmagar rebelião no leste do país.
Votaram favoravelmente 10 dos 15 membros do organismo. Rússia, China (que têm poder de veto), Alemanha e Índia adotaram a mesma atitude brasileira.
Entre as ações aprovadas está a criação de zona de exclusão aérea para evitar ataques da aviação do ditador, há 41 anos no poder. Para que seja respeitada, é preciso bombardear peças de artilharia de Gaddafi em solo.
A expectativa era que os ataques, liderados por EUA, Reino Unido e França, pudessem começar poucas horas depois da votação. Até a 0h de hoje, porém, isso não havia ocorrido.
Havia relatos de que a força aérea britânica já estaria preparada para agir. O Canadá, segundo a rede local CTV, pretende enviar seis caças para ajudar na aplicação da zona de exclusão aérea.
Segundo a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, a criação da zona de exclusão aérea vai exigir o ataque a alvos no território líbio. "Ela exige certas ações para proteger os aviões e os pilotos", afirmou, na Tunísia.
O texto da resolução abre espaço para todo tipo de ação militar para a proteção da população líbia, "com exceção de uso de forças de ocupação". Ou seja, uma invasão por terra, que seria mais polêmica, foi descartada, o que contribuiu para evitar um veto à resolução.
Entre as opções estudadas há alvos militares e de defesa aérea, além do uso de aviões para atacar tanques e infantarias ligadas a Gaddafi.
A partir de agora, todos os voos estão vetados na Líbia, com exceção dos que levarem ajuda humanitária ou retirarem estrangeiros do país.

EFEITOS INVOLUNTÁRIOS
A embaixadora brasileira, Maria Luiza Viotti, justificou a abstenção dizendo que o país não está convencido de que o uso de força, como previsto no texto, levará ao fim imediato da violência.
Disse que ele poderá levar a "efeitos involuntários" de exacerbar as tensões e "fazer mais mal que bem" aos civis. Segundo Viotti, porém, o voto "não deve de maneira alguma ser interpretado como endosso do comportamento das autoridades líbias".
O voto brasileiro vai contra a expectativa de mudança na política externa do país sobre os direitos humanos, esboçada na relação com o Irã.
O apoio da Liga Árabe (grupo de 22 países) à resolução foi considerado decisivo para a sua aprovação.
Washington não queria entrar em uma ação que tivesse a oposição dos vizinhos da Líbia e estava reticente em relação à eficácia da zona de exclusão aérea.
O discurso de Gaddafi, horas antes da votação, dizendo que não haverá "perdão" para quem, em Benghazi (capital rebelde), não se rendesse ontem às suas tropas, também foi visto como um incentivo para a aprovação. "Não haverá mais medo, não haverá mais hesitação, a hora da verdade chegou", disse.
Já o Ministério da Defesa líbio promete retaliar caso as tropas pró-Gaddafi sejam alvo de ataque estrangeiro.
"Qualquer ação contra a Líbia vai expor todo o tráfego aéreo e naval no mar Mediterrâneo ao perigo e [instalações] civis e militares serão alvo de contra-ataques", disse comunicado do governo.
Em Benghazi, os rebeldes festejaram nas ruas, com fogos de artifício, a aprovação da resolução pela ONU.


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