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Obama propõe "novo começo" a Cuba
Na abertura da Cúpula das Américas, presidente americano prossegue xadrez de reaproximação com inimigo da Guerra Fria
Como Raúl Castro, ele diz querer diálogo direto, mas não "falar por falar"; aos vizinhos, diz que EUA não podem ser culpados de tudo
Kevin Lamarque/Reuters
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No discurso à cúpula regional, Obama disse que EUA mudaram
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A PORT OF SPAIN
O animado xadrez político-diplomático que virou a distensão das relações entre EUA e
Cuba, congeladas por quase
meio século, ganhou lances decisivos nas últimas horas e dominou a abertura da 5ª Cúpula
das Américas, ontem em Trinidad e Tobago. Em discurso na
abertura da cerimônia, Barack
Obama disse que os Estados
Unidos buscavam "um novo começo" com Cuba.
"Eu sei que há uma longa jornada que precisa ser percorrida
para ultrapassar décadas de
desconfiança, mas há passos
críticos que nós podemos tomar em direção a um novo dia",
afirmou. "Eu já mudei políticas
em relação a Cuba que fracassaram em avançar a liberdade
do povo cubano", continuou,
referindo-se à recente decisão
de liberar viagens, remessa de
dinheiro e comunicações entre
cubano-americanos e seus parentes na ilha caribenha.
Em resposta à declaração da
véspera de Raúl Castro, que se
disse disposto a conversar sobre "tudo" com os EUA, ele
afirmou: "Deixe-me ser claro:
não estou interessado em falar
apenas por falar. Mas eu acredito que nós podemos levar a relação entre EUA e Cuba para
uma nova direção."
Sênior e júnior
Antes, repetiu o que havia dito dois dias antes sobre a relação entre EUA e Brasil, dessa
vez se referindo a todo o continente. "Não há parceiro sênior
e parceiro júnior em nossas relações; há simplesmente engajamento baseado em respeito
mútuo, interesses comuns e valores compartilhados", disse.
Em tom conciliatório, Obama pediu que os países olhassem adiante e deixassem de ser
"prisioneiros de desacordos
passados": "Muito frequentemente, a oportunidade para
construir uma nova parceria
nas Américas tem sido minada
por debates falsos".
São falsos argumentos, disse
o democrata. "Eles nos levaram
a fazer a falsa escolha entre
uma economia rígida e estatal e
um capitalismo sem regras
nem limites; entre culpar os paramilitares de direita e os insurgentes de esquerda; entre
insistir em políticas inflexíveis
em relação a Cuba e negar os direitos humanos completos que
são devidos ao povo cubano."
Obama foi o quarto líder a
discursar, depois de Cristina
Kirchner (Argentina), Daniel
Ortega (Nicarágua) e Dean Barrow (Belize). Em sua apresentação aos 33 líderes da região,
ele se desviou do discurso previamente preparado para rebater críticas do nicaraguense,
que atacou as "políticas colonialistas" dos EUA.
Primeiro, brincou: "Agradeço o presidente Ortega, que não
me culpou de coisas que aconteceram quando eu tinha três
meses", disse, referindo-se à invasão da baía dos Porcos, em
Cuba, em 1961.
Depois, emendou: "Os Estados Unidos mudaram, como
minha presença aqui indica.
Não foi sempre fácil, mas mudaram. Mas não são só os EUA
que têm de mudar. Todos temos responsabilidade de olhar
para o futuro. A política dos
EUA não deveria ser se meter
nos assuntos dos outros países.
Mas não podemos culpar os
EUA por tudo de ruim que
acontece na região".
A fala de Obama segue a cartilha da política externa pragmática que ele tenta implantar
em relação a países como Irã e
Rússia. Além disso, ao jogar o
olhar para adiante, o democrata se distancia de uma decisão
que já havia sido tomada quando nasceu -ele é de 1961; o congelamento das relações EUA-Cuba começou em 1960.
O momento é historicamente bom. Pela primeira vez, o secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, cogita acabar com a suspensão de
Cuba da entidade, em vigor há
47 anos. Também o bloco econômico-político Caricom, que
congrega os países do Caribe, se
propôs a mediar negociações
entre EUA e Cuba.
Segundo disseram assessores
obamistas à Folha, nada está
fora da mesa dos EUA, nem um
alívio progressivo do embargo,
nem a designação de um "enviado especial" para negociar
com o regime dos Castro, nos
moldes dos que atuam hoje no
Oriente Médio.
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