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Ainda dividida, conferência sobre racismo aprova texto consensual
Documento orientará encontro, que começa segunda; EUA e Israel relutam em participar
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
Com o Irã isolado na insistência de manter trechos explosivos no texto, foi aprovado
ontem o documento que servirá de base para a Conferência
Mundial contra o Racismo da
ONU, que começa na segunda-feira em Genebra.
Mesmo com o consenso preliminar, o encontro promete
ter altas doses de polêmica, a
começar pela presença do presidente iraniano, Mahmoud
Ahmadinejad, um dos cinco
chefes de Estado confirmados.
Itália, Canadá e EUA ameaçaram se juntar a Israel no boicote à conferência, por temer
que ela se transforme em um
fórum de ataques antissemitas.
A comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay,
manifestou esperança de que a
nova versão do texto convença
os EUA e os demais países relutantes a participar.
Numa sintonia raramente
observada em discussões sobre
direitos humanos, negociadores da ONU, dos países-membros e de organizações não governamentais festejaram o
acordo obtido ontem. "Estou
muito feliz porque conseguimos um texto por consenso",
disse Pillay. "É uma grande
conquista."
O documento mantém a
menção ao Holocausto rejeitada pelo Irã e exclui o conceito
de "difamação de religiões",
uma reivindicação dos países
islâmicos que foi contornada
com uma formulação proposta
pelo Brasil. A saída encontrada
foi condenar os ataques por
motivos religiosos, mas destacar que o foco da proteção deve
ser às pessoas, e não aos credos.
Depois de ter tido uma participação decisiva na negociação
do documento, o Brasil também terá destaque durante o
encontro da próxima semana,
que fará a revisão da Conferência contra Discriminação Racial de Durban, de 2001.
O relator será o brasileiro
Iradj Roberto Eghrari, diretor-executivo da ONG Ágere-Cooperação em Advocacy. Ele será
responsável pela preparação do
relatório final da conferência.
Eghrari considerou um bom
começo o consenso obtido em
torno do documento, mas prevê que ele não impedirá tentativas de países de reabrir alguns
pontos quando a conferência
começar. Trinta e dois ministros têm presença confirmada,
entre eles o brasileiro Édson
Santos, da Igualdade Racial.
Para evitar uma repetição da
primeira conferência, quando
israelenses e americanos se retiraram no meio das discussões, foram removidas do texto
todas as menções ao conflito no
Oriente Médio. Navi Pillay se
mostrou confiante de que o documento será aprovado sem as
controvérsias ocorridas na
África do Sul, em 2001.
"Ficarei muito surpresa se o
texto for reaberto", disse a comissária, ex-juíza da Suprema
Corte sul-africana. Pillay disse
que não está preocupada com a
ameaça de alguns países de se
retirarem da conferência caso
Ahmadinejad repita as declarações contra Israel ou volte a negar o Holocausto. "O importante é o documento, e o que ele
pode fazer pelos milhões que
sofrem com a discriminação racial no mundo", ela disse.
Organizações de direitos humanos também minimizaram
o possível impacto negativo da
presença de Ahmadinejad na
segunda, justamente o dia em
que a ONU marca o Dia do Holocausto, que neste ano coincide com o aniversário de Adolf
Hitler. "Pode ser uma oportunidade para ele prestar contas
pelas violações cometidas em
seu país", disse Julie Rivero, da
Human Rights Watch.
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