São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ainda dividida, conferência sobre racismo aprova texto consensual

Documento orientará encontro, que começa segunda; EUA e Israel relutam em participar

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Com o Irã isolado na insistência de manter trechos explosivos no texto, foi aprovado ontem o documento que servirá de base para a Conferência Mundial contra o Racismo da ONU, que começa na segunda-feira em Genebra.
Mesmo com o consenso preliminar, o encontro promete ter altas doses de polêmica, a começar pela presença do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, um dos cinco chefes de Estado confirmados.
Itália, Canadá e EUA ameaçaram se juntar a Israel no boicote à conferência, por temer que ela se transforme em um fórum de ataques antissemitas. A comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, manifestou esperança de que a nova versão do texto convença os EUA e os demais países relutantes a participar.
Numa sintonia raramente observada em discussões sobre direitos humanos, negociadores da ONU, dos países-membros e de organizações não governamentais festejaram o acordo obtido ontem. "Estou muito feliz porque conseguimos um texto por consenso", disse Pillay. "É uma grande conquista."
O documento mantém a menção ao Holocausto rejeitada pelo Irã e exclui o conceito de "difamação de religiões", uma reivindicação dos países islâmicos que foi contornada com uma formulação proposta pelo Brasil. A saída encontrada foi condenar os ataques por motivos religiosos, mas destacar que o foco da proteção deve ser às pessoas, e não aos credos.
Depois de ter tido uma participação decisiva na negociação do documento, o Brasil também terá destaque durante o encontro da próxima semana, que fará a revisão da Conferência contra Discriminação Racial de Durban, de 2001.
O relator será o brasileiro Iradj Roberto Eghrari, diretor-executivo da ONG Ágere-Cooperação em Advocacy. Ele será responsável pela preparação do relatório final da conferência.
Eghrari considerou um bom começo o consenso obtido em torno do documento, mas prevê que ele não impedirá tentativas de países de reabrir alguns pontos quando a conferência começar. Trinta e dois ministros têm presença confirmada, entre eles o brasileiro Édson Santos, da Igualdade Racial.
Para evitar uma repetição da primeira conferência, quando israelenses e americanos se retiraram no meio das discussões, foram removidas do texto todas as menções ao conflito no Oriente Médio. Navi Pillay se mostrou confiante de que o documento será aprovado sem as controvérsias ocorridas na África do Sul, em 2001.
"Ficarei muito surpresa se o texto for reaberto", disse a comissária, ex-juíza da Suprema Corte sul-africana. Pillay disse que não está preocupada com a ameaça de alguns países de se retirarem da conferência caso Ahmadinejad repita as declarações contra Israel ou volte a negar o Holocausto. "O importante é o documento, e o que ele pode fazer pelos milhões que sofrem com a discriminação racial no mundo", ela disse.
Organizações de direitos humanos também minimizaram o possível impacto negativo da presença de Ahmadinejad na segunda, justamente o dia em que a ONU marca o Dia do Holocausto, que neste ano coincide com o aniversário de Adolf Hitler. "Pode ser uma oportunidade para ele prestar contas pelas violações cometidas em seu país", disse Julie Rivero, da Human Rights Watch.


Texto Anterior: EUA endossam plano de paz da Liga Árabe
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.