São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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GUERRA CIVIL

Pelo menos duas centenas já morreram em combates na última semana; candidato cancela viagem após ameaça

Colômbia amplia guerra antes de eleição

France Presse
Soldado colombiano observa cadáveres de guerrilheiros e paramilitares perto de Campamento


DA REDAÇÃO

O recrudescimento da guerra civil na Colômbia, faltando pouco mais de uma semana para as eleições presidenciais, já deixou mais de duas centenas de mortos somente na última semana.
No município de Campamento, no Departamento (Estado) de Antioquia (noroeste do país), confrontos entre guerrilheiros de esquerda, paramilitares de direita e o Exército desde a terça-feira teriam deixado pelo menos 130 mortos, segundo fontes militares.
No sul do Departamento de Bolívar (norte), pelo menos cem paramilitares morreram após o bombardeio de acampamentos paramilitares pela Força Aérea Colombiana.
Rebeldes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) atacaram com bombas de gás um posto policial de La Peña, no Departamento de Nariño (cerca de 800 km a sudoeste de Bogotá). Uma menina morreu e uma mulher ficou gravemente ferida durante o ataque.
Há duas semanas, 119 civis morreram após o ataque das Farc a uma igreja em Bojayá (Departamento de Chocó, norte), onde os moradores da cidade se refugiavam do confronto entre os guerrilheiros e os paramilitares que controlavam a cidade.
A matança em Bojayá foi a mais grave dos 40 anos de guerra civil no país. Desde a década de 90, o conflito provocou a morte de cerca de 3.500 pessoas anualmente.
Ao fazer um balanço sobre os confrontos em Campamento, o general Mario Montoya, comandante da 4ª Brigada do Exército, afirmou que pouco mais de 70 cadáveres foram recolhidos pelas forças de segurança na zona de combates, mas outros 60 teriam sido retirados por camponeses.
"Sabemos que as Farc recolheram seus mortos, que seriam uns 60, segundo versões dos camponeses do lugar, e tentarão sepultá-los", disse Montoya, acrescentando que o Exército já tem "pleno controle da região".
Segundo o pároco de Campamento, Ovidio Castro, o número de mortos poderia chegar a 200. "Os combates foram impressionantes. Os cadáveres estão por todos os lados. Muitos estão em decomposição", disse.

Paramilitares
No sul de Bolívar, o bombardeio aos acampamentos das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), principal grupo paramilitar, aconteceu apenas alguns dias após a polêmica lançada por um representante da ONU no país sobre a suposta conivência das Forças Armadas com os grupos paramilitares.
Anders Kompass, chefe do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos em Bogotá e líder de uma missão que investigou o massacre de Bojayá, afirmou, no início da semana, que os paramilitares haviam tomado conta da cidade com a cumplicidade do Exército.
As acusações foram rechaçadas pelos comandantes militares e pelo presidente do país, Andrés Pastrana.
O comandante das Forças Armadas, Fernando Tapias, disse que o bombardeio ao acampamento das AUC na quarta-feira foi "um golpe muito duro" contra o grupo armado. "Até agora não sabemos quantos mortos pode haver, mas eram na realidade três acampamentos muito grandes. Por baixo, tinham capacidade para 150 ou 200 homens", afirmou o comandante da Força Aérea, general Héctor Velasco.
O governo da Colômbia já anunciou um plano especial para garantir a segurança da eleição do dia 26, com a participação de cerca de 80 mil soldados e 100 mil policiais em todo o país.
Porém candidatos presidenciais e a missão de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) expressaram seu temor pela insegurança e pela pressão que vem sendo exercida pelos grupos armados ilegais.
O candidato presidencial Alvaro Uribe (direita), favorito para vencer a eleição, cancelou ontem uma viagem prevista para a cidade de Cartagena (norte), onde participaria de um comício, por ameaças de morte.
Uribe saiu ileso de um atentado a bomba contra sua comitiva no dia 14 de abril, na cidade de Barranquilla (norte), no qual quatro pessoas morreram.

Com agências internacionais

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