São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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GUERRA SEM LIMITES

Segundo o "Times", agência abriu ou reabriu mais de 20 bases no exterior em 19 meses e visa penetrar no Irã

Em expansão, CIA quer triplicar agentes

DA REDAÇÃO

Durante os 19 meses em que foi dirigida por Porter Goss, a CIA (central de inteligência dos EUA) impulsionou uma forte expansão, recrutando novos agentes e abrindo ou reabrindo mais de 20 bases no exterior. A informação é de reportagem publicada ontem pelo jornal "The New York Times".
Até o próximo ano, a agência espera triplicar o número de agentes treinados em relação a 2001. O objetivo é usar a rede de espionagem fortalecida para começar a penetrar em sociedades fechadas como a Coréia do Norte e o Irã -classificados pelos EUA como integrantes do "eixo do mal".
No início do mês, sob intensa pressão, Goss pediu demissão do cargo de diretor da agência. Para seu lugar, o presidente George W. Bush indicou o general Michael Hayden, que passa hoje por uma sabatina no Senado.
Segundo o jornal, a reconstrução da CIA começou com o predecessor de Goss, George Tenet. Foi Tenet quem convenceu o Congresso americano, nos anos 1990, a reverter a política de cortes no orçamento e de pessoal que a agência vinha sofrendo depois do colapso da União Soviética.
De acordo com antigos e atuais agentes de inteligência ouvidos pelo "Times" sob condição de anonimato, levará "vários anos" para a CIA cumprir uma diretiva presidencial de 2004 que determina o aumento de agentes e de analistas de inteligência em 50%. Alguns dizem ainda que esse aumento não significa necessariamente uma inteligência melhor.
A ênfase apenas no tamanho pode desviar recursos de locais estratégicos com maior necessidade, "roubando de Pedro para pagar Paulo", nas palavra do senador republicano Pat Roberts, presidente da comissão de inteligência do Senado.
"Tenho minhas preocupações sobre isso. Não é uma questão apenas de números. É uma questão de ser mais agressivo", disse Roberts ao "Times".
Mas o reforço das operações de espionagem no exterior deve ajudar os esforços do diretor nacional de inteligência, John Negroponte, para mudar o foco das ações para o combate ao terrorismo e o roubo de segredos no exterior pela agência.
A CIA também registrou aumento no número de candidatos a empregos na agência. No ano fiscal encerrado em setembro de 2005, foram 121 mil candidatos, contra 136 mil em 2002 e 138 mil em 2003. Neste ano, a agência já recebeu 84 mil currículos, uma média de 2.000 a mais por mês em comparação com o ano passado.

Disputa
Quaisquer que sejam as condições, Hayden pode se tornar o primeiro diretor a iniciar seu mandato na CIA sabendo que a agência já não é mais o centro da burocracia de inteligência americana, afirma o "Times".
Seu papel histórico como o órgão primordial para a coleta de a análise de informações brutas está sendo desafiado por frentes múltiplas, com o Pentágono aumentando seu papel na coleta de informações, sob o comando do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. Enquanto isso, Negroponte pressiona para que agentes de inteligência da CIA fiquem diretamente sob seu controle.
Além disso, há as críticas sobre a capacidade da agência de roubar segredos no exterior, especialmente depois da desinformação sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, justificativa primeira para a invasão do país.
Assessores de Goss dizem que o fortalecimento das redes de espionagem foi a prioridade de seu mandato. Em um relatório de 2005, a comissão de inteligência da Câmara dos Representantes (deputados), então dirigida por Goss, criticou o que chamou de "negação disfuncional de qualquer necessidade de ação coerciva" na maneira em que a agência coleta inteligência humana.
"Após anos tentando convencer, sugerir, instar, seduzir e pressionar a CIA a fazer mudanças abrangentes na forma de conduzir a coleta, a CIA, na visão do comitê, continua descendo uma estrada que vai terminar em um penhasco", diz o relatório.


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