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Crise no campo acirra guerra entre Casa Rosada e imprensa
Presidente argentina e marido intensificam ataques e criam órgão observador da mídia
"Brigadas" ligadas aos Kirchner fazem campanha contra o grupo Clarín, o maior do país; SIP reclama do clima de confrontação
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Se o governo argentino já não
tinha uma relação amigável
com a imprensa, o pouco de paz
que restava foi rompido com o
conflito com o setor agropecuário, que já dura dois meses. Hoje, a mídia, mais do que os ruralistas a quem dá voz, virou o inimigo da presidente Cristina
Fernández de Kirchner.
O embate tomou os discursos
recentes de Cristina e as ruas
de Buenos Aires. Tido até então
como aliado tácito do governo,
o Clarín -maior grupo de comunicação do país, dono do
jornal de mesmo nome, de TVs,
rádios e TV a cabo- virou o
principal alvo, com cartazes
que o atacam espalhados pela
cidade.
Os confrontos começaram
com críticas da imprensa ao
modo como foram anunciados
os aumentos de impostos sobre
as exportações, origem do locaute agrícola que durou três
semanas e da crise que se estende até hoje.
Cristina contra-atacou com
discursos-bomba. O mais forte
foi em 1º de abril, quando, falando a uma multidão na praça
de Maio, ela chamou uma caricatura sua, feita pelo premiado
artista Hermenegildo Sábat, de
"mensagem quase mafiosa". O
desenho mostra Cristina com
um x na boca, e todos os meios
de comunicação saíram em defesa do cartunista, que publica
no "Clarín".
Recém-empossado no comando do Partido Peronista, o
antecessor e marido da presidente, Néstor Kirchner, prometeu fazer da legenda um veículo "para os soldados da causa
nacional que apóiam Cristina".
Cristina e Kirchner colocaram, então, seu exército na
frente de batalha. Além de espalhar os cartazes contra o grupo de mídia pela cidade, jovens
militantes de "brigadas" peronistas empunharam pôsteres
em atos do governo com frases
como "Clarín mente".
Ameaças
Um desses batalhões, o La
Cámpora, seria liderado pelo
primeiro-filho, Máximo Kirchner. Teriam vindo da grupo os
e-mails com ameaças a diretores do "Clarín" que chegaram
ao jornal na semana passada.
Para ganhar mais força, Cristina lançou um órgão de monitoramento da imprensa, o Observatório de Discriminação
nos Meios, e convocou todas as
faculdades de ciências sociais
do país a se unirem ao projeto.
O objetivo seria evitar que a
imprensa divulgue apenas notícias ruins."Para eles, o importante é sempre mostrar que as
coisas estão mal e dar uma visão quase terrível da Argentina", disse a presidente em um
discurso na última terça-feira.
A estratégia da Casa Rosada
levou a Sociedade Interamericana de Imprensa a falar duas
vezes em dois meses sobre essa
guerra declarada. "Lamentamos a posição de confrontação
assumida pelo governo contra
meios e jornalistas independentes, restringindo a liberdade de imprensa", disse Earl
Maucker, presidente da SIP.
Nessa batalha entre discurso
e notícia, os dois lados do confronto apresentam suas armas.
Para o militante do grupo Juventude Peronista Evita e funcionário do governo Kirchner
Pablo "Mono" Lombardi, 27, o
"Clarín" controla a informação
e teme que mexam em seu lucro. Para o editor-geral do "Clarín", Ricardo Kirschbaum, os
jovens militantes que atacam o
jornal pararam nos anos 70.
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