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Cidade argentina aprova nas urnas desistência de processo por derramamento de óleo
THIAGO GUIMARÃES
DE BUENOS AIRES
A pouco mais de um mês
das eleições legislativas na
Argentina, a cidade de Magdalena, a 120 km de Buenos
Aires, foi às urnas ontem, mas
por outro motivo: decidir se
aceita uma indenização da
Shell por um dos maiores acidentes ambientais do país.
Com cerca de 25% de comparecimento, de um total de
habilitados a votar de 12 mil, o
"sim" à proposta venceu com
77% dos votos, de acordo com
a Prefeitura de Magdalena.
Em janeiro de 1999, um navio-tanque da petroleira anglo-holandesa e um cargueiro
alemão colidiram na foz do
rio da Prata, causando derramamento de 5,3 milhões de
litros (quase duas piscinas
olímpicas) de petróleo.
O óleo cobriu 16 km de brejos e praias fluviais, no que é
considerado o maior desastre
em águas doces da Argentina.
Após dez anos de um processo por indenização que
ainda se arrasta na Justiça,
município e petroleira chegaram a um acordo extrajudicial: US$ 9,5 milhões pela desistência da causa. Foi a oferta -60% maior que o Orçamento da cidade- que os moradores avaliaram ontem no
plebiscito, de voto voluntário.
"É uma proposta sensata,
que beneficia Magdalena",
afirmou à Folha o prefeito
Fernando Carballo, que apostava no "sim", que precisava
de metade mais um dos votos
para vencer o plebiscito.
Magdalena vive de seus
quatro presídios -que empregam 1.500 pessoas- e da
agricultura. Ratificado o
acordo, o dinheiro, diz Carballo, será usado em um projeto
turístico, um parque industrial e uma planta de tratamento de resíduos.
No acerto submetido a plebiscito, contudo, a Shell não
reconhece sua responsabilidade pelo acidente. "O que a
empresa admite é um dano
difuso", diz o prefeito.
O acordo não altera o rumo
das 500 ações que moradores
de Magdalena movem contra
a Shell, por danos contra a
saúde, a economia e o ambiente. Entre os casos, há um
ex-morador que trabalhou na
limpeza do óleo e aciona a petroleira porque seus dois filhos nasceram cegos.
Embora a empresa diga
não haver registros de petróleo na costa de Magdalena há
seis anos, relatório recente da
ONG Ala Plástica apontou
"impactos severos e de longa
duração" ao ecossistema.
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