São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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Irã fecha cerco a opositores nas ruas e na web

País multiplica prisão de reformistas, restringe velocidade da internet e promete retirar textos críticos da rede e punir autores

Jornalistas também são detidos; apesar da repressão, partidários do candidato derrotado Mir Hossein Mousavi mantêm protestos


Agência Fars/France Presse
Eleitores protestam na capital, Teerã

DA REDAÇÃO

No quinto dia de manifestações contra o governo iraniano, acusado de fraude no pleito de domingo que reelegeu o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, Teerã aumentou ontem a repressão contra movimentos oposicionistas.
Diante do maior levante em 30 anos no país, o governo iraniano multiplicou as prisões de militantes reformistas, fechou o cerco contra jornalistas e restringiu o acesso à internet.
Adversários de Ahmadinejad dizem que continuarão enfrentando as autoridades e prometem realizar hoje uma megaprotesto na capital. Eles também pretendem parar o país em sinal de luto pelos sete manifestantes mortos em confrontos com a polícia.
Segundo testemunhas, a polícia está promovendo uma caça aos intelectuais ligados a Mir Hossein Mousavi, segundo colocado na votação de sexta -de acordo com resultados oficiais- e líder dos protestos.
A maioria dos presos acabaram libertados, mas alguns permanecem sob custódia das autoridades. O governo admite que ao menos 26 "organizadores de distúrbios" continuam encarcerados. Líderes oposicionistas falam em centenas de detenções arbitrárias.
Mousavi e um de seus principais aliados, o clérigo e ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005), escreveram carta ao chefe da Justiça pedindo a libertação dos presos.
Dentro do governo também surgem vozes de contestação. O ministro do Interior pediu ontem a abertura de uma investigação sobre um ataque de milicianos ligados ao regime na universidade de Teerã durante o fim de semana. A ação teria deixado um número não determinado de mortos.
Ignorando os apelos domésticos e externos, o governo passou a ameaçar explicitamente qualquer pessoa suspeita de fomentar os protestos.
Na cidade de Isfahan, também palco de grandes manifestações, o procurador local anunciou que quem causar distúrbios poderá ser executado.
Blogueiros e jornalistas, iranianos e estrangeiros, também estão na mira das autoridades.
Em sua primeira manifestação pública desde a eleição, a Guarda Revolucionária ordenou que todos os textos na internet capazes de "causar tensão" sejam imediatamente retirados do ar. Quem descumprir a regra poderá ser preso.
Sites oposicionistas e de imprensa estrangeira continuam bloqueados, e o serviço de telefonia celular, limitado. As autoridades reduziram pela metade a capacidade da banda larga no país, dificultando o envio de arquivos sonoros e de vídeo que vêm sendo usados como forma de driblar a proibição de cobertura da crise iraniana.
Jornalistas não podem deixar seus escritórios, sendo obrigados a fazer entrevistas por telefone e a depender das fotos e vídeos fornecidos pela imprensa estatal.
Muitos repórteres estrangeiros, entre eles o da Folha, tiveram de deixar o país depois que o governo revogou seus vistos.
Segundo a ONG francesa Repórteres Sem Fronteiras, há pelo menos 11 jornalistas iranianos ou estrangeiros detidos no Irã sem que se tenha informação sobre seu paradeiro.

Suspeitas
Desafiando o governo, dezenas de milhares de partidários de Mousavi participaram ontem de mais um protesto em Teerã. Os manifestantes exigem a anulação do pleito, que reelegeu Ahmadinejad com 62,7% dos votos. Mousavi, que teve 33% dos votos, vê no pleito "fraudes em massa" e pede uma nova eleição. O governo descartou a hipótese, embora tenha mandado recontar votos em regiões onde houve suspeitas.
Depois de uma campanha acirrada e do desgaste causado pela crise econômica, Ahmadinejad teve 8 milhões de votos a mais do que em 2005, número tido como irreal pela oposição.
O jornal britânico "The Guardian" divulgou ontem relatório de ONG iraniana afirmando que a participação nas urnas foi superior a 100% em ao menos 30 cidades, o que reforçaria a tese de manipulação.

Com agências internacionais



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