|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Apesar de cautela dos EUA, Teerã acusa país de interferência
Embaixador suíço, que representa interesses de Washington no Irã, é chamado a ouvir queixas do governo sobre ação americana
Pedido da Casa Branca para que donos do portal Twitter, usado por oposição iraniana, adiassem manutenção pode explicar a contrariedade
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Apesar de o governo americano manter o tom de neutralidade nas declarações sobre a
crise iraniana, Teerã convocou
ontem o embaixador suíço, que
responde pelos interesses americanos no país persa, para reclamar de "interferência em assuntos internos".
No comunicado, divulgado
pelo site da agência de notícias
semioficial Fars, a Chancelaria
iraniana não explicita quais seriam as declarações nem seus
autores. Diz apenas que "as posições apressadas, irresponsáveis e intervencionistas de certos funcionários dos governos e
da mídia do Ocidente sobre as
eleições iranianas são considerados um insulto à sabedoria do
povo iraniano e ao voto da
maioria".
Internamente, o presidente
Barack Obama, que tenta uma
reaproximação diplomática
com Teerã, vem sendo criticado justamente por não se pronunciar mais duramente sobre
a eleição presidencial iraniana
-até aqui ele vem apenas defendendo que os protestos não
sejam coibidos violentamente e
dizendo que cabe aos iranianos
a escolha de seus líderes.
O que pode explicar a contrariedade de Teerã é o trabalho
de bastidor de Washington para garantir o fluxo de informações livres do crivo oficial iraniano, de fora para dentro do
país e vice-versa. No Voice of
America, o serviço noticioso
bancado pelo governo dos
EUA, foi aumentada a equipe
que cuida das transmissões em
farsi. E a Casa Branca e o Departamento de Estado americano continuam investindo na
chamada "e-diplomacia", a diplomacia que se utiliza de
meios eletrônicos como os sites
de relacionamento social e o
portal de mensagens breves
Twitter.
O serviço gratuito, baseado
na Califórnia, no qual assinantes postam mensagens de até
140 caracteres, vem ganhando
a linha de frente como difusor
das informações de iranianos
sobre o que acontece no país, e
o candidato da oposição supostamente derrotado, Mir Hossein Mousavi, tem usado largamente o Twitter e o Facebook
em seus comunicados.
Ontem, tanto a secretária de
Estado, Hillary Clinton, como o
porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, exaltaram o meio.
Hillary defendeu o pedido de
sua chancelaria feito na segunda aos proprietários do Twitter
para que adiassem manutenção
previamente programada que
tiraria o site do ar por algumas
horas. "Os EUA acreditam
apaixonada e fortemente no
princípio básico da liberdade
de expressão", disse ela ontem.
"Nós promovemos o direito à
livre expressão."
"No caso dos meios de expressão, o Twitter é muito importante, não só para o povo
iraniano, mas crescentemente
para o povo do mundo inteiro,
particularmente os mais jovens", afirmou. "E manter essa
linha de comunicação aberta e
permitir que as pessoas dividam informação, particularmente num momento em que
não há muitos outros meios de
informação, é uma expressão
importante do direito de falar e
da habilidade de se organizar."
Desde ontem, jornalistas da
mídia estrangeira que estavam
no país com visto provisório
para cobrir as eleições presidenciais de sexta começaram a
deixar o país. Os que ficaram,
na maioria funcionários iranianos de agência de notícias e serviços internacionais, tiveram a
circulação restringida.
Em seu encontro diário com
a imprensa, Gibbs negou o teor
intervencionista do pedido e
reforçou que tanto o serviço como o Facebook eram importantes fontes de informação
para o governo sobre o que
acontece dentro do Irã.
Texto Anterior: Lula descarta manipulação na eleição iraniana Próximo Texto: Depoimento: "Sem ninguém para ver, que será de nós?" Índice
|