São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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Apesar de cautela dos EUA, Teerã acusa país de interferência

Embaixador suíço, que representa interesses de Washington no Irã, é chamado a ouvir queixas do governo sobre ação americana

Pedido da Casa Branca para que donos do portal Twitter, usado por oposição iraniana, adiassem manutenção pode explicar a contrariedade


SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Apesar de o governo americano manter o tom de neutralidade nas declarações sobre a crise iraniana, Teerã convocou ontem o embaixador suíço, que responde pelos interesses americanos no país persa, para reclamar de "interferência em assuntos internos".
No comunicado, divulgado pelo site da agência de notícias semioficial Fars, a Chancelaria iraniana não explicita quais seriam as declarações nem seus autores. Diz apenas que "as posições apressadas, irresponsáveis e intervencionistas de certos funcionários dos governos e da mídia do Ocidente sobre as eleições iranianas são considerados um insulto à sabedoria do povo iraniano e ao voto da maioria".
Internamente, o presidente Barack Obama, que tenta uma reaproximação diplomática com Teerã, vem sendo criticado justamente por não se pronunciar mais duramente sobre a eleição presidencial iraniana -até aqui ele vem apenas defendendo que os protestos não sejam coibidos violentamente e dizendo que cabe aos iranianos a escolha de seus líderes.
O que pode explicar a contrariedade de Teerã é o trabalho de bastidor de Washington para garantir o fluxo de informações livres do crivo oficial iraniano, de fora para dentro do país e vice-versa. No Voice of America, o serviço noticioso bancado pelo governo dos EUA, foi aumentada a equipe que cuida das transmissões em farsi. E a Casa Branca e o Departamento de Estado americano continuam investindo na chamada "e-diplomacia", a diplomacia que se utiliza de meios eletrônicos como os sites de relacionamento social e o portal de mensagens breves Twitter.
O serviço gratuito, baseado na Califórnia, no qual assinantes postam mensagens de até 140 caracteres, vem ganhando a linha de frente como difusor das informações de iranianos sobre o que acontece no país, e o candidato da oposição supostamente derrotado, Mir Hossein Mousavi, tem usado largamente o Twitter e o Facebook em seus comunicados.
Ontem, tanto a secretária de Estado, Hillary Clinton, como o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, exaltaram o meio. Hillary defendeu o pedido de sua chancelaria feito na segunda aos proprietários do Twitter para que adiassem manutenção previamente programada que tiraria o site do ar por algumas horas. "Os EUA acreditam apaixonada e fortemente no princípio básico da liberdade de expressão", disse ela ontem. "Nós promovemos o direito à livre expressão."
"No caso dos meios de expressão, o Twitter é muito importante, não só para o povo iraniano, mas crescentemente para o povo do mundo inteiro, particularmente os mais jovens", afirmou. "E manter essa linha de comunicação aberta e permitir que as pessoas dividam informação, particularmente num momento em que não há muitos outros meios de informação, é uma expressão importante do direito de falar e da habilidade de se organizar."
Desde ontem, jornalistas da mídia estrangeira que estavam no país com visto provisório para cobrir as eleições presidenciais de sexta começaram a deixar o país. Os que ficaram, na maioria funcionários iranianos de agência de notícias e serviços internacionais, tiveram a circulação restringida.
Em seu encontro diário com a imprensa, Gibbs negou o teor intervencionista do pedido e reforçou que tanto o serviço como o Facebook eram importantes fontes de informação para o governo sobre o que acontece dentro do Irã.


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