São Paulo, sábado, 18 de junho de 2011

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porca miséria

Crise do lixo em Nápoles, sul italiano, torna-se mais um motivo de dor de cabeça para premiê Berlusconi e ajuda na sua queda de popularidade

Ciro Fusco-17.jun.2011/Efe
Homem passeia com seu filho por uma rua de Nápoles, no sul da Itália, ao lado de montanhas de lixo que não foram recolhidas pelas autoridades

LUISA BELCHIOR
EM NÁPOLES

Na última terça-feira, dia seguinte ao plebiscito que derrotou várias propostas do primeiro-ministro Silvio Berlusconi, um lixeiro percorria solitário a orla de Nápoles, no sul da Itália.
O que ele recolhia e amontoava em uma minicaminhonete não eram os resquícios das celebrações, mas uma parte ínfima das 3.000 toneladas de lixo que há anos infestam quase todas as esquinas da terceira maior cidade do país (1 milhão de pessoas).
Em Nápoles, as montanhas de sacos pretos nas ruas são também parte do debate político. A promessa de resolver o problema já ajudou Berlusconi eleitoralmente no passado. Mas isso mudou.
O fracasso em solucionar o drama do lixo hoje contribui para derrubar a popularidade do premiê no sul italiano, mais pobre do que o restante do país e onde a crise econômica é sentida de forma mais aguda.
Berlusconi enfrenta fuga de aliados, precisa lidar com os efeitos da crise e é acusado de ter feito sexo com uma prostituta menor de idade.
Em Nápoles, as últimas eleições regionais, em maio, levaram à prefeitura Luigi de Magistris, um ex-juiz considerado "antissistema" por não pertencer a nenhum partido majoritário.
Sem grande dificuldade, ele passou por cima do candidato de Berlusconi.
"A sensação é a de que estamos sendo desacorrentados", disse à Folha o designer napolitano Dario Bovi, 31, que foi de Londres, onde vive, à sua cidade natal para votar no plebiscito.
Entre outros pontos, a consulta popular revogou uma lei que protegia Berlusconi de ser processado.
"Não será fácil lutar contra o sistema em uma cidade como Nápoles, mas esperamos o melhor", disse Bovi.

PODER DA MÁFIA
A perda da prefeitura de Nápoles foi uma das principais derrotas políticas de Berlusconi recentes.
Mesmo com um dos mais baixos índices de comparecimento na consulta popular _49,3% da população apareceu para votar, ante 64% em Roma,_ a participação dos napolitanos foi considerada histórica para uma cidade que costuma fugir da política, geralmente pelo envolvimento da máfia nela.
"Em Nápoles, as pessoas estavam fartas de política, mas à moda antiga. O que ganhou não foi o antipolítico, foi o antissistema", declarou o novo prefeito em entrevista concedida ao jornal espanhol "El País".
O lixo urbano, que personifica o descaso do governo com a infraestrutura da cidade, é, de momento, seu maior desafio.
Isso porque o domínio sobre a coleta e a distribuição é atribuído à máfia de Nápoles, que, segundo a ONG Legambiene Campania, lucra cerca de R$ 14 milhões anuais com o serviço.
Os governos nacional e local tradicionalmente não investem na melhora da coleta, e a construção de novos lixões foi paralisada por protestos de moradores.
O resultado podia ser visto no último domingo no centro da cidade, assustadoramente coberta por montanhas de lixo.
"Tem épocas que nem sequer temos espaço para passar na rua", contou o administrador napolitano Emílio Prencipe, 36.
"Já temos a máfia, e o problema do lixo só piora a imagem da cidade. Mas queremos mostrar que a população quer mudar essa Nápoles", disse a arquiteta Francesca Sicario, 49.
Na última segunda-feira, ela se uniu com outros napolitanos em uma das principais praças da cidade, a do Plebiscito, para celebrar com faixas e cartazes, colados em postes e muros, o resultado do plebiscito.
Cercada, como sempre, de toneladas de lixo.


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