São Paulo, Sexta-feira, 18 de Junho de 1999
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NOVO ÊXODO
Líder ortodoxo vai para a Província e promete salvação aos que ficarem, mas sérvios continuam deixando a região
Patriarca pede presença sérvia em Kosovo

do enviado especial a Pristina


O patriarca Pavle, chefe da Igreja Ortodoxa Sérvia, foi ontem a Kosovo e pediu que os sérvios que vivem na Província não deixem o seu território.
Apesar do apelo, organizações internacionais estimam que até 50 mil sérvios já tenham deixado o território kosovar.
"O homem não pode escolher o momento, a raça, a nação e as circunstâncias em que nasce, mas pode escolher comportar-se como homem. Peço que aguentem até o final. As desgraças passarão", afirmou o patriarca, em pronunciamento em frente ao mosteiro de Gracanica para cerca de mil pessoas. Ele disse que "aquele que aguentar, será salvo".
Pavle disse que permanecerá em Kosovo "por um longo tempo". Ele decidiu ir para a Província depois que o único bispo da Igreja Ortodoxa Sérvia em Kosovo, Artemije Radosavljevic, abandonou sua catedral em Prizren (sudoeste), juntamente com sérvios kosovares que foram escoltados por tropas alemãs da Otan.
Uma patrulha de soldados franceses da força de paz internacional em Kosovo disse ter encontrado um mosteiro do norte de Kosovo depredado.
Segundo denúncias, guerrilheiros do ELK (Exército de Libertação de Kosovo) teriam invadido o local, espancado um padre e violentado freiras.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou acreditar que os sérvios que estão fugindo de Kosovo retornarão à Província quando ela estiver totalmente ocupada pelas tropas da Otan e o ELK tiver sido desmilitarizado.
O governo iugoslavo também pediu que os sérvios permaneçam em Kosovo. O êxodo de sérvios que deixam a Província é motivado pelo medo de vingança do ELK e dos refugiados de origem albanesa que estão voltando.
Em Prizren, a Folha pôde constatar que o ELK se transformou na polícia da cidade, sob o nariz das tropas alemãs que controlam o setor. A Otan escolta comboios sérvios para evitar ataques.
O representante especial da ONU para Kosovo, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello, deu anteontem entrevista à TV iugoslava prometendo segurança aos sérvios. Mello é a maior autoridade civil em Kosovo. Entre suas missões está a de criar uma nova força policial civil -a polícia sérvia na Província não existe desde segunda.
Além de pronunciamentos, Mello não fez nada de concreto até agora. Na terça, um dia depois de a polícia sérvia deixar de existir, ainda procurava instalações para trabalhar em Kosovo. A Otan, que tem exercido o poder de polícia, é quem de fato manda na região, apesar do carimbo da ONU no acordo de paz.
O Exército Iugoslavo continua cumprindo rigorosamente o cronograma de retirada do solo kosovar. Ao deixar Kosovo pelo norte da Província, soldados continuam a queimar casas de kosovares albaneses. (KENNEDY ALENCAR)


Com agências internacionais

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