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IMPRENSA
Katharine Graham, que comandou diário durante caso Watergate, tornou-se exemplo de independência jornalística
Morre dona e executiva veterana do "Washington Post"
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Katharine Graham, dona e executiva veterana do "The Washington Post", que comandou o
diário durante o escândalo de
Watergate e transformou a empresa que publica o jornal num
poderoso grupo financeiro, morreu ontem aos 84 anos.
Ela estava em estado grave desde sábado, quando bateu a cabeça
ao cair durante uma caminhada
em Sun Valley, em Idaho, onde
participava de uma conferência
de negócios.
Katharine Graham é considerada uma das lendas e símbolo de
independência editorial do jornalismo norte-americano. Foi levada à direção do grupo que edita o
"Washington Post" em 1963, depois do suicídio de seu marido,
Philip Graham, e presidiu o conselho executivo do jornal de 1973
a 1993, quando passou o comando para o filho Donald Graham. O
jornal pertence a sua família desde 1933, quando seu pai, Eugene
Meyer, comprou-o de uma empresa que estava em falência.
Em 1971, ela autorizou Benjamin Bradley, editor do "Post", a
publicar um relatório militar secreto sobre o envolvimento dos
EUA na Guerra do Vietnã, conhecido como "Documentos do Pentágono". A Casa Branca queria
suspender a publicação sob o argumento de que ela traria danos
irreparáveis à capacidade de o Estado proteger-se de ameaças externas.
A decisão de Graham deu início
a uma batalha judicial que acabou
sendo ganha pelo "Post" na Suprema Corte, em Washington,
numa decisão judicial que colocou a liberdade de imprensa e o
direito à informação acima de
apelos oficiais relacionados com a
segurança nacional.
Watergate
Entre 1973 e 1974, durante o escândalo de Watergate, mesmo
sob pressões e ameaças da Casa
Branca, Graham deu o sinal verde
e a sustentação corporativa necessária para que a equipe do "Post"
avançasse a investigação que levou o presidente Richard Nixon à
renúncia.
Quando completou 80 anos,
Graham ganhou um prêmio Pulitzer por sua autobiografia "Uma
História Pessoal" (publicada no
Brasil pela editora DBA), na qual
descreveu a si própria como uma
mulher insegura e solitária que,
embora educada nas melhores escolas, não havia sido criada para
assumir a direção do jornal.
Segundo relato de Graham, ao
justificar a transferência do comando do jornal ao genro, descartando a hipótese de passar o
cargo a ela, seu pai teria dito: "Nenhum homem deve ser colocado
na situação de trabalhar para sua
própria mulher".
Em 1963, quando assumiu a direção do "Post", Graham tinha
pouca experiência em jornalismo
(havia trabalhado como repórter
na Califórnia, cobrindo relações
sindicais) e nunca havia administrado uma empresa.
"Eu tinha medo de fazer perguntas idiotas e, na primeira festa
de Natal da companhia depois de
assumir o comando, passei um
bom tempo no espelho ensaiando
a frase "Feliz Natal'", disse ela numa entrevista em 1998. "Minha
estratégia foi contratar as pessoas
certas e defender o interesse dos
nossos leitores, não os interesses
privados."
Referência
À frente do "Post", Graham expandiu o grupo, que também publica a revista "Newsweek", para o
setor de TV e colocou ações da
companhia à venda na Bolsa de
Nova York, transformando-se
também numa referência feminina no mundo dos negócios.
Foi a primeira mulher a comandar uma empresa incluída na lista
das 500 principais companhias da
revista "Fortune" e a primeira a
sentar-se à mesa da Associação de
Editores de Jornais Americanos.
Até sua morte, Graham foi personagem ativa na vida social de
Washington, cidade sobre a qual
publicaria um livro em breve. Em
janeiro, promoveu um jantar para
apresentar o presidente George
W. Bush a personalidades importantes da capital norte-americana. Já hospedou em sua casa os
ex-presidentes Ronald Reagan e
Bill Clinton.
"Presidentes vão e vêm, e Katharine Graham conheceu todos",
disse ontem Bush por meio de
uma nota. "Ela transformou-se
numa lenda ainda em vida."
Apesar dos conflitos do "Post"
com o Partido Republicano na
primeira metade da década de 70
e de sua amizade íntima com a família do presidente democrata
John Kennedy, Graham manteve
uma relação de amizade com
Henry Kissinger, que foi secretário de Estado de Nixon, e com a
família Reagan. "Apesar de termos nos encontrado várias vezes
em campos opostos, sempre fomos amigos, e ela nunca usou a
relação para me fazer qualquer
pedido", disse Kissinger.
Bradley, editor do "Post" durante o escândalo de Watergate,
disse ontem que, com sua objetividade e simplicidade, Katharine
Graham ajudou a moldar o jornalismo norte-americano.
"Ela assumiu o jornal depois de
um episódio trágico [o suicídio de
seu marido" e sob a sombra dos
homens da família [do marido e
do pai". Fez um trabalho extraordinário."
Até sua morte, Katharine Graham ocupava o cargo de presidente do conselho da companhia
que controla o grupo -a Washington Post Co.
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