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Premiê libanês quer troca de prisioneiros com Israel
Fouad Siniora, que completa um ano no cargo, acusa Israel de "terrorismo duro"
Em entrevista ao francês "Le Monde", primeiro-ministro diz que EUA têm "amizade maior" com Israel e que negociará com Hizbollah
MOUNA NAIM
DO "MONDE"
O primeiro-ministro libanês,
Fouad Siniora, completa amanhã um ano no cargo, em meio
aos combates entre Israel e
Hizbollah. Amigo e braço-direito do ex-premiê Rafik Hariri
-morto em fevereiro deste ano
em um atentado freqüentemente atribuído à Síria, que nega envolvimento-, Siniora, 63,
foi também ministro da Economia (1992-1998 e 2000-2004).
Em entrevista ao jornal "Le
Monde", o premiê defende a
troca de prisioneiros como
uma demanda libanesa, e não
restrita apenas ao grupo radical
Hizbollah, que iniciou a atual
crise ao seqüestrar dois soldados israelenses e matar oito.
"Por que atribuí-la unicamente
ao Hizbollah? Como eu poderia
deixar de me preocupar com os
libaneses detidos em prisões israelenses?", questiona.
Também acusa Israel de terrorismo e diz que o Líbano não
endossa as ações do Hizbollah,
mas que "haverá contatos" com
o grupo para um cessar-fogo.
PERGUNTA - No sexto dia da guerra
que tem o Líbano como palco, o que
o sr. pretende fazer?
FOUAD SINIORA - Estamos procurando uma maneira de sair
dessa situação pesada de destruição e tragédias. Buscamos
um cessar-fogo imediato e total, para tratar as causas e conseqüências da captura de dois
soldados israelenses (pelo Hizbollah, em 12 de julho) e resolver a situação dos libaneses detidos em Israel há 30 anos.
Além disso, o Estado está determinado a estender sua autoridade para o território libanês
em sua totalidade, com a ajuda
da ONU e de todos os países irmãos e amigos, e, paralelamente, a buscar uma solução para
todos os problemas que Israel
se nega a solucionar e que são a
origem das crises e das tensões.
PERGUNTA - Isso quer dizer que o sr.
ratifica a exigência de troca de prisioneiros feita pelo Hizbollah?
SINIORA- A libertação de detidos libaneses é uma reivindicação libanesa legítima. Por que
atribuí-la unicamente ao Hizbollah? Como eu poderia deixar de me preocupar com os libaneses detidos em prisões israelenses? Quando exijo o fim
das violações do espaço aéreo
por Israel, isso significa que estou adotando o ponto de vista
do Hizbollah? Israel diz que
quer acabar com as armas do
Hizbollah. Eu respondo a Israel: há uma maneira simples
de conseguir isso -é achar uma
solução para os problemas.
Israel acusa os outros de terrorismo, sendo que pratica o
terrorismo sob as formas mais
duras. Israel cria problemas
que conserva como chagas
abertas, para fazer uso delas como meios de pressão. Quero falar dos libaneses que Israel
mantém presos, das minas que
plantou no sul do Líbano e cuja
localização se nega a nos fornecer, apesar de dezenas de pessoas morrerem todos os anos e
outras dezenas serem desfiguradas devido à explosão desses
artefatos.
Israel viola sistematicamente nosso espaço aéreo e nossas
águas territoriais e continua a
ocupar as Fazendas de Shebaa,
um território libanês de 45 km2
que sabe que pertence ao Líbano. Como explicar tal comportamento, senão pelo desejo de
manter um estado de tensão e
de fazer pressão sobre o Líbano? A ausência de solução definitiva para esses problemas endêmicos favorece o extremismo. As soluções superficiais e
rápidas apenas envenenam a
situação ainda mais.
Nós já dissemos e repetimos
que não fomos avisados de antemão sobre a captura dos dois
soldados israelenses, que não
assumimos a responsabilidade
por esse ato nem o endossamos. As mortes e a destruição
que Israel vem cometendo em
nome dos dois soldados capturados são aceitáveis?
Hoje houve um massacre no
povoado de Aitaroun e na cidade de Tiro. Ontem, o mesmo
aconteceu nas localidades de
Bayada e Mirouahine. Será que
as vidas libanesas valem tão
pouco?
PERGUNTA - O sr. poderia convencer o Hizbollah de sua posição? O sr.
mantém contato com o grupo?
SINIORA - Haverá contatos. Os
contatos nunca foram interrompidos, e vamos continuar a
trabalhar sem descanso, sobre
a base de uma posição clara e
transparente, mantendo em
mente os interesses dos libaneses e dos árabes. Somos os responsáveis pela população libanesa e vamos nos esforçar para
alcançar um cessar-fogo, a suspensão dos massacres e a interrupção da ação da máquina infernal israelense. Temos idéias
claras, nossa determinação é
incansável e defendemos uma
causa justa.
PERGUNTA - Como o sr. avalia a responsabilidade dos capacetes azuis
da Força Interina das Nações Unidas
para o Líbano (Finul), que no sábado,
15 de julho, se negaram a receber
em suas instalações os moradores
do povoado de Mirouahine que, em
sua fuga, foram mortos por um
bombardeio israelense?
SINIORA - Estamos investigando esse caso. Mas os representantes da ONU me disseram
que o grupo de cidadãos assassinados pelos israelenses não
foi aquele ao qual os capacetes
azuis negaram abrigo, por falta
de informações suficientes. Seja como for, não devemos nos
enganar quanto aos culpados: a
culpa é de Israel, que foi quem
cometeu esse crime.
PERGUNTA - O Conselho de Segurança da ONU não conseguiu chegar
a um acordo sobre um apelo por um
cessar-fogo, devido em grande medida à atitude dos EUA, que, entretanto, dizem ser amigos do Líbano.
SINIORA - Eles são nossos amigos, mas sua amizade por outros (Israel) é maior.
PERGUNTA - O que o sr. pensa da
atitude da França?
SINIORA - Falei com o primeiro-ministro (Dominique de Villepin) e com o ministro das Relações Exteriores (Philippe
Douste-Blazy) e expus a eles
nossas reivindicações legítimas. Apreciamos muito o apoio
que a França nunca deixou de
dar ao Líbano e a amizade da
administração e do povo francês pelo povo do Líbano.
Temos consciência dos esforços do presidente Chirac para ajudar o Líbano, que ele traz
em sua mente ao lado da França. Estamos convencidos de
que ele não vai poupar meios e
oportunidades para dar apoio a
nossas reivindicações.
PERGUNTA - Como ficou uma proposta israelense que teria sido transmitida ao sr. por seu colega italiano,
Romano Prodi, e que preveria um
cessar-fogo sob a condição de o
Exército libanês deslocar homens
para o sul do Líbano e de o Hizbollah
retroceder seu contingente?
SINIORA - Sejamos claros: Prodi, que é amigo de longa data do
Líbano, simplesmente me
transmitiu o teor de uma conversa que teve com Ehud Olmert. Não se tratou de uma
proposta oficial.
Tradução de CLARA ALLAIN
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