São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2006

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Na Jordânia, grupo palestino de refugiados expressa a sua desolação às escondidas

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE AMÃ (JORDÂNIA)

Dezenas de jornalistas chegaram à cidade, provenientes de diversas partes do mundo. O objetivo deles é atravessar por terra a fronteira com a Síria e percorrer a estrada repetidamente bombardeada que liga Damasco a Beirute, o único caminho possível para chegar ao ponto central do conflito.
A cidade e seus moradores parecem calmos aos olhos dos turistas destemidos. O conflito parece distante, ainda que as distâncias sejam curtas o suficiente para que se possa farejar a morte, por mais que tentem ocultá-la com a imposição do silêncio. Ainda assim, o clima tenso se assemelha ao dos dias que precederam a invasão do Iraque. As pessoas não podem se manifestar, mas seus corações e mentes estão alertas.
"Aqui não se pode falar, mas as pessoas estão muito, muito indignadas", disse Farid, um palestino que habita o reino da Jordânia desde que tinha 15 anos de idade.
Não se manifestam, não falam em público, não expressam suas idéias com liberdade, mas as feridas da ocupação norte-americana do Iraque se aprofundaram com a retomada do conflito no Líbano.
Em meio às mais estreitas vielas da capital assentada sobre sete colinas, alguns escolheram opinar sobre a situação, solicitando que seus nomes não fossem revelados. "Estamos desolados porque o mundo está olhando para o outro lado. Não existe equilíbrio e sempre ficamos em desvantagem", diz Hadad, outro palestino forçado a viver em exílio na Jordânia.
Eles também citam a flagrante violação dos princípios clássicos do direito internacional e do conjunto de resoluções das Nações Unidas sobre a questão. "A comunidade internacional não entende que esses abusos de poder, esses massacres, gerarão mais violência nas pessoas", aponta o irmão de Farid, estudante de 22 anos que se identifica como Husayn.

"Guerra total"
"É impossível atravessar a fronteira para o Líbano, é tarde demais", diz Alfredo, que acaba de chegar de Israel.
O palestino passou três dias sem dormir consolando uma amiga libanesa que estava em visita turística a Jerusalém. O marido dela está cercado em Beirute com os três filhos do casal, à espera do fim das operações militares.
"Sim, apoiamos a guerra total", assume Farid depois de alguns segundos de silêncio. "[Hassan] Nasrallah [líder do Hizbollah] pediu guerra total contra Israel, e talvez tenha chegado a hora." Sua opinião coincide com a do antigo porta-voz do exército israelense, Najman Shay, um general reformado, que disse: "Devemos compreender que estamos em guerra. Estamos diante da segunda guerra do Líbano".


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