São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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Rotina de preso incluía novela brasileira

Dissidentes cubanos comemoram libertação nesta semana, mas lamentam ter perdido fim de "A Favorita"

Libertados contam que, três vezes por semana, podiam assistir ao programa e se esquecer das condições na prisão

Paul White - 15.jul.2010/Associated Press
Ex-presos cubanos libertados e levados à Espanha aplaudem durante coletiva em Madri; eles relatam rotina na prisão

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MADRI

Três vezes por semana, durante uma hora, os presos políticos de Cuba se esquecem das condições precárias dos presídios, da perseguição política e da distância das famílias. Nesses momentos, aglomeram-se em frente às televisões e, em silêncio, acompanham atentamente os capítulos das novelas brasileiras transmitidas na ilha.
Foi o que contaram à Folha 7 dos 11 dissidentes cubanos que foram enviados à Espanha nesta semana. Embora contentes de haver deixado a prisão, eles -e suas mulheres- lamentaram ter que deixar de acompanhar a trama de "A Favorita", novela de 2008 que está sendo reproduzida em Cuba.
"Me deu uma pena de não poder mais acompanhar. Estou curioso para saber o final", disse o dissidente Omar Ruiz sobre a trama, que estreou em Cuba em janeiro e é transmitida todas as terças, quintas e sábados, às 21h15, pela emissora Cubavisión.
Ruiz contou que, no presídio onde passou os últimos sete anos, em Espírito Santo, no centro de Cuba, os funcionários respeitavam a hora da novela e deixavam que os presos entrassem no refeitório, onde ficava a televisão e no qual só se permitia acesso nas refeições. "Éramos 132 presos, e nos aglomerávamos em frente a uma TV muito pequena", conta Ruiz.
Os dissidentes Pablo Pacheco e Julio Cesar Rodriguez disseram que o mesmo acontecia nos presídios em que foram mantidos.
"Nós temos poucas opções lá, são quatro canais, e só dois passam novelas, um de cubanas e outro de brasileiras. Mas preferimos as brasileiras. É só ver o sucesso dos paladares", diz Pacheco.
Paladares é como são chamados pequenos restaurantes que funcionam em residências da ilha e que herdaram o nome da empresa da personagem de Regina Duarte na novela "Vale Tudo", de 1988. No voo, eles chegaram a mencionar que perderiam o último capítulo.
As Damas de Branco (grupo de mulheres familiares dos dissidentes) que foram à Espanha acompanhando os maridos também se lamentaram por não poder mais acompanhar a trama.
"Estava arrumando as malas e, de repente, me dei conta de que iria perder a novela", disse Bárbara Ruiz, mulher de Omar Ruiz. (LUISA BELCHIOR)

Folha.com

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folha.com.br/mu768389


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