São Paulo, domingo, 18 de julho de 2010

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Mulheres e gays racham anglicanos

Cúpula da igreja dá passo importante para nomeação de primeira bispa; para homossexuais, houve revés

Congregação enfrenta dilema: perde fiéis na Inglaterra, mas sua ala conservadora mantém oposição a mudanças

VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES

A Igreja Anglicana, que nasceu no século 16 por causa de questões morais e de gênero, vive mais uma vez o risco de um cisma por motivos semelhantes.
Em 1534, Henrique 8º, rei da Inglaterra, rompeu com o papa, chefe da Igreja Católica, porque o pontífice não permitia que ele se divorciasse da primeira mulher, que não lhe dava um desejado filho homem, para se casar com uma outra.
Cinco séculos depois, é a ordenação de gays e mulheres como bispos que ameaça a igreja, que tem cerca de 77 milhões de fiéis no mundo.
A Igreja Anglicana vive um dilema. Está perdendo fiéis por todo o país, principalmente entre os jovens, mas se mantém bem em Londres graças principalmente aos imigrantes de origem africana e caribenha.
Esses são mais conservadores e não querem mudanças na igreja. Mas os jovens talvez queiram. Assim como as mulheres e os gays.
Neste mês, a cúpula da igreja deu passos em direções contrárias. Para as mulheres, uma boa notícia.
O sínodo geral (órgão máximo da igreja) decidiu que está na hora de dar a elas o direito de serem ordenadas bispas. A discussão se arrastava havia anos.
A ala conservadora era contra, mas aceitou que um anteprojeto seja enviado às dioceses para a discussão de restrições a serem impostas às ordenações. Por exemplo, dar às paróquias o direito de recusar uma bispa.
As propostas das paróquias serão analisadas até 2012, quando um novo projeto deve passar por votação no sínodo. Se tudo der certo, a expectativa é nomear a primeira bispa em 2014.
Rachel Weir, de um grupo que defende a ordenação de mulheres, disse que a decisão marca um momento grandioso para a igreja.
Para ela, mesmo as possíveis restrições fazem sentido para evitar que muitos fiéis deixem a igreja. "Temos a obrigação de manter o máximo de pessoas possíveis conosco", afirmou.

GAYS
Mas os conservadores não se sentem vencidos. Eles consideram que podem ainda derrubar as ordenações por meio de voto em nova reunião geral de bispos e arcebispos. Se não conseguirem, prometem sair.
No caso dos gays, houve uma derrota para os que defendem os direitos dos homossexuais.
Existia uma expectativa de que Rowan Williams, arcebispo da Cantuária e líder espiritual da Igreja Anglicana, escolhesse Jeffrey John para ser o bispo de Southwark, em Londres.
Williams, que se tornou arcebispo em 2002 com um discurso mais liberal, não quis comprar mais de uma briga com os conservadores.
John é abertamente gay. Mantém um relacionamento estável com outro padre, mas afirma ser celibatário.
Ele já esteve envolvido em outra controvérsia. Em 2003, chegou a ser nomeado como bispo de Reading, cidade a oeste de Londres. Mas pressões de fiéis e de outros líderes religiosos o fizeram desistir da nomeação.

VIDA PRÁTICA
Enquanto o sínodo e grupos conservadores e liberais discutem os chamados temas de fundo da igreja, muitos frequentadores veem apenas seu lado prático.
"Não sei se tenho opinião formada sobre a ordenação de mulheres ou gays ou sobre o futuro da igreja. Eu até acredito em Deus, mas venho aqui aos domingos porque isso dará aos meus filhos preferência na hora de frequentar a escola ligada à Igreja Anglicana. E não é fácil encontrar uma boa escola grátis por aqui", disse à Folha Liz Prant, 34, ao sair de uma igreja anglicana em Wandsworth, sudoeste de Londres.
Muitas escolas gratuitas no Reino Unido são mantidas por igrejas, inclusive a frequentada pela filha de seis anos do primeiro-ministro, David Cameron.
Elas recebem também dinheiro do Estado, mas têm o direito de optar por alunos de famílias que frequentam suas paróquias.


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