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Mulheres e gays racham anglicanos
Cúpula da igreja dá passo importante para nomeação de primeira bispa; para homossexuais, houve revés
Congregação enfrenta dilema: perde fiéis na Inglaterra, mas sua ala conservadora mantém oposição a mudanças
VAGUINALDO MARINHEIRO
DE LONDRES
A Igreja Anglicana, que
nasceu no século 16 por causa de questões morais e de
gênero, vive mais uma vez o
risco de um cisma por motivos semelhantes.
Em 1534, Henrique 8º, rei
da Inglaterra, rompeu com o
papa, chefe da Igreja Católica, porque o pontífice não
permitia que ele se divorciasse da primeira mulher, que
não lhe dava um desejado filho homem, para se casar
com uma outra.
Cinco séculos depois, é a
ordenação de gays e mulheres como bispos que ameaça
a igreja, que tem cerca de 77
milhões de fiéis no mundo.
A Igreja Anglicana vive um
dilema. Está perdendo fiéis
por todo o país, principalmente entre os jovens, mas
se mantém bem em Londres
graças principalmente aos
imigrantes de origem africana e caribenha.
Esses são mais conservadores e não querem mudanças na igreja. Mas os jovens
talvez queiram. Assim como
as mulheres e os gays.
Neste mês, a cúpula da
igreja deu passos em direções contrárias. Para as mulheres, uma boa notícia.
O sínodo geral (órgão máximo da igreja) decidiu que
está na hora de dar a elas o
direito de serem ordenadas
bispas. A discussão se arrastava havia anos.
A ala conservadora era
contra, mas aceitou que um
anteprojeto seja enviado às
dioceses para a discussão de
restrições a serem impostas
às ordenações. Por exemplo,
dar às paróquias o direito de
recusar uma bispa.
As propostas das paróquias serão analisadas até
2012, quando um novo projeto deve passar por votação no
sínodo. Se tudo der certo, a
expectativa é nomear a primeira bispa em 2014.
Rachel Weir, de um grupo
que defende a ordenação de
mulheres, disse que a decisão marca um momento
grandioso para a igreja.
Para ela, mesmo as possíveis restrições fazem sentido
para evitar que muitos fiéis
deixem a igreja. "Temos a
obrigação de manter o máximo de pessoas possíveis conosco", afirmou.
GAYS
Mas os conservadores não
se sentem vencidos. Eles
consideram que podem ainda derrubar as ordenações
por meio de voto em nova
reunião geral de bispos e arcebispos. Se não conseguirem, prometem sair.
No caso dos gays, houve
uma derrota para os que defendem os direitos dos homossexuais.
Existia uma expectativa de
que Rowan Williams, arcebispo da Cantuária e líder espiritual da Igreja Anglicana,
escolhesse Jeffrey John para
ser o bispo de Southwark, em
Londres.
Williams, que se tornou arcebispo em 2002 com um discurso mais liberal, não quis
comprar mais de uma briga
com os conservadores.
John é abertamente gay.
Mantém um relacionamento
estável com outro padre, mas
afirma ser celibatário.
Ele já esteve envolvido em
outra controvérsia. Em 2003,
chegou a ser nomeado como
bispo de Reading, cidade a
oeste de Londres. Mas pressões de fiéis e de outros líderes religiosos o fizeram desistir da nomeação.
VIDA PRÁTICA
Enquanto o sínodo e grupos conservadores e liberais
discutem os chamados temas de fundo da igreja, muitos frequentadores veem
apenas seu lado prático.
"Não sei se tenho opinião
formada sobre a ordenação
de mulheres ou gays ou sobre o futuro da igreja. Eu até
acredito em Deus, mas venho
aqui aos domingos porque isso dará aos meus filhos preferência na hora de frequentar
a escola ligada à Igreja Anglicana. E não é fácil encontrar
uma boa escola grátis por
aqui", disse à Folha Liz
Prant, 34, ao sair de uma
igreja anglicana em Wandsworth, sudoeste de Londres.
Muitas escolas gratuitas
no Reino Unido são mantidas
por igrejas, inclusive a frequentada pela filha de seis
anos do primeiro-ministro,
David Cameron.
Elas recebem também dinheiro do Estado, mas têm o
direito de optar por alunos de
famílias que frequentam
suas paróquias.
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