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VENEZUELA
Washington demora um dia para reconhecer o triunfo chavista no plebiscito; Carter anuncia auditoria, mas nega fraude
Com atraso, EUA admitem vitória de Chávez
DE WASHINGTON
DO ENVIADO ESPECIAL A CARACAS
Com um dia de atraso, o governo americano reconheceu ontem
a vitória do presidente venezuelano, Hugo Chávez, desafeto declarado de Washington, no plebiscito de domingo passado.
Adam Ereli, porta-voz do Departamento de Estado, disse que
os resultados do plebiscito, convocado pela oposição para abreviar o mandato do presidente,
"mostram que Chávez recebeu o
apoio da maioria dos votantes".
"Vamos nos unir ao Grupo de
Amigos da Venezuela no reconhecimento dos resultados preliminares", disse Ereli.
Na segunda-feira, os EUA foram o único país do Grupo de
Amigos da Venezuela -formado
também por Brasil, Chile, Espanha, México e Portugal- a não
reconhecer a vitória de Chávez,
mesmo depois que a OEA (Organização dos Estados Americanos)
e o Centro Carter respaldaram os
resultados do plebiscito.
Os EUA preferiram uma posição dúbia, afirmando que apoiavam a checagem dos votos pedida
pela oposição. Ontem, apesar do
reconhecimento da vitória, Ereli
voltou a tocar no mesmo ponto.
"Ainda há uma preocupação
em relação a algumas questões relacionadas à votação e pedimos
aos observadores internacionais
que ajudem a realizar uma auditoria transparente sobre o assunto, como parte de um processo de
reconciliação nacional", disse.
O ex-presidente americano
Jimmy Carter (1977-1981), um
dos principais observadores da
votação, anunciou a realização da
auditoria, mas disse que as acusações de fraude "não têm mérito"..
O porta-voz do Departamento
de Estado afirmou que "o povo e
o governo venezuelanos devem
agora decidir os passos a seguir".
A relação entre Chávez e EUA é
conturbada. Quando o presidente
foi derrubado por um golpe em
abril de 2002, Washington limitou-se a dizer que esperava a
"normalização" da Venezuela,
enquanto outros países condenavam o levante.
Ao voltar ao poder, Chávez, cuja
proximidade com o ditador cubano, Fidel Castro, sempre irritou
Washington, acusou a Casa Branca de ter urdido o golpe, o que os
americanos negam.
Mas os EUA financiaram grupos opositores do regime chavista. Segundo documentos obtidos
pela Folha no início do ano, os
EUA transferiram nos dois últimos anos mais de US$ 1 milhão a
esses grupos.
Recontagem
Isolada dentro e fora do país, a
oposição abriu uma possibilidade
para admitir a derrota no último
domingo: a recontagem manual
dos votos do plebiscito.
"Estamos simplesmente pedindo a recontagem dos votos simples, porque temos dúvidas da lisura desse processo. Se Chávez
ganhar nessa contagem, aceitaremos o resultado", disse à Folha o
deputado Julio Borges, um dos
principais líderes da oposição.
Anteontem, após analisar as denúncias da oposição, o Centro
Carter e a OEA (Organização dos
Estados Americanos) disseram
que não há indícios de fraude e ratificaram a vitória de Chávez, que
agora tem o mandato garantido
até janeiro de 2007.
Ontem, o mais importante grupo de defesa de direitos humanos
da Venezuela, o Provea, pediu
que a oposição reconhecesse a
derrota, mas solicitou que o Conselho Nacional Eleitoral "dissipasse as dúvidas".
Os votos manuais são uma espécie de recibo, que é impresso
depois de os eleitores votarem na
urna eletrônica. Depois de averiguação do voto, esse papel é depositado numa urna. São esses recibos que a oposição quer revisar, o
que será feito na auditoria anunciada por Carter.
Depois dos conflitos de segunda-feira em Caracas, que deixaram ao menos quatro feridos a
bala, a cidade teve um dia calmo.
Nas ruas, os opositores repetiam a
acusação de que houve fraude.
(FERNANDO CANZIAN E FABIANO MAISONNAVE)
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