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POR QUE APÓIO CHÁVEZ
"Chávez dá esperança aos pobres"
TARIQ ALI
ESPECIAL PARA O "INDEPENDENT"
O comparecimento às urnas na
Venezuela, no domingo, foi enorme. Sob sua nova Constituição, o
país deu aos cidadãos o direito de
sustar o mandato de um presidente. Nenhuma outra democracia ocidental prevê esse direito.
Os oligarcas da Venezuela e
seus partidos políticos, que haviam feito oposição a essa Constituição (e tentado derrubar Chávez com um golpe apoiado pelos
EUA e uma greve dos petroleiros,
liderada por uma burocracia sindical corrupta), a usaram para
tentar livrar-se do homem que
fortaleceu a democracia no país.
Eles fracassaram. Por mais fortes tenham sido seus gritos de angústia (e os de seus apologistas na
mídia, nacional e estrangeira), na
realidade o país inteiro sabe o que
aconteceu. Chávez derrotou seus
adversários democraticamente e
pela quarta vez. A democracia na
Venezuela, sob a bandeira dos revolucionários bolivarianos, superou o sistema bipartidário corrupto favorecido pela oligarquia e
seus aliados no Ocidente.
Algumas semanas atrás tive
uma conversa longa com Chávez
em Caracas. Ficou claro para
mim que o que ele está tentando
fazer é criar na Venezuela uma
democracia social radical, que
procura dar poder às camadas sociais mais pobres.
Nestes tempos em que a política
é subordinada à desregulamentação e à privatização, as metas de
Chávez são vistas como revolucionárias. Parte da receita do petróleo está proporcionando educação e saúde aos pobres.
As razões da popularidade de
Chávez se tornam evidentes. Nenhum regime anterior havia dado
atenção à situação dos pobres.
E não podemos deixar de notar
que não se trata apenas de uma
disparidade entre ricos e pobres,
mas também de uma desigualdade baseada na cor da pele. Os chavistas tendem a ser morenos, refletindo sua origem indígena e escrava. A oposição é formada por
pessoas de pele clara, e alguns de
seus membros mais revoltantes
descrevem Chávez como macaco
preto. Chegou a ser montado na
embaixada americana em Caracas um espetáculo de marionetes
em que Chávez era representado
por um macaco. Mas Colin Powell não achou graça, e o embaixador foi obrigado a se desculpar.
Um editorial hostil publicado
na ""Economist" desta semana
chegou a aventar o argumento bizarro de que o esforço chavista visava apenas conquistar votos. A
verdade é o contrário. Os bolivarianos queriam o poder para implementar reformas reais. Tudo o
que os oligarcas têm a oferecer é a
continuação do passado.
Sugerir que a Venezuela esteja à
beira da tragédia totalitária é ridículo. É a oposição que vem tentando conduzir o país nesse rumo. Os bolivarianos têm se mostrado espantosamente contidos.
Quando pedi a Chávez que explicasse sua filosofia, ele respondeu: ""Não acredito nos postulados da revolução marxista. Não
aceito que estejamos vivendo
num período de revoluções proletárias. A realidade nos diz isso
todos os dias. Mas se me dizem
que, por causa dessa realidade,
não podemos fazer nada em prol
dos pobres, então respondo:
"Nesse caso, vamos seguir caminhos opostos". Jamais aceitarei
que não possa ocorrer redistribuição da renda. Acredito em
tentar fazer nossa própria revolução, partir para o combate, avançar um pouco na direção certa,
nem que seja apenas um milímetro, em lugar de ficar sonhando
com utopias".
O escritor paquistanês Tariq Ali é editor
da "New Left Review", em Londres, e autor de "Bush na Babilônia" (Record)
Tradução de Clara Allain
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