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ELEIÇÃO NOS EUA
Candidatura do democrata contraria previsões de penúria e se torna uma das mais ricas da história do país
Kerry vira "máquina" de arrecadar fundos
ROBERT WORTH
DO "NEW YORK TIMES"
Por trás da história da reviravolta extraordinária descrita por
John Kerry -na qual ele saiu da
condição de endividado para tornar-se o presidenciável mais bem
financiado da história americana,
excetuando os candidatos que
concorrem à reeleição- estão
pessoas como Bobby Savoie.
Executivo de Nova Orleans, especialista em detritos nucleares,
Savoie começou a levantar fundos
para Kerry depois da saída da corrida de Richard Gephardt, seu
amigo pessoal. Na condição de
presidente de uma empresa que
ganha US$ 200 milhões por ano
em contratos com o governo federal, Savoie, 46, pode sair beneficiado se Kerry vencer.
Há também os neófitos políticos, gente como Ophelia Dahl,
que está levantando dinheiro para
um candidato pela primeira vez.
Aos 40 anos, britânica de origem,
Dahl dirige uma entidade sem
fins lucrativos chamada Partners
in Health (parceiros na saúde),
com sede em Boston. Como ela
própria, muitos dos doadores cuja ajuda ela conseguiu são novatos
na política, e poucos deles são ricos. ""Várias pessoas disseram que
vão contrair empréstimos para fazer isso", disse Dahl. ""Foi animador ver como as pessoas se envolveram com nossa proposta."
Essas são algumas das pessoas
que vêm alimentando a máquina
de levantamento de fundos de
Kerry, uma das mais eficazes já
criadas numa eleição nos EUA.
Oito meses atrás, muitas pessoas previam que o possível candidato democrata acabaria sem
dinheiro, após a cara batalha das
primárias. Hoje, a campanha
Kerry possui mais de US$ 225 milhões em fundos levantados. Não
é tanto quanto o total recorde de
George W. Bush -US$ 228 milhões até junho-, mas está mais
perto dele do que previa a maioria
dos democratas. Ainda em março
havia apenas 60 pessoas na lista
dos levantadores de fundos para
Kerry. Até julho, o último período
para o qual há estatísticas disponíveis, já havia ao menos 266.
Os levantadores de fundos formam um grupo diversificado que
abrange desde alguns dos doadores mais ricos do país até ativistas
de pequenas cidades do interior.
Os grupos mais numerosos que
constam da lista são formados
por advogados, financistas e lobistas, mas também há um punhado de tipos de Hollywood, como o ator Dennis Hopper, e uma
pequena minoria de educadores e
médicos.
Fica claro que a campanha foi
buscar efetivos na base democrata, profundamente engajada.
Muitos desses efetivos são doadores de primeira viagem. Mas alguns levantadores de fundos podem ter mais do que isso em jogo.
A categoria dos advogados, por
exemplo, veria com bons olhos
um democrata na Presidência,
depois de suportar os ataques lançados pela administração Bush
contra o que o presidente descreve como ""processos legais frívolos
e desnecessários que colocam empregadores em risco".
Boa parte do êxito de Kerry vem
se dando pela internet, onde ele já
levantou mais de US$ 75 milhões
desde que venceu a maioria das
primárias. Foi uma mudança notável em relação a 2003, quando a
campanha recebeu muito pouco
on line. Agora ela vem recebendo
mais dinheiro pela internet do
que qualquer outra campanha na
história política.
Desde cedo a campanha de
Kerry criou um sistema para reconhecer os grandes levantadores
de fundos: aqueles que levantavam pelo menos US$ 50 mil ganhavam o título de co-presidente,
e os que levantavam mais de US$
100 mil se tornavam vice-presidentes. Michael Meehan, um porta-voz do candidato democrata,
disse que a campanha confia que
seus levantadores de fundos relatem as quantias levantadas.
Ele disse que muitas vezes é difícil ser preciso quando há eventos
com mais de um patrocinador.
Os doadores de Kerry formam
um grupo muito diferente daqueles da campanha Bush, dominada
por interesses comerciais. Dos
266 vice-presidentes de Kerry,
mais de um quarto é formado por
advogados, quase a metade dos
quais são advogados que atuam
em julgamentos. Há 48 financistas ou investidores, 20 lobistas, 15
funcionários públicos ou ocupantes de cargos eletivos e uma dúzia
de pessoas de cinema.
Mas as profissões contam apenas uma parte da história. A campanha de Kerry vem atraindo
gays e grupos imigrantes, por
exemplo, capitalizando sobre a
resistência oposta às políticas da
administração Bush com relação
ao casamento entre homossexuais e às detenções pós-11 de Setembro. No último dia 9 de julho,
líderes de grupos das comunidades de origem indiana e paquistanesa promoveram seu primeiro
grande evento conjunto de levantamento de fundos, transcendendo suas diferenças nacionais e religiosas para unir-se em apoio a
Kerry. O evento atraiu 500 pessoas e levantou mais de US$ 1 milhão para a campanha, segundo
Reshma Saujani, advogada que
ajudou a organizá-lo.
Tradução de Clara Allain
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