São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

Candidatura do democrata contraria previsões de penúria e se torna uma das mais ricas da história do país

Kerry vira "máquina" de arrecadar fundos

ROBERT WORTH
DO "NEW YORK TIMES"

Por trás da história da reviravolta extraordinária descrita por John Kerry -na qual ele saiu da condição de endividado para tornar-se o presidenciável mais bem financiado da história americana, excetuando os candidatos que concorrem à reeleição- estão pessoas como Bobby Savoie.
Executivo de Nova Orleans, especialista em detritos nucleares, Savoie começou a levantar fundos para Kerry depois da saída da corrida de Richard Gephardt, seu amigo pessoal. Na condição de presidente de uma empresa que ganha US$ 200 milhões por ano em contratos com o governo federal, Savoie, 46, pode sair beneficiado se Kerry vencer.
Há também os neófitos políticos, gente como Ophelia Dahl, que está levantando dinheiro para um candidato pela primeira vez. Aos 40 anos, britânica de origem, Dahl dirige uma entidade sem fins lucrativos chamada Partners in Health (parceiros na saúde), com sede em Boston. Como ela própria, muitos dos doadores cuja ajuda ela conseguiu são novatos na política, e poucos deles são ricos. ""Várias pessoas disseram que vão contrair empréstimos para fazer isso", disse Dahl. ""Foi animador ver como as pessoas se envolveram com nossa proposta."
Essas são algumas das pessoas que vêm alimentando a máquina de levantamento de fundos de Kerry, uma das mais eficazes já criadas numa eleição nos EUA.
Oito meses atrás, muitas pessoas previam que o possível candidato democrata acabaria sem dinheiro, após a cara batalha das primárias. Hoje, a campanha Kerry possui mais de US$ 225 milhões em fundos levantados. Não é tanto quanto o total recorde de George W. Bush -US$ 228 milhões até junho-, mas está mais perto dele do que previa a maioria dos democratas. Ainda em março havia apenas 60 pessoas na lista dos levantadores de fundos para Kerry. Até julho, o último período para o qual há estatísticas disponíveis, já havia ao menos 266.
Os levantadores de fundos formam um grupo diversificado que abrange desde alguns dos doadores mais ricos do país até ativistas de pequenas cidades do interior.
Os grupos mais numerosos que constam da lista são formados por advogados, financistas e lobistas, mas também há um punhado de tipos de Hollywood, como o ator Dennis Hopper, e uma pequena minoria de educadores e médicos.
Fica claro que a campanha foi buscar efetivos na base democrata, profundamente engajada. Muitos desses efetivos são doadores de primeira viagem. Mas alguns levantadores de fundos podem ter mais do que isso em jogo.
A categoria dos advogados, por exemplo, veria com bons olhos um democrata na Presidência, depois de suportar os ataques lançados pela administração Bush contra o que o presidente descreve como ""processos legais frívolos e desnecessários que colocam empregadores em risco".
Boa parte do êxito de Kerry vem se dando pela internet, onde ele já levantou mais de US$ 75 milhões desde que venceu a maioria das primárias. Foi uma mudança notável em relação a 2003, quando a campanha recebeu muito pouco on line. Agora ela vem recebendo mais dinheiro pela internet do que qualquer outra campanha na história política.
Desde cedo a campanha de Kerry criou um sistema para reconhecer os grandes levantadores de fundos: aqueles que levantavam pelo menos US$ 50 mil ganhavam o título de co-presidente, e os que levantavam mais de US$ 100 mil se tornavam vice-presidentes. Michael Meehan, um porta-voz do candidato democrata, disse que a campanha confia que seus levantadores de fundos relatem as quantias levantadas.
Ele disse que muitas vezes é difícil ser preciso quando há eventos com mais de um patrocinador.
Os doadores de Kerry formam um grupo muito diferente daqueles da campanha Bush, dominada por interesses comerciais. Dos 266 vice-presidentes de Kerry, mais de um quarto é formado por advogados, quase a metade dos quais são advogados que atuam em julgamentos. Há 48 financistas ou investidores, 20 lobistas, 15 funcionários públicos ou ocupantes de cargos eletivos e uma dúzia de pessoas de cinema.
Mas as profissões contam apenas uma parte da história. A campanha de Kerry vem atraindo gays e grupos imigrantes, por exemplo, capitalizando sobre a resistência oposta às políticas da administração Bush com relação ao casamento entre homossexuais e às detenções pós-11 de Setembro. No último dia 9 de julho, líderes de grupos das comunidades de origem indiana e paquistanesa promoveram seu primeiro grande evento conjunto de levantamento de fundos, transcendendo suas diferenças nacionais e religiosas para unir-se em apoio a Kerry. O evento atraiu 500 pessoas e levantou mais de US$ 1 milhão para a campanha, segundo Reshma Saujani, advogada que ajudou a organizá-lo.


Tradução de Clara Allain


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