São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

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Pressão interna e externa explica detenção de "paras" na Colômbia

Medida negociada com cúpula das AUC "blinda" governo contra exigência de extradição

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

A detenção anteontem dos mais altos chefes das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) respondeu a fortes pressões internas e externas sobre o governo do presidente Álvaro Uribe e foi, na verdade, uma medida negociada com a cúpula do grupo paramilitar de direita.
Internamente, vinham causando furor as aparições de paramilitares em viagens de helicóptero, caravanas escoltadas a bares e restaurantes, compras em lojas exclusivas e festas de casamento pomposas.
"Os chefes paramilitares estão em uma situação de liberdade condicional porque não começaram ainda os processos a que têm de responder e tampouco foram absolvidos pela Justiça", disse o analista colombiano Alfredo Rangel.
"Estavam fazendo um uso muito ostensivo e até ofensivo dessa liberdade em algumas cidades do país, e isso provocou muitas críticas ao processo de paz e desprestigiou o governo."
Foram detidos ao menos 13 chefes paramilitares, entre eles Ramón Isaza, um dos fundadores das AUC, Ernesto Báez, ex-líder político, e Salvatore Mancuso, ex-comandante militar. Eles vão ficar reclusos em La Ceja, município próximo a Medellín, até que se iniciem os julgamentos, a maioria por crimes de lesa humanidade.
"[A reclusão] Foi como um convite, mais do que uma medida de força, aos paramilitares para resgatar a credibilidade do processo", disse Rangel. Em nota, as AUC disseram ter "acudido ao chamado do presidente voluntariamente".
No front externo, a medida é uma espécie de "blindagem" contra críticas internacionais de que o governo é leniente com os paras e contra a pressão dos EUA para que sejam extraditados. Mancuso, por exemplo, tem o processo de extradição pronto, bastando a aprovação de Uribe para que se concretize.
"Enquanto [os paramilitares] se mantenham no processo e não voltem a cometer crimes, as extradições não vão ser aprovadas. Esse é o compromisso público feito pelo presidente", disse Rangel.
O timing também justifica a decisão: em setembro, o governo americano decide se aprova um pacote de US$ 20 milhões para o processo de paz, segundo a revista "Semana".
Ontem, o presidente George W. Bush autorizou o Departamento de Estado a seguir financiando o programa que permite o abate de aviões suspeitos de fazer narcotráfico, argumentando que a Colômbia adotou medidas para prevenir a morte de inocentes nessas operações.


Com agências internacionais

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