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Narcotráfico oprime mídia mexicana com sequestros e mortes
Criminosos mataram oito profissionais de mídia só neste ano, conforme organização
DE CARACAS
Pela primeira vez na história recente do México, um
narcocartel conseguiu impor, na TV, sua agenda à população de todo o país.
Com quatro funcionários,
jornalistas e câmeras feitos
reféns, a poderosa Televisa e
o canal a cabo Milenio exibiram três vídeos por exigência
dos sequestradores.
Foi na última semana de
julho. Os jornalistas foram
capturados em Durango,
quando cobriam uma rebelião num presídio. Mas os sequestradores não queriam
apenas censurar a cobertura.
O grupo, que a polícia diz
ser do cartel de Sinaloa, queria que as TVs passassem vídeos com supostos depoimentos sustentando que
seus rivais do Los Zetas estavam infiltrados na polícia.
As TVs cederam e os vídeos foram ao ar mais de
uma vez. Dois jornalistas foram liberados e dois, resgatados pela polícia dias depois.
O episódio é considerado
uma inflexão nas estratégias
de intimidação e terror de
narcotraficantes contra jornalistas e a imprensa, em
meio à escalada da violência
no norte mexicano.
"É comum que os jornalistas fossem obrigados a publicar "narcomensagens" no
norte do país", diz Alejandro
Almazán, que há décadas cobre narcotráfico.
Carlos Lauria, diretor do
Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, concorda. "Não há
dúvidas de que a guerra do
narcotráfico também se converteu em uma guerra pelo
controle de informação. E os
criminosos mostram que estão dispostos a usar propaganda para afetar rivais."
Só neste ano, o CPJ conta
oito casos de jornalistas mortos nos quais os suspeitos são
narcotraficantes.
Está instalada a chamada
"narcocensura" na mídia de
Reynosa ou Ciudad Juárez,
ambas na fronteira com os
EUA, por exemplo.
"Só publico 10% da informação confirmada que tenho. Quando escrevo, não
penso no diretor de redação
ou no leitor. Penso no capo
[do narcotráfico]. Essa é a
nossa triste realidade", diz
Javier Valdez, repórter do jornal independente "Ríodoce".
"Mas ainda prefiro publicar
10% a me silenciar."
O alarme pela situação levou ao México nesta semana
os relatores para a Liberdade
de Expressão da ONU e da
OEA. Visitaram a capital e a
violenta Ciudad Juárez.
(FM)
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