São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2010

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Narcotráfico oprime mídia mexicana com sequestros e mortes

Criminosos mataram oito profissionais de mídia só neste ano, conforme organização

DE CARACAS

Pela primeira vez na história recente do México, um narcocartel conseguiu impor, na TV, sua agenda à população de todo o país.
Com quatro funcionários, jornalistas e câmeras feitos reféns, a poderosa Televisa e o canal a cabo Milenio exibiram três vídeos por exigência dos sequestradores.
Foi na última semana de julho. Os jornalistas foram capturados em Durango, quando cobriam uma rebelião num presídio. Mas os sequestradores não queriam apenas censurar a cobertura.
O grupo, que a polícia diz ser do cartel de Sinaloa, queria que as TVs passassem vídeos com supostos depoimentos sustentando que seus rivais do Los Zetas estavam infiltrados na polícia.
As TVs cederam e os vídeos foram ao ar mais de uma vez. Dois jornalistas foram liberados e dois, resgatados pela polícia dias depois.
O episódio é considerado uma inflexão nas estratégias de intimidação e terror de narcotraficantes contra jornalistas e a imprensa, em meio à escalada da violência no norte mexicano.
"É comum que os jornalistas fossem obrigados a publicar "narcomensagens" no norte do país", diz Alejandro Almazán, que há décadas cobre narcotráfico.
Carlos Lauria, diretor do Comitê de Proteção de Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, concorda. "Não há dúvidas de que a guerra do narcotráfico também se converteu em uma guerra pelo controle de informação. E os criminosos mostram que estão dispostos a usar propaganda para afetar rivais."
Só neste ano, o CPJ conta oito casos de jornalistas mortos nos quais os suspeitos são narcotraficantes.
Está instalada a chamada "narcocensura" na mídia de Reynosa ou Ciudad Juárez, ambas na fronteira com os EUA, por exemplo.
"Só publico 10% da informação confirmada que tenho. Quando escrevo, não penso no diretor de redação ou no leitor. Penso no capo [do narcotráfico]. Essa é a nossa triste realidade", diz Javier Valdez, repórter do jornal independente "Ríodoce". "Mas ainda prefiro publicar 10% a me silenciar."
O alarme pela situação levou ao México nesta semana os relatores para a Liberdade de Expressão da ONU e da OEA. Visitaram a capital e a violenta Ciudad Juárez. (FM)


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