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"Guerra do Iraque foi por petróleo", afirma Greenspan
Declaração em livro de ex-presidente do banco central dos EUA esquenta debate sobre conflito e o leva a se explicar
Casa Branca se diz surpresa com frase de economista, que apoiou a invasão em 2003, e cita estabilidade regional como razão maior
DA REDAÇÃO
Uma declaração de Alan
Greenspan sobre as razões que
levaram seu país a invadir o Iraque em 2003 reaqueceu um velho debate nos EUA: segundo o
homem que por quase duas décadas comandou o banco central norte-americano (Fed), o
motivo maior para o governo
de George W. Bush ter se envolvido numa guerra que hoje não
parece ter solução de médio
prazo foi o petróleo.
Em seu livro "A Era da Turbulência - Aventuras em um
Novo Mundo" (ed. Campus),
lançado ontem, Greenspan, 81,
diz se sentir entristecido pelo
"fato de ser politicamente inconveniente admitir o que todos sabem: a Guerra do Iraque
foi principalmente sobre o petróleo". A afirmação ganha peso se lembrado que o ex-presidente do Fed é filiado ao Partido Republicano, de Bush, e
sempre defendeu a invasão.
Ontem mesmo o secretário
da Defesa dos EUA, Robert Gates, expressou parte da surpresa que o trecho teria causado à
Casa Branca. Negando a acusação de que os EUA estavam interessados na reserva petrolífera do Iraque, a segunda maior
conhecida no mundo, ele afirmou que o que motivou a guerra foi a manutenção da "estabilidade no golfo Pérsico".
Gates disse ainda que o conflito foi travado contra um regime "que tentava desenvolver
armas de destruição em massa"
-antiga alegação de Washington para a invasão e cuja veracidade nunca foi comprovada- e
contra um "ditador agressivo".
O próprio Greenspan tentou
explicar à imprensa americana
que não quis dizer o que disse.
Em entrevista ao jornal "Washington Post", afirmou que o
que quis dizer é que a derrubada de Saddam Hussein era essencial para garantir a oferta de
petróleo ao mundo, mas não
que esse foi o motivo que levou
o governo dos EUA à guerra.
"Eu não disse que foi o motivo do governo", afirmou
Greenspan ao repórter Bob
Woodward. "Só quis dizer que,
se alguém me perguntasse se fizemos bem em derrubar Saddam, eu diria que foi essencial."
Greenspan afirmou ter explicado a Bush que, se as forças de
Saddam controlassem o estreito de Ormuz, por onde passam
"17, 18 ou 19 milhões de barris
de petróleo por dia", o preço do
produto poderia ter uma alta
recorde, afetando significativamente a economia global. Mas
ele contou nunca ter ouvido
membros do governo se referirem a este como o principal
motivo da invasão do país.
Excelente trabalho
A Casa Branca também reagiu às críticas à política econômica do governo Bush contidas
no livro. Greenspan, que presidiu o Fed de 1987 a 2006, tendo
trabalhado com quatro presidentes dos EUA, atacou Bush e
os parlamentares republicanos
por haverem abandonando a
austeridade fiscal e aumentado
os gastos governamentais.
A porta-voz da Casa Branca,
Dana Perino, declarou que o
presidente Bush estava "um
tanto surpreso com algumas
críticas contidas no livro". Perino disse que os gastos aumentaram devido ao combate ao
terrorismo e que o governo não
se desculpa por agir para garantir "a segurança do povo americano". Mas baixou o tom, afirmando que Bush tem grande
respeito por Greenspan e que
considera o trabalho que ele fez
à frente do Fed "excelente".
O economista também dirigiu críticas aos democratas em
entrevista ao "Wall Street
Journal". A oposição, disse,
"tem caminhado significativamente na direção errada". Para
ele, o partido tem "inclinação
populista", principalmente no
que se refere a um "ceticismo"
quanto ao livre comércio.
Com agências internacionais
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