São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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"Guerra do Iraque foi por petróleo", afirma Greenspan

Declaração em livro de ex-presidente do banco central dos EUA esquenta debate sobre conflito e o leva a se explicar

Casa Branca se diz surpresa com frase de economista, que apoiou a invasão em 2003, e cita estabilidade regional como razão maior

DA REDAÇÃO

Uma declaração de Alan Greenspan sobre as razões que levaram seu país a invadir o Iraque em 2003 reaqueceu um velho debate nos EUA: segundo o homem que por quase duas décadas comandou o banco central norte-americano (Fed), o motivo maior para o governo de George W. Bush ter se envolvido numa guerra que hoje não parece ter solução de médio prazo foi o petróleo.
Em seu livro "A Era da Turbulência - Aventuras em um Novo Mundo" (ed. Campus), lançado ontem, Greenspan, 81, diz se sentir entristecido pelo "fato de ser politicamente inconveniente admitir o que todos sabem: a Guerra do Iraque foi principalmente sobre o petróleo". A afirmação ganha peso se lembrado que o ex-presidente do Fed é filiado ao Partido Republicano, de Bush, e sempre defendeu a invasão.
Ontem mesmo o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, expressou parte da surpresa que o trecho teria causado à Casa Branca. Negando a acusação de que os EUA estavam interessados na reserva petrolífera do Iraque, a segunda maior conhecida no mundo, ele afirmou que o que motivou a guerra foi a manutenção da "estabilidade no golfo Pérsico".
Gates disse ainda que o conflito foi travado contra um regime "que tentava desenvolver armas de destruição em massa" -antiga alegação de Washington para a invasão e cuja veracidade nunca foi comprovada- e contra um "ditador agressivo".
O próprio Greenspan tentou explicar à imprensa americana que não quis dizer o que disse. Em entrevista ao jornal "Washington Post", afirmou que o que quis dizer é que a derrubada de Saddam Hussein era essencial para garantir a oferta de petróleo ao mundo, mas não que esse foi o motivo que levou o governo dos EUA à guerra.
"Eu não disse que foi o motivo do governo", afirmou Greenspan ao repórter Bob Woodward. "Só quis dizer que, se alguém me perguntasse se fizemos bem em derrubar Saddam, eu diria que foi essencial."
Greenspan afirmou ter explicado a Bush que, se as forças de Saddam controlassem o estreito de Ormuz, por onde passam "17, 18 ou 19 milhões de barris de petróleo por dia", o preço do produto poderia ter uma alta recorde, afetando significativamente a economia global. Mas ele contou nunca ter ouvido membros do governo se referirem a este como o principal motivo da invasão do país.

Excelente trabalho
A Casa Branca também reagiu às críticas à política econômica do governo Bush contidas no livro. Greenspan, que presidiu o Fed de 1987 a 2006, tendo trabalhado com quatro presidentes dos EUA, atacou Bush e os parlamentares republicanos por haverem abandonando a austeridade fiscal e aumentado os gastos governamentais.
A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, declarou que o presidente Bush estava "um tanto surpreso com algumas críticas contidas no livro". Perino disse que os gastos aumentaram devido ao combate ao terrorismo e que o governo não se desculpa por agir para garantir "a segurança do povo americano". Mas baixou o tom, afirmando que Bush tem grande respeito por Greenspan e que considera o trabalho que ele fez à frente do Fed "excelente".
O economista também dirigiu críticas aos democratas em entrevista ao "Wall Street Journal". A oposição, disse, "tem caminhado significativamente na direção errada". Para ele, o partido tem "inclinação populista", principalmente no que se refere a um "ceticismo" quanto ao livre comércio.


Com agências internacionais


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