São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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AIEA cita Iraque para rejeitar ataque a Irã

Reagindo a menção à guerra pela França, chefe da agência nuclear da ONU diz que uso da força exige consenso e evoca baixas civis

Chanceler francês modera retórica da véspera, porém afirma que Paris negocia com países da UE a adoção de sanções fora da ONU

DA REDAÇÃO

Um dia após a declaração do chanceler francês, Bernard Kouchner, de que seu país e o mundo devem se preparar para uma guerra caso o Irã desenvolva armas atômicas, o diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Mohamed el Baradei, lembrou ontem o conflito no Iraque para criticar os que defendem o uso da força contra Teerã.
El Baradei ressaltou a necessidade de dar uma chance à diplomacia para convencer o Irã a tornar seu programa nuclear transparente. "Eu não falaria no uso da força", disse El Baradei, lembrando que só o Conselho de Segurança da ONU pode autorizar tal ação. "Há regras sobre como usar a força, e eu espero que todos tenham aprendido a lição depois da situação no Iraque, onde 700 mil civis inocentes perderam suas vidas sob a suspeita de que o país tinha armas nucleares."

Paciência
O diplomata egípcio também pediu paciência aos países que o criticam pelo acordo firmado em agosto com o Irã, no qual a AIEA estabeleceu um cronograma para que o regime islâmico esclareça as dúvidas sobre suas ambições atômicas em troca de uma série de concessões. O acordo, negociado em segredo, irritou os países que defendem a ampliação das sanções contra o Irã, principalmente EUA e França.
"Até novembro ou dezembro nós seremos capazes de saber se o Irã está agindo de boa-fé ou não", disse El Baradei. "Precisamos ficar frios e não ampliar a questão iraniana."
Falando na abertura da 51ª sessão da Conferência Geral da AIEA, em Viena, El Baradei parecia estar dando uma resposta à surpreendente subida de tom da véspera empreendida pelo chanceler da França, um dos países que se opuseram com mais vigor à decisão dos Estados Unidos de invadir o Iraque sem o aval da ONU, em 2003.
Kouchner, em entrevista a uma rádio francesa no domingo, disse que considerava intolerável a possibilidade de o Irã obter a bomba atômica. "Temos que nos preparar para o pior, e o pior é a guerra", disse.
Ontem, diante da forte reação doméstica e externa, Kouchner moderou a retórica, afirmando que a França continua comprometida com uma solução pacífica. "A pior situação seria a guerra", disse o chanceler, "e para evitar o pior a posição francesa é muito clara: negociar, negociar, negociar. E trabalhar com nossos amigos europeus em torno de sanções confiáveis."
A caminho de Moscou, Kouchner disse que vários países europeus, entre eles o Reino Unido e a Holanda, já haviam se manifestado a favor da idéia francesa de aplicar sanções mais duras contra o Irã. Elas se concentrariam no setor econômico, seguindo o modelo do embargo imposto à África do Sul na época do apartheid.
Desde julho de 2006, o Conselho de Segurança da ONU já aprovou três resoluções - duas delas com sanções moderadas- determinando que o Irã suspenda seu programa de enriquecimento de urânio e prove que suas intenções são pacíficas, como declara o regime dos aiatolás. Apesar da pressão, o governo iraniano não só ignorou a determinação, como anunciou a ampliação de seu programa nuclear.
Washington, que acusa Teerã de tentar ganhar tempo para chegar à bomba atômica, defende a ampliação das sanções -uma reunião com as principais potências negociadoras, fora do campo de ação das Nações Unidas, foi convocada para a próxima sexta-feira para discutir a possibilidade.
Ontem o premiê francês, François Fillon, também procurou amenizar o discurso belicista de Kouchner, mas confirmou que seu país está negociando com parceiros europeus a aplicação de sanções contra o Irã fora do âmbito da ONU.
A agência de notícias oficial iraniana Irna criticou ontem a posição francesa, que acusou de ser uma versão "ainda mais inflamada e ilógica" da adotada por Washington.


Com agências internacionais


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