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AIEA cita Iraque para rejeitar ataque a Irã
Reagindo a menção à guerra pela França, chefe da agência nuclear da ONU diz que uso da força exige consenso e evoca baixas civis
Chanceler francês modera retórica da véspera, porém afirma que Paris negocia com países da UE a adoção de sanções fora da ONU
DA REDAÇÃO
Um dia após a declaração do
chanceler francês, Bernard
Kouchner, de que seu país e o
mundo devem se preparar para
uma guerra caso o Irã desenvolva armas atômicas, o diretor
da Agência Internacional de
Energia Atômica (AIEA), Mohamed el Baradei, lembrou ontem o conflito no Iraque para
criticar os que defendem o uso
da força contra Teerã.
El Baradei ressaltou a necessidade de dar uma chance à diplomacia para convencer o Irã
a tornar seu programa nuclear
transparente. "Eu não falaria
no uso da força", disse El Baradei, lembrando que só o Conselho de Segurança da ONU pode
autorizar tal ação. "Há regras
sobre como usar a força, e eu
espero que todos tenham
aprendido a lição depois da situação no Iraque, onde 700 mil
civis inocentes perderam suas
vidas sob a suspeita de que o
país tinha armas nucleares."
Paciência
O diplomata egípcio também
pediu paciência aos países que
o criticam pelo acordo firmado
em agosto com o Irã, no qual a
AIEA estabeleceu um cronograma para que o regime islâmico esclareça as dúvidas sobre
suas ambições atômicas em
troca de uma série de concessões. O acordo, negociado em
segredo, irritou os países que
defendem a ampliação das sanções contra o Irã, principalmente EUA e França.
"Até novembro ou dezembro
nós seremos capazes de saber
se o Irã está agindo de boa-fé ou
não", disse El Baradei. "Precisamos ficar frios e não ampliar
a questão iraniana."
Falando na abertura da 51ª
sessão da Conferência Geral da
AIEA, em Viena, El Baradei parecia estar dando uma resposta
à surpreendente subida de tom
da véspera empreendida pelo
chanceler da França, um dos
países que se opuseram com
mais vigor à decisão dos Estados Unidos de invadir o Iraque
sem o aval da ONU, em 2003.
Kouchner, em entrevista a
uma rádio francesa no domingo, disse que considerava intolerável a possibilidade de o Irã
obter a bomba atômica. "Temos que nos preparar para o
pior, e o pior é a guerra", disse.
Ontem, diante da forte reação doméstica e externa,
Kouchner moderou a retórica,
afirmando que a França continua comprometida com uma
solução pacífica. "A pior situação seria a guerra", disse o
chanceler, "e para evitar o pior
a posição francesa é muito clara: negociar, negociar, negociar. E trabalhar com nossos
amigos europeus em torno de
sanções confiáveis."
A caminho de Moscou,
Kouchner disse que vários países europeus, entre eles o Reino Unido e a Holanda, já haviam se manifestado a favor da
idéia francesa de aplicar sanções mais duras contra o Irã.
Elas se concentrariam no setor
econômico, seguindo o modelo
do embargo imposto à África do
Sul na época do apartheid.
Desde julho de 2006, o Conselho de Segurança da ONU já
aprovou três resoluções - duas
delas com sanções moderadas- determinando que o Irã
suspenda seu programa de
enriquecimento de urânio e
prove que suas intenções são
pacíficas, como declara o regime dos aiatolás. Apesar da
pressão, o governo iraniano
não só ignorou a determinação,
como anunciou a ampliação de
seu programa nuclear.
Washington, que acusa Teerã
de tentar ganhar tempo para
chegar à bomba atômica, defende a ampliação das sanções
-uma reunião com as principais potências negociadoras,
fora do campo de ação das Nações Unidas, foi convocada para a próxima sexta-feira para
discutir a possibilidade.
Ontem o premiê francês,
François Fillon, também procurou amenizar o discurso belicista de Kouchner, mas confirmou que seu país está negociando com parceiros europeus
a aplicação de sanções contra o
Irã fora do âmbito da ONU.
A agência de notícias oficial
iraniana Irna criticou ontem a
posição francesa, que acusou de
ser uma versão "ainda mais inflamada e ilógica" da adotada
por Washington.
Com agências internacionais
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