|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Chávez ameaça fechar escolas privadas
Presidente da Venezuela quer implantação de novo currículo, "bolivariano", ainda não divulgado
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
No dia em que a Venezuela
voltou às aulas, o presidente
Hugo Chávez apareceu em
duas cadeias obrigatórias de rádio e televisão, nas quais ameaçou com fechamento as escolas
privadas do país que não respeitarem "o sistema educacional bolivariano".
"Não podemos aceitar que o
setor privado faça o que lhe der
vontade. Eles acham que, por
serem privados, podem se negar a uma inspeção. Eles devem
se subordinar ao sistema educacional nacional e bolivariano.
Quem não quiser terá de fechar
a escola", disse Chávez, ontem
pela manhã, na primeira transmissão. "Intervém-se, nacionaliza-se e se assume a responsabilidade por essas crianças",
completou.
As duas transmissões obrigatórias mostraram Chávez inaugurando duas escolas públicas
no interior. No segundo evento,
na cidade de Maturín, um menino com não mais de sete anos
apareceu gritando "pátria, socialismo ou morte".
Educação bolivariana
O governo anunciou na semana passada que pretende
implantar a "educação bolivariana" nos próximos anos, mas
o projeto ainda não estaria
pronto. Uma versão preliminar
do currículo revelada na semana passada inclui como tema
obrigatório, por exemplo, o estudo do chamado socialismo do
século 21.
"Havia aqui textos que se regiam por programas oficiais,
que tinham uma educação
ideologizada, eurocêntrica. Foi
por meio dela que nos ensinaram a admirar Cristóvão Colombo e o Super-Homem", disse Chávez, que prometeu implantar o "sistema bolivariano"
em todo o país até abril de 2010.
As declarações de Chávez foram duramente criticadas pela
Câmara de Educação Privada,
que reúne 257 escolas, com cerca de 100 mil alunos. "Não vamos, por pressão do governo,
eliminar nossas propostas livres e assumir a que o governo
até agora não nos apresentou",
disse à Folha o presidente da
entidade, Octavio de Lamo.
"Se a educação bolivariana
fosse tão boa, não teríamos todos os filhos de funcionários
públicos em colégios privados.
Por que o presidente Chávez
não tenta convencer seus mais
fervorosos seguidores a inscrever seus filhos nas escolas oficiais de educação?", questionou De Lamo, em referência a
uma prática bastante conhecida no país.
Segundo ele, o governo vem
promovendo uma "perseguição" às instituições privadas
nos últimos anos. Como exemplo, cita o congelamento das
mensalidades escolares para
este ano letivo, apesar de a inflação dos últimos 12 meses ter
sido de 16% -a mais alta de toda a América Latina.
"O governo quer enfraquecer
o setor privado para depois
submetê-lo ao projeto bolivariano. Não há aumento de salas
de aula, não há investimento
pedagógico porque nos últimos
três anos o setor privado vem
sofrendo uma perseguição econômica muito grande", disse.
A única mudança oficializada até agora sobre a nova proposta educacional foi a do fuso
horário nacional. A partir da
próxima segunda-feira os relógios serão atrasados em meia
hora para que, diz o governo, os
estudantes acordem de manhã
já com a luz do sol.
Texto Anterior: EUA vêem melhora boliviana e piora afegã em deter drogas Próximo Texto: Estados Unidos: Especialista em segurança é o novo secretário da Justiça Índice
|