São Paulo, sábado, 18 de setembro de 2010

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ANÁLISE

Ao bater boca em almoço, ou volta às suas origens

Popularidade jamais esteve tão baixa, e sua meta de conquistar um 2º mandato em 2012 parece implausível

Sarkozy quer retomar coalizão partidária para vencer nas eleições de 2012


BEN HALL E PEGGY HOLLINGER
DO "FINANCIAL TIMES"

Até mesmo sob seus próprios padrões, o desempenho do presidente francês Nicolas Sarkozy na conferência de cúpula da União Europeia na quinta-feira, em defesa da expulsão de migrantes pelo seu país, foi extraordinário.
Durante um almoço com 26 líderes europeus, ele bateu boca com José Manuel Barroso, presidente da Comissão Europeia. O que aconteceu na quinta-feira foi que Sarkozy estava defendendo seu país contra a interferência de Bruxelas. O desafio que apresentou expôs ao mundo a súbita virada à direita das posturas do presidente com relação ao crime e à imigração.
Que Sarkozy esteja disposto a cortejar tamanha controvérsia internacional é algo notável, por causa de suas pretensões à liderança europeia, além da esperança de tirar vantagem política interna quando a França assumir a presidência do G20.
Mas sua situação é precária. A popularidade de Sarkozy jamais esteve tão baixa, e sua meta de conquistar um segundo mandato em 2012 parece implausível.
O governo está sob pressão devido a alegações de financiamento irregular a partidos políticos e de troca de favores entre um ministro e Liliane Bettencourt. Sarkozy deu sua virada política à direita com um discurso espantoso em julho na cidade de Grenoble. O presidente declarou que a França estava "vendo as consequências de 50 anos de imigração insuficientemente controlada, que resultaram em fracasso de integração".
A estratégia política que embasa a mensagem de Sarkozy é clara: para vencer em 2012, ele precisa recriar a coalizão eleitoral entre centro e extrema direita que o levou ao poder em 2007 e terminou fragmentada devido a reformas impopulares.
O desempenho da Frente Nacional, partido de extrema direita, nas eleições regionais preocupou o governo. A campanha, ou ao menos a controvérsia que ela deflagrou no exterior, certamente parece ter cimentado o apoio parlamentar ao presidente.
Existem poucos indícios de que a virada política de Sarkozy tenha conquistado mais eleitores. "Houve uma espécie de estabilização", diz Jérôme Fourquet, do instituto de pesquisa Ifop.
A repressão que Sarkozy decretou contra os imigrantes também acarreta o risco de reforçar a principal causa de sua impopularidade: a desaprovação, ou até repulsa, diante da maneira pela qual exerce o poder.
O apelo à sua base conservadora é previsível, diz o professor Zaki Laïdi, da Sciences Po, mas representa um potencial ponto fraco. "Ele está fazendo aquilo que seus oponentes esperam e, para a esquerda, isso é muito bom".

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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