|
Próximo Texto | Índice
Consórcio brasileiro causa confusão na eleição no Equador
Procuradoria-Geral diz que órgão eleitoral burlou trâmites ao contratar E-Vote; centenas protestam e acusam fraude
Pressionado a renunciar, presidente do TSE diz ter sido ameaçado de morte; órgão não decide se divulga resultado somado por firma
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A QUITO
Depois de tumultuar as eleições no Equador ao atrasar a
apuração dos votos e apesar de
prometer que entregaria os resultados finais ontem, o consórcio brasileiro E-Vote voltou
a falhar. Até o final desta edição, a apuração dos votos a presidente só havia avançado 1,66
ponto percentual em relação a
domingo -de 70,59% para
72,25%. Já apuração parlamentar não havia saído do zero.
O problema no atraso da apuração continuou sendo o principal assunto político do dia no
Equador. Cada vez mais pressionado a renunciar, o presidente do Tribunal Superior
Eleitoral do país, Xavier Cazar,
em entrevista à rádio "Ecuoradio", voltou a negar que tenha
havido fraude e pediu "tranqüilidade" à população. Disse ainda que ele e sua filha foram
ameaçados de morte.
A Procuradoria-Geral e a
Controladoria-Geral do Equador responsabilizaram ontem o
TSE pelos problemas com a
apuração do E-Vote e afirmaram que assinatura do contrato
não seguiu trâmites legais.
Anteontem à noite, algumas
centenas de manifestantes foram à sede do TSE (Tribunal
Superior Eleitoral) exigir a renúncia de Cazar e protestar
contra o E-Vote.
O representante do E-Vote
no país, o equatoriano Santiago
Murray, havia prometido ontem à noite que o consórcio entregaria os resultados hoje e pediu desculpas pelo atraso.
O porta-voz do TSE Jorge
Valdospinos, no entanto, disse
à Folha que o órgão eleitoral só
soube do novo prazo dado pelo
E-Vote via imprensa.
Segundo Valdospinos, como
o contrato com o E-Vote foi revogado anteontem, o TSE ainda não havia decidido se divulgaria uma eventual apuração
final feita pelo consórcio.
Ao longo do dia de ontem,
houve informações desencontradas sobre o trabalho do E-Vote. O canal de TV CN3 chegou a informar que o consórcio
havia terminado a apuração,
mas que sua divulgação precisava ser autorizada pelo TSE.
O fiasco na contagem reforçou as acusações do esquerdista Rafael Correa (Alianza Pais),
feitas desde o domingo, de que
houve fraude nas eleições. Ontem, Correa disse que o consórcio E-Vote praticou irregularidades em conluio com seu concorrente no segundo turno, o
megaempresário de direita Alvaro Noboa.
Correa também pediu à Procuradoria a prisão de Murray,
mas o órgão não havia se manifestado até ontem à noite
Noboa, candidato do Priam
(Partido Renovador Institucional Ação Nacional), também
criticou o E-Vote, mas descartou qualquer possibilidade de
fraude.
O chefe da missão de observadores da OEA (Organização
dos Estados Americanos), o ex-chanceler argentino Rafael
Bielsa, voltou a descartar irregularidades ontem.
Bielsa, no entanto, disse que
a missão havia advertido o TSE
sobre a fragilidade do sistema
de contagem rápida, que deveria ter sido concluída ainda na
noite de domingo, quando foram realizadas as eleições.
Apuração oficial
A apuração oficial confirma
que o aliado do presidente Hugo Chávez disputará o segundo
turno com "rei da banana" noboa no ainda distante 26 de novembro. Com 59,9% dos votos
apurados oficialmente pelo
TSE, o direitista aparecia com
25,31% dos votos válidos, contra 24,58% de Correa.
A apuração oficial apresenta
uma pequena diferença com a
contagem rápida do E-Vote,
que, com a apuração em
72,25%, dava uma vantagem de
pouco mais de quatro pontos
percentuais de Noboa sobre
Correa.
O TSE prometeu entregar os
resultados presidenciais ainda
hoje, mas não estabeleceu um
prazo para divulgar os nomes
dos cem parlamentares eleitos
no domingo, provocando acusações de irregularidades de vários candidatos.
O fracasso do E-Vote ocupou
as manchetes de praticamente
todos os jornais do Equador.
No "El Comercio", o principal
do país, o título era: "O colapso
no envio de dados provocou outra crise".
Próximo Texto: Saiba mais: Contrato do E-Vote previa compilar atas Índice
|