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ELEIÇÕES NA ARGENTINA / POLÍTICA DE DIREITOS HUMANOS
Dinheiro é a preocupação dos militares
Forças Armadas argentinas vêem seus recursos no Orçamento diminuírem
Inquietação do setor é maior com falta de verba para se aparelhar e pagar salários do que com os julgamentos de repressores da ditadura
DE BUENOS AIRES
Principais protagonistas dos
fatos que hoje o governo Kirchner revira, as Forças Armadas
argentinas parecem mais preocupadas com suas precárias
condições do que com os julgamentos dos crimes da ditadura.
A recente condenação do padre Christian von Wernich foi
defendida pelo atual comandante do Exército, Roberto
Bendini. "Quando assumi o
Exército, disse que, se nós queríamos em algum momento encerrar o ocorrido na década de
1970, tínhamos de julgar e condenar todos que tivessem cometido delitos ou violações dos
direitos humanos", afirmou.
Bendini é o mesmo que em
março de 2004 foi forçado por
Kirchner a remover de uma
instalação do Exército os quadros dos ditadores Rafael Videla e Reynaldo Bignone. Práticas
como essa levaram a candidata
presidencial opositora Elisa
Carrió a acusar o governo de
"humilhar as Forças Armadas".
A verdadeira humilhação,
porém, parece ser a orçamentária. Para a analista de questões
militares Marcela Donadío, "os
militares estão mais preocupados com o salário, sobretudo os
mais jovens; 90% deles não estavam nas Forças Armadas [na
ditadura] e não têm de pagar
pelo passado".
Não é o caso daqueles que até
a semana passada ocupavam o
prédio da Esma. Desalojados
para que o local vire um museu,
os 400 cadetes por ora estão
tendo aulas no salão de festas
de um prédio da instituição.
O Orçamento pode explicar.
Em 2003, o governo Kirchner
gastou o equivalente em pesos
a US$ 840 milhões com as Forças Armadas, 4,05% do Orçamento total daquele ano. Desde
então, o valor absoluto aumentou -chegou a US$ 1,1 bilhão
neste ano e tem uma previsão
de US$ 1,4 bilhão para o ano
que vem. Em comparação com
o total do Orçamento, porém, o
gasto caiu a 3,18% neste ano e
2,72% na previsão para o ano
que vem, índices mais baixos na
série histórica desde 1993.
As Forças Armadas reivindicam pelo menos mais US$ 400
milhões. Sustentam que, se a
Argentina iniciasse uma guerra
hoje, só poderia combater por
um dia, por falta de munição.
(RR)
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