São Paulo, quinta-feira, 18 de outubro de 2007

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA / POLÍTICA DE DIREITOS HUMANOS

Dinheiro é a preocupação dos militares

Forças Armadas argentinas vêem seus recursos no Orçamento diminuírem

Inquietação do setor é maior com falta de verba para se aparelhar e pagar salários do que com os julgamentos de repressores da ditadura

DE BUENOS AIRES

Principais protagonistas dos fatos que hoje o governo Kirchner revira, as Forças Armadas argentinas parecem mais preocupadas com suas precárias condições do que com os julgamentos dos crimes da ditadura.
A recente condenação do padre Christian von Wernich foi defendida pelo atual comandante do Exército, Roberto Bendini. "Quando assumi o Exército, disse que, se nós queríamos em algum momento encerrar o ocorrido na década de 1970, tínhamos de julgar e condenar todos que tivessem cometido delitos ou violações dos direitos humanos", afirmou.
Bendini é o mesmo que em março de 2004 foi forçado por Kirchner a remover de uma instalação do Exército os quadros dos ditadores Rafael Videla e Reynaldo Bignone. Práticas como essa levaram a candidata presidencial opositora Elisa Carrió a acusar o governo de "humilhar as Forças Armadas".
A verdadeira humilhação, porém, parece ser a orçamentária. Para a analista de questões militares Marcela Donadío, "os militares estão mais preocupados com o salário, sobretudo os mais jovens; 90% deles não estavam nas Forças Armadas [na ditadura] e não têm de pagar pelo passado".
Não é o caso daqueles que até a semana passada ocupavam o prédio da Esma. Desalojados para que o local vire um museu, os 400 cadetes por ora estão tendo aulas no salão de festas de um prédio da instituição.
O Orçamento pode explicar. Em 2003, o governo Kirchner gastou o equivalente em pesos a US$ 840 milhões com as Forças Armadas, 4,05% do Orçamento total daquele ano. Desde então, o valor absoluto aumentou -chegou a US$ 1,1 bilhão neste ano e tem uma previsão de US$ 1,4 bilhão para o ano que vem. Em comparação com o total do Orçamento, porém, o gasto caiu a 3,18% neste ano e 2,72% na previsão para o ano que vem, índices mais baixos na série histórica desde 1993.
As Forças Armadas reivindicam pelo menos mais US$ 400 milhões. Sustentam que, se a Argentina iniciasse uma guerra hoje, só poderia combater por um dia, por falta de munição. (RR)


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