|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Conservadores reagem a multilateralismo
Filha de ex-vice Dick Cheney cria grupo de "defesa" dos EUA e analista lança um manifesto pró-hegemonia americana
Reação ganha força com o Prêmio Nobel da Paz dado a Obama e a participação aplaudida do democrata na Assembleia Geral da ONU
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Os EUA estão perdendo poder como potência hegemônica
no mundo, e isso é ruim. As
duas provas mais recentes são o
Prêmio Nobel da Paz dado ao
presidente Barack Obama por
seu multilateralismo e o exercício dessa característica ao participar na Assembleia Geral da
ONU, em setembro, sob aplauso mundial. Cabe aos conservadores americanos recolocar o
país no rumo certo, abandonado desde o fim do governo
George W. Bush (2001-2009).
A missão foi delineada pela
filha mais velha do ex-vice-presidente Dick Cheney, Liz, e pelos renomados analistas William Kristol e Charles Krauthammer. Os dois primeiros
acabam de criar um grupo de
nome autoexplicativo, o Keep
America Safe (mantenha os
EUA seguros), cujo objetivo é
"a defesa sem desculpas da luta
contra o terrorismo pelo mundo, da vitória nas guerras que
esse país luta, da democracia e
os direitos humanos e de Forças Armadas americanas fortes, necessárias no mundo perigoso em que vivemos".
O último deu palestra no dia
5 no Manhattan Institute for
Policy Research, de Nova York,
intitulada "O Declínio É Uma
Escolha", que viraria a reportagem de capa do semanário conservador "The Weekly Standard", editado por Kristol. Nela, Krauthammer defende que
os americanos precisam perder
a vergonha de querer ser hegemônicos, que a conquista do
Iraque foi um "prêmio" e que a
decadência que segundo ele decorrerá do multilateralismo
progressista é uma escolha, não
um destino, e pode ser evitada.
"Primeiro, temos de aceitar
nosso papel como [uma potência] hegemônica e rejeitar
aqueles que negam sua benignidade essencial", escreve o colunista da "Time" e do "Washington Post" . "Há uma razão
pela qual nós somos a única hegemonia da história moderna
que não gerou imediatamente a
criação de uma aliança contra-hegemônica maciça -como
ocorreu, por exemplo, contra a
França napoleônica ou a Alemanha nazista. Há uma razão
pela qual tantos países no Pacífico e no Oriente Médio e na
Europa Oriental e na América
Latina saúdam nossa presença
como poder moderador e garantidor de liberdades."
Qual a razão? "É simples: nós
somos a hegemonia mais benigna que o mundo verá."
Reação
Desde a eleição do democrata, voltou a ganhar força a tese
de que o mundo caminha para
uma realidade multipolar, em
que os EUA abrem mão ou perdem parte do poder, para ganho
de outras nações, como o bloco
de potências emergentes lideradas pela China. Logo ao assumir, a secretária de Estado, Hillary Clinton, usou a expressão
acadêmica "poder inteligente",
cara aos defensores da tese, que
prevê o uso de força militar em
último caso e privilegia diplomacia e engajamento público.
Daí as assertivas polêmicas
dos últimos dias terem detonado uma reação à altura. Analistas progressistas compararam
tais manifestos no campo da
política externa às ações extremas antiobamistas tomadas
por insatisfeitos com o governo
democrata no campo interno,
marcadas por cartazes que chamavam o presidente de nazista
e a presença de manifestantes
armados em encontros públicos para discutir a reforma do
setor de saúde.
Para Joe Klein, também da
"Time", o "quase imperialismo" do colega representa um
"neocolonialismo brutal e condescendente" e nunca teve a
simpatia do povo americano.
"Ele não funciona no mundo. É
ele, na verdade, a causa do declínio da autoridade moral e do
poder americanos nos últimos
oito anos."
Já Ezra Klein, do "Washington Post", diz que a escolha
proposta pelos conservadores é
falsa. "Pode-se pensar fim de
um mundo em que os EUA são
a única superpotência de duas
maneiras: é o declínio americano, como prefere meu colega
Krauthammer; ou é uma melhora global, que é o que pensa
meu colega Fareed Zakaria. Eu
estou com o último."
Michael Barone, analista do
centro de pensamento conservador American Enterprise
Institute, adota uma posição
mais conciliatória. "Eu sou a favor de os EUA usarem instituições internacionais e diplomacia inteligente quando isso servir aos interesses dos EUA, que
incluem avançar a liberdade e a
democracia no mundo", disse
ele à Folha. "Mas eu acho que o
governo Obama superestima o
grau em que essas instituições
podem avançar essas metas."
A discussão está só no início.
Texto Anterior: Incêndio: Fogo em fábrica de fogos na Índia mata 32 Próximo Texto: Afeganistão: Otan solicita tropas adicionais Índice
|