São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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CORÉIA DO NORTE

Funcionário não identificado do governo norte-coreano faz a afirmação na rádio estatal, segundo rede britânica

Pyongyang admite ter arma nuclear, diz BBC

DA REDAÇÃO

A Coréia do Norte admitiu ontem, pela primeira vez, que tem armas nucleares, de acordo com a rede britânica BBC, que citou uma rádio estatal norte-coreana.
Segundo a reportagem, um funcionário do governo norte-coreano afirmou que o país tinha desenvolvido "medidas militares de defesa poderosas, incluindo armas nucleares", para lidar com o que chamou de "crescentes ameaças nucleares" feitas pela administração americana.
No mês passado, Washington disse que a Coréia do Norte tinha reconhecido que possuía um programa de produção de urânio enriquecido, um componente-chave de armas nucleares.
Porém, caso a informação divulgada pela BBC se confirme, trata-se da primeira vez em que o Estado comunista reconhece publicamente ter armas de destruição em massa.
Em outubro, o Ministério das Relações Exteriores norte-coreano afirmou que o país "tinha o direito" de ter armas nucleares.
O presidente dos EUA, George W. Bush, pediu várias vezes a Pyongyang que pusesse fim a seu programa nuclear, afirmando que, sem isso, a Coréia do Norte não teria um futuro viável, já que não conseguiria inserir-se na comunidade internacional.
De acordo com a BBC, a mídia norte-coreana costuma apresentar uma retórica muito hostil em relação aos EUA. Assim, o comentário feito por um funcionário do governo não identificado talvez não possa ser levado tão a sério, pois pode não corresponder à verdade.
Segundo esse funcionário, há anos a Coréia do Norte mantém o Ocidente em dúvida em relação à sua capacidade nuclear.
O programa de rádio de ontem, de acordo com a reportagem, foi marcado por acusações de que Washington vem "injuriando e caluniando" a Coréia do Norte. As "manobras descuidadas" dos EUA estariam "ameaçando o direito à existência e a soberania" do país.
"Ante as circunstâncias, não podemos ficar sentados de braços cruzados", disse o funcionário não identificado do governo norte-coreano na rádio estatal.
Ainda segundo a BBC, ele também repetiu a exigência de Pyongyang de que Washington concorde em assinar um tratado de não-agressão, insistindo em que, sem isso, a disputa em torno do programa nuclear norte-coreano não poderá ser resolvida.
O momento em que a informação foi divulgada combina com o padrão das "confissões" norte-coreanas, para Michael Yahuda, professor de relações internacionais na London School of Economics and Political Affairs.
Ele disse à BBC que, com essa "confissão", os norte-coreanos estariam tentando abrir caminho para a realização de negociações com os EUA.
"Os EUA vêm ameaçando esfriar ainda mais suas relações com a Coréia do Norte. Respondendo dessa forma, Pyongyang quer dizer que também tem armas nucleares e que os dois países têm de encontrar um modo de começar as negociações", afirmou Yahuda.
O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, disse, no mês passado, que a Coréia do Norte pode ter uma ou duas ogivas nucleares.
Na semana passada, os EUA, a Coréia do Sul, a União Européia e o Japão concordaram em suspender a ajuda -em óleo combustível- que dão à Coréia do Norte até que Pyongyang ponha fim a seu programa nuclear.
Com o acordo de 1994, a Coréia do Norte concordou em congelar seu programa nuclear em troca de 500 mil toneladas de óleo combustível por ano. Porém Washington considera que Pyongyang tornou o acordo de 1994 inválido ao ter admitido a James Kelly, secretário-assistente de Estado dos EUA, que estava tentando construir uma arma nuclear.


Com agências internacionais


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