São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Lição do Vietnã é não desistir, afirma Bush

Em Hanói, Bush reitera que ainda não aceita possibilidade de deixar Iraque

Pesquisa mostra que só 31% aprovam ofensiva militar; substituição de soldados indica intenção de não diminuir as tropas no país

DA REDAÇÃO

Em seu primeiro dia no país onde os EUA sofreram sua grande derrota militar, e após meses tentando evitar comparações entre a Guerra do Vietnã e a ofensiva no Iraque, o presidente George W. Bush afirmou ontem que a grande lição do conflito dos anos 1960 e 70 é: "Vamos vencer, a menos que a gente desista".
"Tendemos a querer que haja um sucesso instantâneo no mundo, e a tarefa no Iraque vai levar um tempo", afirmou em Hanói, onde participará da cúpula da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico). "Vai levar um longo tempo para que a ideologia de esperança, que é uma ideologia de liberdade, supere a ideologia de ódio."
A violência descontrolada no Iraque e a incapacidade das forças americanas e iraquianas de reverterem a situação geram crescentes comparações entre os dois conflitos, e a visita de Bush acontece no momento em que os americanos debatem alternativas para a condução da guerra no Iraque.
No Congresso, a oposição democrata pressiona por um cronograma para a retirada, mas neoconservadores e falcões, como o senador republicano John McCain, veterano do Vietnã, defendem que não há saída honrosa e preconizam o aumento das tropas.
Pesquisa da Associated Press/Ipsos feita após as eleições legislativas do dia 7 mostra que apenas 31% dos americanos aprovam a ação no Iraque, o nível mais baixo desde a invasão do país, em março de 2003. O partido de Bush perdeu o controle do Congresso para os democratas numa eleição encarada por muitos como um referendo sobre a ofensiva militar lançada pelo republicano.
Ontem, o Departamento de Defesa americano anunciou que 57 mil soldados serão enviados ao país em 2007. Embora o número de militares não vá aumentar -apenas será feita uma substituição-, o anúncio indica a intenção de no mínimo manter a quantidade de soldados no Iraque, hoje em 141 mil.

Lição vietnamita
A "lição" mencionada por Bush ecoa a tese, de expoentes conservadores, de que os comunistas só chegaram ao poder em todo o Vietnã porque os americanos cortaram a ajuda militar e abandonaram os então aliados do Vietnã do Sul.
O presidente afirmou que, no Iraque, a derrota não é uma opção admissível. "O governo iraquiano vai conseguir [ter sucesso], a menos que a coalizão deixe o país antes de eles terem a chance de conseguir", disse.
Sob anonimato, autoridades da Casa Branca admitem que a visita ao Vietnã, agendada há meses, ocorre num péssimo momento, levando a comparações inevitáveis. Na semana passada, por exemplo, Bush se viu forçado a substituir seu secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. O democrata Lyndon Johnson, em 1968, também teve de trocar seu secretário; e procurou estadistas para aconselhar-se.

Ho Chi Minh
A Casa Branca tenta afastar o Iraque do foco das atenções. Questionado sobre "as lições da Guerra do Vietnã", o secretário de imprensa de Bush, Tony Snow, disse que "os vietnamitas não estão interessados nisso". "Isso [a visita] não será um olhar para o passado. Será um olhar para frente."
Ontem Bush teve uma seqüência de encontros com líderes vietnamitas: com o presidente Nguyen Minh Triet, o premiê Nguyen Tan Dung e o líder do Partido Comunista, Nong Manh. Em cada um, sentou com o anfitrião sob um grande busto de bronze de Ho Chi Minh (1890-1969), que comandou ofensiva contra os americanos. Bush disse que sua "primeira reação foi [ver] que a história tem uma longa marcha, sociedades mudam e relações podem constantemente ser alteradas para melhor".


Com agências internacionais


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