São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Senado dos EUA ratifica acordo nuclear com a Índia

Críticos vêem risco de corrida nuclear na Ásia; Nova Déli tem a bomba atômica

Decisão por 85 a 12 veio ao fim da atual legislatura; o texto tem longo caminho até que EUA possam vender combustível e equipamento

DA ASSOCIATED PRESS

O Senado americano aprovou anteontem por ampla maioria o projeto da Casa Branca de fornecer à Índia combustível e tecnologia nucleares, dando ao presidente George W. Bush uma importante vitória numa de suas principais iniciativas externas. O governo da Índia acolheu favoravelmente a votação e exprimiu reservas.
Os senadores republicanos e democratas, por 85 a 12, puseram fim a décadas de política de antiproliferação, em troca da cooperação com um aliado asiático que Washington acredita conduzir um programa nuclear "responsável". A Índia já explodiu a bomba atômica, estimulando o Paquistão, seu vizinho e rival, a fazer o mesmo.
Em Nova Déli, o primeiro-ministro Manmohan Singh exprimiu satisfação, mas disse que falta um longo caminho para que seja cumprido o acordo firmado em julho entre ele e o presidente Bush.
Sonia Gandhi, presidente do Partido do Congresso, situacionista, afirmou que "nada será aceito, exceto o cumprimento integral" do acordo de julho.
O Senado votou um texto diferente daquele aprovado pelos deputados americanos. As duas Casas precisam agora chegar a um projeto comum e enviá-lo à sanção presidencial.
Antes de entrar em vigor, o acordo deve ser submetido ao Grupo de Fornecedores Nucleares, países que exportam esse tipo de material. O governo indiano também deve obter a aprovação da AIEA (agência nuclear da ONU). Só depois disso o Congresso americano voltará a se manifestar.
Críticos do acordo argumentam que ele tende a provocar a ruína do regime de não-proliferação e estimular o crescimento do arsenal atômico indiano. A importação de urânio enriquecido americano levaria a Índia a concentrar seu enriquecimento no programa militar. A China e o Paquistão tendem, a partir de então, a produzir novas ogivas, o que estimularia a corrida armamentista na Ásia.
Analistas afirmaram em julho que, ao firmar o acordo, Bush sinalizou uma dupla orientação, ao se contrapor aos planos nucleares do Irã e da Coréia do Norte enquanto estimulava os planos da Índia.
A Casa Branca considera a Índia um grande mercado emergente, com o qual procura acelerar o comércio.
Em Cingapura, onde se encontrava, Bush publicou comunicado em que elogiou a decisão dos senadores americanos e argumentou que o acordo "traria a Índia de volta à corrente internacional de não-proliferação" e aumentaria a transparência de todo o seu programa nuclear civil.
O senador democrata Byron Dorgan qualificou o acordo de "um engano horrível". A seu ver, o Congresso americano lamentará no futuro a decisão agora tomada.
Os senadores rejeitaram emendas sobre a não-proliferação que Nova Déli não aprovaria. Também caiu a proposta de condicionar o acordo à interrupção, pela Índia, de sua cooperação militar com o Irã.
O texto de julho submete a inspeções internacionais os 14 reatores que a Índia possui para a produção de eletricidade. Mas os inspetores continuarão a não ter acesso a quatro outros reatores do programa militar.


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