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Falar de longe sobre Mianmar é fácil, diz chanceler
DO ENVIADO A CINGAPURA
Para EUA e Europa, é fácil
ameaçar Mianmar -que reprimiu violentamente protestos
pró-democracia em setembro e
outubro- com sanções econômicas. Eles estão longe. Para
Cingapura e os países da região,
é preciso ser realista e evitar
que a crise contamine a região,
diz o chanceler cingapurense
George Yeo, hoje presidente da
Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
O bloco reúne Brunei, Camboja, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Tailândia e Vietnã e aceitou o país
problemático em 1997, com a
promessa de que haveria uma
reforma política. Que nunca
veio. Na sede da Chancelaria,
guardada pelos ghurka, legendários soldados nepaleses, Yeo
falou à Folha sobre esse tema e
o Brasil.
(SD)
FOLHA - O sr. teme que Mianmar
vire um Iraque?
GEORGE YEO - Sim, é possível.
Mianmar é um membro da
Asean, é como se fosse da família. É muito desagradável confrontá-lo e criticá-lo publicamente. Mas não tivemos escolha, pois coisas terríveis aconteceram no país, violência foi
usada contra manifestantes,
monges foram feridos a tiros.
O que esperamos é reconciliação nacional. Que sejam feitos acordos rumo a uma solução política. Esperamos, mas
não é fácil. A missão da ONU,
nesse sentido, é muito importante. Fala com os dois lados,
transmite mensagens.
FOLHA - O Asean está disposto a
tomar ações concretas?
YEO - Sanções teriam muito
pouco impacto. O Ocidente impôs um embargo a Mianmar há
algum tempo já, sem maiores
resultados. Parcialmente porque é um país muito rico em recursos, com boa terra, florestas,
minerais, rubis, ouro. Mas também porque eles podem negociar com a China e a Índia. Você
pode fechar o portão principal,
mas os laterais e os de trás continuam abertos.
FOLHA - Qual a importância do
Brasil para Cingapura hoje?
YEO - O Brasil é uma grande
conta para nós. É fascinante como o o comércio vem crescendo. Você vai ao mercado em
Cingapura, e as asas de frango
são todas do Brasil. Nossos investimentos estão crescendo
em dois portos no Rio de Janeiro, com 20 mil trabalhadores e
bilhões de dólares de faturamento para a Petrobras. Temos
investimento grande em celulose e cobre, interesse em soja,
etanol. A Embraer tem um escritório regional aqui, treina
muitos de seus pilotos aqui.
FOLHA - E quando sai o tratado
Mercosul-Cingapura?
YEO - Estamos na fase de entendimento. Visitei todos os
países do bloco. O interesse pela Ásia está crescendo. Espero
que no futuro possamos ter um
acordo e que façamos um tratado Mercosul-Asean.
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