São Paulo, domingo, 18 de novembro de 2007

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Falar de longe sobre Mianmar é fácil, diz chanceler

DO ENVIADO A CINGAPURA

Para EUA e Europa, é fácil ameaçar Mianmar -que reprimiu violentamente protestos pró-democracia em setembro e outubro- com sanções econômicas. Eles estão longe. Para Cingapura e os países da região, é preciso ser realista e evitar que a crise contamine a região, diz o chanceler cingapurense George Yeo, hoje presidente da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean).
O bloco reúne Brunei, Camboja, Cingapura, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Tailândia e Vietnã e aceitou o país problemático em 1997, com a promessa de que haveria uma reforma política. Que nunca veio. Na sede da Chancelaria, guardada pelos ghurka, legendários soldados nepaleses, Yeo falou à Folha sobre esse tema e o Brasil. (SD)

 

FOLHA - O sr. teme que Mianmar vire um Iraque?
GEORGE YEO
- Sim, é possível. Mianmar é um membro da Asean, é como se fosse da família. É muito desagradável confrontá-lo e criticá-lo publicamente. Mas não tivemos escolha, pois coisas terríveis aconteceram no país, violência foi usada contra manifestantes, monges foram feridos a tiros. O que esperamos é reconciliação nacional. Que sejam feitos acordos rumo a uma solução política. Esperamos, mas não é fácil. A missão da ONU, nesse sentido, é muito importante. Fala com os dois lados, transmite mensagens.

FOLHA - O Asean está disposto a tomar ações concretas?
YEO
- Sanções teriam muito pouco impacto. O Ocidente impôs um embargo a Mianmar há algum tempo já, sem maiores resultados. Parcialmente porque é um país muito rico em recursos, com boa terra, florestas, minerais, rubis, ouro. Mas também porque eles podem negociar com a China e a Índia. Você pode fechar o portão principal, mas os laterais e os de trás continuam abertos.

FOLHA - Qual a importância do Brasil para Cingapura hoje?
YEO
- O Brasil é uma grande conta para nós. É fascinante como o o comércio vem crescendo. Você vai ao mercado em Cingapura, e as asas de frango são todas do Brasil. Nossos investimentos estão crescendo em dois portos no Rio de Janeiro, com 20 mil trabalhadores e bilhões de dólares de faturamento para a Petrobras. Temos investimento grande em celulose e cobre, interesse em soja, etanol. A Embraer tem um escritório regional aqui, treina muitos de seus pilotos aqui.

FOLHA - E quando sai o tratado Mercosul-Cingapura?
YEO
- Estamos na fase de entendimento. Visitei todos os países do bloco. O interesse pela Ásia está crescendo. Espero que no futuro possamos ter um acordo e que façamos um tratado Mercosul-Asean.


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