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GUERRA SEM LIMITES
"A Livre" promete jornalismo de qualidade, busca melhorar imagem dos EUA e deve transmitir já em janeiro
EUA lançam TV árabe para Oriente Médio
JIM RUTENBERG
DO "NEW YORK TIMES"
A próxima grande esperança
dos EUA para a conquista dos corações e mentes árabes se esconde
num prédio de dois andares situado num parque industrial em
Springfield, Virgínia. O único indício do que possivelmente acontece lá dentro é um letreiro na
porta dizendo: "Notícias".
No interior do prédio, operários
trabalham sete dias por semana
para completar o estúdio do mais
ambicioso projeto de mídia internacional patrocinado pelo governo americano desde que a rádio
Voz da América deu início a suas
transmissões, em 1942.
O projeto se chamará Al Hurra e
será uma rede de TV de entretenimento e jornalismo em língua
árabe. A programação será transmitida via satélite de um subúrbio
de Washington para o Oriente
Médio. O nome da rede pode ser
traduzido como "A Livre".
A idéia é que a Al Hurra seja a
resposta dos EUA a redes como a
Al Jazira, do Qatar, que a Casa
Branca acusa de incentivar o antiamericanismo no Golfo Pérsico.
A rede pode começar a transmitir já em janeiro. Mas já enfrenta
ceticismo, mesmo por parte de
um especialista em Oriente Médio
indicado pelo secretário de Estado, Colin Powell, para rever os esforços de relações públicas dos
EUA no mundo árabe.
Muitos estudiosos do Oriente
Médio questionam se o público-alvo da nova rede, que desconfia
de tudo o que vem dos EUA, algum dia poderá aceitá-la, especialmente pelo fato de seu centro
de transmissão principal ficar na
Virgínia. Mesmo que ela venha a
ser aceita, alguns especialistas dizem duvidar que uma rede de TV
isolada exerça impacto suficiente
para justificar os US$ 62 milhões
previstos para os custos de seu
primeiro ano em operação.
A equipe responsável pela Al
Hurra, uma mistura estranha de
executivos de mídia americanos e
jornalistas árabes veteranos, disse
que a emissora terá independência editorial, seguindo o exemplo
de outras organizações do tipo,
como a Voz da América e a Rádio
Europa Livre.
Reconhecendo os desafios, eles
disseram que a nova rede vai reproduzir os melhores valores do
jornalismo americano e representar a melhor oportunidade vista
até agora de aprofundar a compreensão que se tem dos EUA no
Oriente Médio. "Enfrentamos um
ambiente de mídia que inclui discursos de ódio na rádio e na TV",
disse Norman J. Pattiz, que chefia
o comitê de Oriente Médio do organismo americano que financia
e supervisiona o projeto, além da
Voz da América e vários outros.
"É dentro desse ambiente que os
árabes comuns recebem sua visão
de nossa política, nossa cultura,
nossa sociedade. Não podemos
ignorar a mídia local", disse ele,
acrescentando que a Al Hurra poderá ser vista em todo lugar no
Oriente Médio que tem acesso à
Al Jazira.
De acordo com Pattiz, nos próximos meses a rede já contará
com uma sucursal e estúdios no
Iraque, pagos por uma verba de
US$ 40 milhões incluída no pacote presidencial de US$ 87 bilhões
em assistência financeira ao Iraque e ao Afeganistão. Outras sucursais serão abertas na região.
Ao lado de uma rádio em língua
árabe que foi aberta há quase dois
anos, a rádio Sawa, o projeto da Al
Hurra começou a ter sua implementação acelerada depois dos
ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, quando o governo
americano reconheceu a necessidade de fazer frente ao sentimento antiamericano na mídia árabe.
Outros projetos nascidos na
época fracassaram ou vêm fraquejando, sendo motivo de frustração e desapontamento consideráveis nos círculos diplomáticos americanos.
Os responsáveis pelo Al Hurra
disseram que o projeto atual é
mais bem pensado e foi montado
com a ajuda das técnicas de marketing e produção americanas.
Mas eles esperam que a rede tenha uma sensibilidade árabe, que
se prevê seja garantida por seu diretor de jornalismo, o libanês
Mouafac Harb, antigo diretor da
sucursal de Washington do jornal
diário árabe "Al Hayat", de Londres. Harb está contratando uma
equipe de mais de 200 pessoas,
boa parte delas árabe.
O presidente da rede, Bert
Kleinman, disse que pessoas no
Egito e no Bahrein que participaram de grupos de consumidores
que avaliam novos produtos reagiram positivamente a uma descrição da Al Hurra. Mas reconheceu: "Quando perguntamos se
uma rede justa e equilibrada poderia ser americana, alguns disseram "de jeito nenhum" ".
Executivos responsáveis pelo
projeto da TV disseram ter ficado
animados com o fato de a Rádio
Sawa, uma estação voltada ao público jovem que mistura pop ocidental e oriental e que também
era vista como fadada ao fracasso,
ter criado um público de pelo menos 15 milhões de ouvintes em todo o Oriente Médio.
O símbolo que identifica a Al
Hurra é um cavalo árabe que vai
aparecer trotando sobre a tela durante os intervalos na programação.
Os responsáveis pela nova rede
reconhecem que um de seus
maiores desafios será convencer
as pessoas a assistirem à sua programação. Mas eles dizem que ela
deve se destacar no ambiente televisivo de cerca de 150 canais porque terá os mais altos valores de
produção da região.
Mas, de acordo com Harb, sua
qualidade distintiva mais importante será sua abordagem jornalística. "Em todos os jornais árabes, a seção de editoriais e artigos
de opinião fica na primeira página", disse ele. "Isso deu lugar a
uma cultura na qual não é possível saber a diferença entre notícia
e opinião", afirmou.
"Precisamos divulgar notícias
objetivas e balanceadas. No Ocidente, isso pode soar como o que
existe de mais básico em jornalismo, mas, no mercado árabe, será
um fator que vai diferenciar nossa
emissora da concorrência."
Tradução de Clara Allain
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