São Paulo, segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

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Xiitas da Tríplice Fronteira não falam sobre Hizbollah

EUA acusam membros da comunidade de financiar o grupo islâmico libanês

Imigrantes da região fronteiriça entre Brasil, Argentina e Paraguai se dizem perseguidos pelo governo americano


Antonio Gauderio/Folha Imagem
Libaneses tomam sorvete no centro de Foz do Iguaçu; xiitas são agora 45% dos imigrantes


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CIUDAD DEL ESTE E FOZ DO IGUAÇU

Pressionada pela decisão dos EUA de congelar ativos de nove de suas principais lideranças, a comunidade xiita de Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, na região da Tríplice Fronteira, entre Brasil, Argentina e Paraguai, adotou o silêncio como resposta às suspeitas de ligação com o Hizbollah.
Diferentemente de cinco anos atrás, quando a grande maioria dos árabes da região era de sunitas, hoje os xiitas respondem por 45% da comunidade, formada por aproximadamente 12 mil pessoas. Provenientes do sul do Líbano, berço do grupo extremista islâmico Hizbollah, os xiitas enfrentam constantes acusações de trabalhar no financiamento do grupo, considerado terrorista pelos EUA. Oficialmente, a Polícia Nacional do Paraguai e a Polícia Federal do Brasil negam qualquer envolvimento de árabes xiitas com o Hizbollah ou qualquer atividade política da comunidade na fronteira.
O caso mais emblemático é o de Assad Ahmad Barakat, preso desde 2002 pela Justiça paraguaia. Inicialmente acusado pelos paraguaios de coletar recursos para o Hizbollah, Barakat foi condenado por sonegação fiscal, sem que ficasse comprovada qualquer participação sua em atividades terroristas.
Outra liderança xiita, Ali Muhammad Kazan, coordenador da escola libanesa em Foz do Iguaçu, recusou-se a falar com a Folha sobre a acusação, dos EUA, de que seria o sucessor de Barakat na coleta de recursos para o Hizbollah.
Segundo o Departamento do Tesouro dos EUA -quando anunciou, no início do mês, o congelamento de eventuais contas em território americano de nove árabes que vivem na Tríplice Fronteira-, Kazan teria arrecadado US$ 500 mil na região para o Hizbollah.
A alegação de Kazan para não conceder entrevista foi o final do ano letivo na escola e seu envolvimento com os conselhos de classe. Em julho, quando houve o confronto entre Israel e o Hizbollah no Líbano, Kazan esteve à disposição da imprensa.
"A mídia só dá a versão americana. Vocês queriam o que da gente?", questiona Kamal Ali Kamal, 23, nascido no Líbano e com cidadania paraguaia. Segundo Kamal, que se declarou adepto do Hizbollah, os EUA usam a presença de árabes para "manter escritórios de espionagem na região".
Ele se refere aos escritórios, em Ciudad del Este e Foz do Iguaçu, do Grupo 3 + 1 (Brasil, Argentina, Paraguai e EUA), que serão inaugurados no início de 2007, em uma cooperação contra o tráfico e o terrorismo. No Brasil, o escritório irá funcionar junto à sede da PF em Foz do Iguaçu.
Se a maioria na Tríplice Fronteira prefere não falar sobre o Hizbollah, atitudes de jovens árabes indicam que cresceu a simpatia pelo grupo, especialmente depois da guerra no Líbano. É comum encontrar nas ruas de Foz jovens com camisetas do Hizbollah.


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