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Eleição racha Congresso Nacional Africano
Partido que derrubou apartheid e desde então governa África do Sul abandona a escolha consensual de seu presidente
Jacob Zuma, apoiado por sindicatos, desafia liderança do presidente do país, Thabo Mbeki; escolha hoje determina sucessão de 2009
Siphiwe Sibeko/Reuters
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Partidários de Zuma cantam e dançam na Conferência Nacional do CNA em apoio à candidatura do vice-presidente da legenda
DA REDAÇÃO
Pela primeira vez em 58
anos, o Congresso Nacional
Africano (CNA) -que derrubou o apartheid e governa a
África do Sul desde o fim do regime segregacionista-quebrou
o consenso na escolha de seu líder. Reunidos na 52ª Conferência Nacional do partido, em Polokwane (cidadezinha vizinha a
Pretória), os cerca de 4.000 delegados escolherão hoje entre o
atual líder e presidente do país,
Thabo Mbeki, e Jacob Zuma,
vice-presidente da legenda.
Com ostensivo apoio dos sindicatos e de parte significativa
da base do CNA, Zuma é o favorito. Caso seja escolhido, ele terá enormes chances de ser eleito presidente em 2009, quando
seu antigo aliado e atual rival na
disputa pela maioria partidária
deixa o cargo.
Seu nome, porém, acirra divisões. Sobre ele pesam acusações de corrupção -que culminaram, em 2005, com seu afastamento da Vice-Presidência
do país. Zuma foi absolvido, no
ano passado, de uma acusação
de estupro, num julgamento
descrito como "um dos piores
momentos da democracia sul-africana" pelo influente Desmond Tutu, antigo arcebispo
da Cidade do Cabo e um dos
principais líderes da luta contra o apartheid.
Tutu tentou, sem sucesso,
convencer o CNA a optar por
um terceiro nome, consensual.
Ele afirma que a maioria dos cidadãos se "envergonharia" de
ter Zuma como líder. "Os líderes religiosos deveriam rezar
pelas pessoas, não condená-las", rebateu Zuma.
"É triste ver e ouvir sobre a
natureza das atuais divergências na organização", afirma o
ícone da luta antiapartheid e
primeiro presidente negro do
país, Nelson Mandela, em mensagem entregue ontem por delegados do partido. Aos 89
anos, Mandela não foi à conferência por razões de saúde.
Vaias
Apoiado pelos comunistas,
que atuam como grupo interno
no CNA, Zuma emerge como
uma alternativa ao centralizador Mbeki, cuja popularidade
declina dentro e fora do partido. À vontade diante de multidões, o político que nunca freqüentou salas de aula contrasta
com o pouco expansivo -e, segundo os críticos, "excessivamente conservador"- Mbeki.
No domingo, Mbeki foi vaiado quando discursava. Os delegados pró-Zuma levantaram-se
e, desafiantes, entoaram "Awulethe umshini wami" ("Tragam
minha metralhadora", canção
antiapartheid que é símbolo de
Zuma). "Quando chegamos
aqui, pensamos que haveria
disciplina, mas a intimidação
começa a afetar nosso povo",
criticou o vice-ministro da Defesa, Mluleki George, pró-Mbeki. Os delegados foram ameaçados com sanções disciplinares
caso não "moderassem" seu
comportamento.
Como Zuma fala em nacionalização das minas (a África do
Sul é o maior produtor mundial
de ouro e diamantes), o mercado mundial acompanha atentamente o desenrolar da conferência. "Tudo indica que Zuma
será nomeado e isso é uma
preocupação real para a África
do Sul", disse Carlin Doyle, da
administradora de serviços financeiros State Street Global.
A preferência dos investidores
é uma vantagem dúbia para
Mbeki, que pode prejudicá-lo
mais do que ajudá-lo hoje.
Desigualdade e Aids
Eleito presidente em 1999,
dois anos após tornar-se líder
do CNA -com decisiva aprovação de Nelson Mandela-, e reeleito em 2004, Mbeki enfrenta
um racha sem precedentes na
história recente do partido, alimentado pela desigualdade.
As ações afirmativas adotadas por seu governo levaram à
ascensão de uma parcela dos
negros, mas falharam em distribuir a riqueza.
A população da maior economia da África tem uma expectativa de vida de meros 42 anos
-comparável à de nações vizinhas, mas aparentemente contraditória com PIB per capita
de US$ 13.300, um dos maiores
da África. Em grande medida, a
alta mortandade está associada
à incidência da Aids no país:
21,5% dos adultos sul-africanos
são soropositivos.
Contrariando cientistas,
Mbeki não acredita que o vírus
HIV seja responsável pelo desenvolvimento da Aids. Ele
também critica os medicamentos anti-retrovirais -tratamento padrão para a doença-,
que só foram adotados recentemente no país. As crenças heterodoxas são, aparentemente,
compartilhadas por seu rival.
Quando acusado pelo estupro
de uma mulher que sabia ser
soropositiva, Zuma disse ter tomado banho para minimizar os
riscos de transmissão.
Com "Independent", "Financial Times" e agências internacionais
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