São Paulo, terça-feira, 18 de dezembro de 2007

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Lula dá respaldo e sugere "paciência" a Evo Morales

Em meio a elogios, brasileiro aborda Petrobras e crise em discurso em La Paz

Governador de Santa Cruz criticara visita do presidente Lula; Marco Aurélio se reúne com opositor moderado e diz que diálogo é solução

Sérgio Lima/Folha Imagem
Lula e Morales se cumprimentam em visita do brasileiro a La Paz; troca de elogios entre presidentes irritou oposição boliviana

LETÍCIA SANDER
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Enfrentando uma crise política que já dura meses, o presidente boliviano, Evo Morales, recebeu ontem respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a visita do brasileiro a La Paz. Em discurso na sede do governo, Lula clamou pela "serenidade, diálogo e respeito à democracia" e terminou sua fala com um conselho: "Paciência, paciência, paciência. Certamente o povo boliviano saberá ditar os rumos que vão consolidar a democracia".
A crise que se arrastava na Bolívia se agravou no último dia 24, com a aprovação do texto geral da nova Constituição, que ainda será submetida a referendo. A maior parte da oposição não reconhece o projeto.
No último sábado, quatro governadores oposicionistas declararam autonomia administrativa de seus departamentos em relação a La Paz.
Lula mesclou no discurso referências à crise na Bolívia, ao retorno da Petrobras ao país e à necessidade de integração regional. Voltou a dizer que os países mais ricos precisam assumir as "assimetrias da região" e concluiu: "Não interessa uma nação rica cercada de pobres por todos os lados".
O presidente disse "ter esperança" de que os bolivianos consigam resolver as "atuais dificuldades" de maneira pacífica. Ele também se mostrou solidário a Morales ao se referir aos "momentos de conturbações políticas" que viveu.
A visita de Lula num período de crise havia sido criticada pela oposição boliviana. O governador de Santa Cruz, Rubén Costas, afirmara no sábado: "O que vai acontecer depois é que vai ganhar a democracia. Um dia o presidente Lula vai ter que sentar conosco. E nós não vamos trabalhar com chantagens, como fez o presidente Morales".
Ontem, Lula e Evo trocaram elogios nos discursos. Lula prometeu ajudar a Bolívia em áreas como educação, energia, agricultura e defesa. O brasileiro por diversas vezes comemorou o fato de os dois não terem se afastado, apesar das pressões na época da nacionalização dos hidrocarbonetos.
Ao chegar a Montevidéu, onde ocorre hoje cúpula do Mercosul, o assessor internacional de Lula, Marco Aurélio Garcia, revelou que se reuniu em La Paz com o oposicionista moderado Samuel Dória Medina, do partido União Nacional. "Era o único membro da oposição nacional com o qual eu não tinha conversado. Ele felicitou a presença do Brasil. O que ele colocou é que eles querem ter mais diálogo. É fundamental que exista uma oposição com capacidade de expressão na Bolívia, que possa fazer chegar ao governo suas reivindicações."
Segundo Garcia, não há risco de golpe de Estado na Bolívia. "Há uma nítida divisão, opiniões enfrentadas. Mas, se ambas as partes controlarem seus radicais, não vamos ter nenhum radical livre por lá."


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