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Cúpula lança OEA com Cuba e sem EUA
Organização dos Estados da América Latina e do Caribe terá a sua criação formalizada até 2010; Lula vê "dia histórico"
Comunicado, vago sobre papel da nova entidade, acomoda interpretações divergentes de líderes pró-Washington e bolivarianos
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À COSTA DO SAUÍPE
Os líderes dos 33 países da
América Latina e do Caribe festejaram ontem na cúpula da
Costa do Sauípe o nascimento
da OEALC (Organização dos
Estados da América Latina e do
Caribe), uma espécie de OEA
do B, já que a Organização dos
Estados Americanos continuará funcionando, com 32 desses
países mais Estados Unidos e
Canadá (a exceção é Cuba, expulsa há 46 anos).
"É um dia histórico", celebrou o presidente-anfitrião,
Luiz Inácio Lula da Silva. Explicou: "Há mais de 200 anos todos os países conquistaram a
sua independência. Em 2022, a
do Brasil fará 200 anos. Mas é a
primeira vez que conseguimos
reunir todos os países da América Latina e do Caribe".
"Tomara que seja este o dia
da libertação", emendou o venezuelano Hugo Chávez.
As duas frases podem ser tomadas como o diferente modo
como a nova organização é vista. Para Chávez, Evo Morales
(Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Daniel Ortega (Nicarágua), é uma instituição antiimperialista e voltada principalmente para dentro. Para Lula,
Felipe Calderón (México) e
Cristina Kirchner (Argentina),
presidentes dos três países
mais importantes do subcontinente, é um mecanismo adicional de integração, por reunir o
conjunto de países das Américas, excetuados os dois únicos
ricos (EUA e Canadá).
"Todos nós, do menor ao
maior país, estamos compreendendo que, quanto mais nos
juntarmos, mais chances teremos de participação nas políticas globais, mais chances de
participação na riqueza global e
mais chances de evitar que a
crise, nascida nos países riscos,
atinja muito fortemente os países que não criaram a crise",
disse Lula na entrevista coletiva que encerrou a cúpula.
Já Chávez preferiu mencionar as medidas anticrise definidas há um mês, em cúpula da
Alba (Allternativa Bolivariana
para as Américas), que, como a
Folha já mostrou ontem, tratam de mecanismos regionais.
Calderón, ao contrário, referiu-se às propostas que o México
apresentou na cúpula do G20
em Washington, em novembro,
todas voltadas para a reconstrução do sistema financeiro
global, não regional.
Mas o caudaloso comunicado
oficial, de cinco páginas e meia,
é bem menos nítido, já que foi,
como de costume, redigido em
uma linguagem que possa ser
aceita sem preocupações pelo
México, sócio dos Estados Unidos no Nafta (o acordo de livre
comércio da América do Norte), e pela Venezuela, cujo presidente diz que "o capitalismo é
do Diabo".
Coube à Colômbia, um dos
países sul-americanos mais alinhados aos EUA, apesar de integrar o novo grupo, sair em defesa da OEA. "A integração significa valorizar o que já foi feito.
Organizações como a OEA nos
permitiram abrir um espaço de
diálogo em momentos difíceis",
disse o vice-presidente Francisco Santos, representante na
cúpula de Álvaro Uribe, que ficou na Colômbia para lidar
com o problema das enchentes.
Aos poucos
A OEALC, que Calderón prefere que se chame "União (ou
Unidade) da América Latina e
do Caribe", nascerá aos poucos.
No ano que vem, haverá uma
reunião ministerial para lançar
"as bases econômicas, sociais,
políticas e culturais" desse processo de integração.
Depois, em 2010, os presidentes voltam a se reunir, para
aí, sim, se tudo der certo, formalizar a nova instituição.
Antes, no entanto, haverá um
encontro no Chile, em março,
provavelmente de ministros,
para discutir posições conjuntas que serão levadas à reunião
do G20 de abril, em Londres.
Brasil, México e Argentina serão os porta-vozes.
Além da disputa ideológica,
há uma velada disputa de liderança. Ontem, um jornalista
perguntou a Chávez sobre a liderança que Lula vem exercendo nesse processo. Chávez reconheceu, como é óbvio, que se
trata de "uma liderança importante", mas emendou:
"Não se trata de que um país
seja líder. Trata-se de um conjunto de lideranças. A Bolívia
exerce liderança, o Equador
exerce liderança, Cuba também. É um conjunto de líderes,
de homens líderes, de mulheres
líderes, de povos líderes".
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