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McCain e Huckabee buscam direita cristã
Votação põe em xeque peso do grupo na Carolina do Sul, que tem primária republicana hoje; senador pelo Arizona é favorito
Levantamentos no Estado apontam para possível mudança de perfil; Giuliani, casado três vezes, foi favorito por várias semanas
DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A COLUMBIA
De uma única esquina entre
as ruas Hampton e Sumter de
Columbia, capital da Carolina
do Sul, avistam-se seis igrejas.
Há mais ao redor. E muitas outras, por todo lado, na cidade de
menos de 120 mil habitantes,
onde um passeio ajuda a entender como a religião, ali, tem um
peso histórico tão importante
nas eleições regionais.
Em 2000, por exemplo, o
atual presidente George W.
Bush se elegeu nas primárias
do Estado embalado pela chamada "direita cristã", o eleitorado religioso e mais conservador
que também escolheu Bob Dole
em 1996 e Bush pai em 1992 e
1988 -em todos os casos, fechou com o republicano que
venceu as primárias do partido.
Hoje a Carolina do Sul promove sua primária republicana, colocando em xeque o peso
do grupo no resultado das urnas. A primeira surpresa no Estado foi o fato de Rudolph Giuliani -casado três vezes e defensor de propostas um tanto
liberais para os padrões republicanos- ter chegado a liderar
as pesquisas por semanas.
No cenário atual, outra surpresa: a maioria das pesquisas
recentes apontava vitória de
John McCain, candidato que
dialoga bem com os democratas e defende, por exemplo, que
o presidente não deve vetar o
casamento homossexual.
Pesquisas projetam como segundo colocado o ex-governador do Arkansas e ex-pastor
Mike Huckabee, este sim o candidato mais afinado com os anseios da direita cristã: tem o
discurso eleitoral mais conservador do cardápio republicano
e faz questão de pregar nos comícios que é um cristão.
Após vencer no "caucus" (assembléia de eleitores) de Iowa,
Huckabee abriu larga vantagem no Estado, mas acabou
perdendo a primeira posição
para o senador do Arizona
quando este venceu em New
Hampshire e despontou como
favorito republicano nas pesquisas nacionais.
"Sendo tão conservador,
Huckabee seria o candidato
perfeito para os religiosos da
Carolina do Sul. E ele é muito
forte nesse grupo. O seu segundo lugar nas pesquisas tem
mais a ver com o bom desempenho de McCain em todo o país.
Os republicanos querem votar
em quem vença. E McCain
também é visto como conservador. Ele é experiente, não é
uma opção contraditória", disse à Folha Tomas E. Mann,
analista de política do Instituto
Brookings, de Washington.
Mann diz também que a ascensão de Giuliani a favorito no
Estado durante meses está ligada ao fato de os eleitores não
o conhecerem antes da campanha ganhar tanta amplitude.
"Ninguém conhecia Giuliani
no país, apenas sabiam que ele
foi duro com a criminalidade
em Nova York. A mídia e os outros candidatos mostraram depois que Giuliani não é o conservador que o Estado quer.
Foi questão de tempo para os
eleitores pensarem melhor",
diz o analista, que tem opinião
semelhante à do pastor batista
e representante (deputado) democrata Joseph H. Neal (leia
entrevista nesta página).
Qualidades
Em pesquisa encomendada
pelo canal de TV Fox News, na
qual McCain lidera por apenas
dois pontos percentuais de
vantagem, 21% dos eleitores de
Huckabee dizem ter decidido o
voto pelo fato de ele ser um
"verdadeiro conservador", motivo apontado por apenas 14%
dos eleitores de McCain. Por
outro lado, 35% dos eleitores de
McCain apontam que "ser um
líder forte" foi a principal qualidade considerada para escolhê-lo, enquanto apenas 8% dos
eleitores de Huckabee disseram o mesmo de seu candidato.
Ex-freqüentador da igreja
batista da esquina entre as ruas
Hampton e Sumter e hoje convertido muçulmano por razões
que não explica, o gerente de
restaurante Tajamul Abdul
Khaleq aposta que os eleitores
da cidade ainda escolherão
Huckabee. "Eu voto no [democrata Barack] Obama. Mas
Huckabee é cristão, fala que é
cristão o tempo todo, seus eleitores vão ser mais fiéis na hora
de ir votar", arrisca. O voto não
é obrigatório nos EUA.
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