São Paulo, sábado, 19 de janeiro de 2008

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McCain e Huckabee buscam direita cristã

Votação põe em xeque peso do grupo na Carolina do Sul, que tem primária republicana hoje; senador pelo Arizona é favorito

Levantamentos no Estado apontam para possível mudança de perfil; Giuliani, casado três vezes, foi favorito por várias semanas

DANIEL BERGAMASCO
ENVIADO ESPECIAL A COLUMBIA

De uma única esquina entre as ruas Hampton e Sumter de Columbia, capital da Carolina do Sul, avistam-se seis igrejas. Há mais ao redor. E muitas outras, por todo lado, na cidade de menos de 120 mil habitantes, onde um passeio ajuda a entender como a religião, ali, tem um peso histórico tão importante nas eleições regionais.
Em 2000, por exemplo, o atual presidente George W. Bush se elegeu nas primárias do Estado embalado pela chamada "direita cristã", o eleitorado religioso e mais conservador que também escolheu Bob Dole em 1996 e Bush pai em 1992 e 1988 -em todos os casos, fechou com o republicano que venceu as primárias do partido.
Hoje a Carolina do Sul promove sua primária republicana, colocando em xeque o peso do grupo no resultado das urnas. A primeira surpresa no Estado foi o fato de Rudolph Giuliani -casado três vezes e defensor de propostas um tanto liberais para os padrões republicanos- ter chegado a liderar as pesquisas por semanas.
No cenário atual, outra surpresa: a maioria das pesquisas recentes apontava vitória de John McCain, candidato que dialoga bem com os democratas e defende, por exemplo, que o presidente não deve vetar o casamento homossexual.
Pesquisas projetam como segundo colocado o ex-governador do Arkansas e ex-pastor Mike Huckabee, este sim o candidato mais afinado com os anseios da direita cristã: tem o discurso eleitoral mais conservador do cardápio republicano e faz questão de pregar nos comícios que é um cristão.
Após vencer no "caucus" (assembléia de eleitores) de Iowa, Huckabee abriu larga vantagem no Estado, mas acabou perdendo a primeira posição para o senador do Arizona quando este venceu em New Hampshire e despontou como favorito republicano nas pesquisas nacionais.
"Sendo tão conservador, Huckabee seria o candidato perfeito para os religiosos da Carolina do Sul. E ele é muito forte nesse grupo. O seu segundo lugar nas pesquisas tem mais a ver com o bom desempenho de McCain em todo o país. Os republicanos querem votar em quem vença. E McCain também é visto como conservador. Ele é experiente, não é uma opção contraditória", disse à Folha Tomas E. Mann, analista de política do Instituto Brookings, de Washington.
Mann diz também que a ascensão de Giuliani a favorito no Estado durante meses está ligada ao fato de os eleitores não o conhecerem antes da campanha ganhar tanta amplitude. "Ninguém conhecia Giuliani no país, apenas sabiam que ele foi duro com a criminalidade em Nova York. A mídia e os outros candidatos mostraram depois que Giuliani não é o conservador que o Estado quer. Foi questão de tempo para os eleitores pensarem melhor", diz o analista, que tem opinião semelhante à do pastor batista e representante (deputado) democrata Joseph H. Neal (leia entrevista nesta página).

Qualidades
Em pesquisa encomendada pelo canal de TV Fox News, na qual McCain lidera por apenas dois pontos percentuais de vantagem, 21% dos eleitores de Huckabee dizem ter decidido o voto pelo fato de ele ser um "verdadeiro conservador", motivo apontado por apenas 14% dos eleitores de McCain. Por outro lado, 35% dos eleitores de McCain apontam que "ser um líder forte" foi a principal qualidade considerada para escolhê-lo, enquanto apenas 8% dos eleitores de Huckabee disseram o mesmo de seu candidato.
Ex-freqüentador da igreja batista da esquina entre as ruas Hampton e Sumter e hoje convertido muçulmano por razões que não explica, o gerente de restaurante Tajamul Abdul Khaleq aposta que os eleitores da cidade ainda escolherão Huckabee. "Eu voto no [democrata Barack] Obama. Mas Huckabee é cristão, fala que é cristão o tempo todo, seus eleitores vão ser mais fiéis na hora de ir votar", arrisca. O voto não é obrigatório nos EUA.


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