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Hamas aceita trégua; Israel começa retirada
Após cessar-fogo unilateral israelense, grupo islâmico recua e diz que não lançará foguetes por sete dias para que israelenses saiam de Gaza
Recuo de tanques é parcial, mas suspende 22 dias de guerra; no Egito, potências regionais e UE buscam um cessar-fogo duradouro
MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV
Pouco mais de 12 horas após
rejeitar a trégua unilateral declarada por Israel, o grupo islâmico palestino Hamas também
decretou ontem um cessar-fogo imediato, dando um fim incerto a 22 dias de guerra na faixa de Gaza. Pouco depois, o
Exército israelense iniciou
uma retirada parcial de suas
tropas do território palestino.
Reunidos em Damasco, na
Síria, líderes do Hamas e de outros grupos extremistas anunciaram um cessar-fogo condicional de uma semana, prazo
dado a Israel para retirar-se totalmente da faixa de Gaza.
Com a suspensão dos bombardeios, a população palestina
pôde sair às ruas e ter uma ideia
da devastação. Três semanas de
ofensiva israelense deixaram
ao menos 1.300 mortos, a maioria civil. Praticamente todos os
prédios do governo controlado
pelo Hamas estão em ruínas, e a
infraestrutura foi seriamente
afetada, contaram moradores
de Gaza à Folha.
No lado israelense, que teve
13 mortos (10 soldados), as cidades próximas à fronteira
com Gaza tiveram os primeiros
sinais de volta à normalidade,
como a saída de famílias dos
abrigos contra foguetes e a reabertura de escolas. Diferente
do consenso nacional em prol
da ofensiva, uma pesquisa divulgada ontem mostrou uma
opinião pública dividida, com
41% dos israelenses a favor do
cessar-fogo e 41% contra.
Enquanto os canhões silenciavam, uma conferência convocada pelo Egito buscava cercar a frágil trégua de apoio internacional. Os egípcios tentarão agora negociar um cessar-fogo prolongado, que concilie
as exigências de Israel, principalmente o bloqueio à entrada
de armas em Gaza, e as do Hamas, a começar pela abertura
das passagens de fronteira.
Fragilidade
Apesar de o domingo ter sido
de relativa calma em Gaza, algumas escaramuças demonstraram a precariedade do cessar-fogo. Militantes palestinos
dispararam ao menos 15 foguetes contra o sul de Israel, incluindo alguns depois da trégua
do Hamas. Um deles atingiu
uma casa na cidade israelense
de Ashdod, deixando um ferido.
Fontes militares informaram
que Israel reagiu com dois ataques aéreos contra as milícias
que lançaram os foguetes. O
disparo constante contra as cidades do sul do país nos últimos anos foi a razão principal
alegada para a ofensiva iniciada
no dia 27 de dezembro, a maior
já feita contra alvos palestinos.
Ao anunciar o cessar-fogo, o
premiê Ehud Olmert disse que
Israel reagiria a novos disparos.
"Atingimos todos os objetivos
da guerra, e além", disse Olmert. "Mas se nossos inimigos
decidirem atacar, o Exército israelense se considerará livre
para responder com força."
Confirmando sinais que vinham se fortalecendo nos últimos dias, o Hamas aceitou indiretamente o cessar-fogo, anunciando a suspensão dos foguetes por sete dias.
"Nós, dos movimentos de resistência palestina, anunciamos um cessar-fogo na faixa de
Gaza e exigimos que as forças
inimigas se retirem em uma semana e abram todas as passagens de fronteira para permitir
a entrada de ajuda humanitária
e produtos básicos", disse
Moussa Abu Marzuk, número
dois do birô político do Hamas,
que tem sede em Damasco.
Em seguida, tropas israelenses começaram a sair de Gaza,
mas o governo deixou claro que
parte delas permanecerá no
território. "Não podemos falar
de um prazo até que saibamos
que o cessar-fogo está sendo
respeitado", disse o porta-voz
de Olmert, Mark Regev.
No balneário egípcio de
Sharm el-Sheikh, líderes árabes e europeus reiteraram a importância de um cessar-fogo
imediato, mas não deram detalhes de como será implementado o entendimento negociado
nas últimas semanas. A maior
dúvida é sobre a composição e o
mandato da força internacional
para monitorar a fronteira entre Gaza e o Egito, por onde entram armas para o Hamas.
Do Egito, a missão europeia,
composta de líderes dos principais países da UE, foi a Jerusalém, onde reforçou o apoio ao
acordo e prometeu contribuir
com o mecanismo de supervisão das fronteiras de Gaza, inclusive a marítima, e com a reconstrução do território. "Estamos dispostos a usar todos os
métodos, diplomáticos, terrestres e navais, para impedir o
tráfico de armas para Gaza",
disse o francês Nicolas Sarkozy.
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