São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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Hamas aceita trégua; Israel começa retirada

Após cessar-fogo unilateral israelense, grupo islâmico recua e diz que não lançará foguetes por sete dias para que israelenses saiam de Gaza

Recuo de tanques é parcial, mas suspende 22 dias de guerra; no Egito, potências regionais e UE buscam um cessar-fogo duradouro


MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A TEL AVIV

Pouco mais de 12 horas após rejeitar a trégua unilateral declarada por Israel, o grupo islâmico palestino Hamas também decretou ontem um cessar-fogo imediato, dando um fim incerto a 22 dias de guerra na faixa de Gaza. Pouco depois, o Exército israelense iniciou uma retirada parcial de suas tropas do território palestino.
Reunidos em Damasco, na Síria, líderes do Hamas e de outros grupos extremistas anunciaram um cessar-fogo condicional de uma semana, prazo dado a Israel para retirar-se totalmente da faixa de Gaza.
Com a suspensão dos bombardeios, a população palestina pôde sair às ruas e ter uma ideia da devastação. Três semanas de ofensiva israelense deixaram ao menos 1.300 mortos, a maioria civil. Praticamente todos os prédios do governo controlado pelo Hamas estão em ruínas, e a infraestrutura foi seriamente afetada, contaram moradores de Gaza à Folha.
No lado israelense, que teve 13 mortos (10 soldados), as cidades próximas à fronteira com Gaza tiveram os primeiros sinais de volta à normalidade, como a saída de famílias dos abrigos contra foguetes e a reabertura de escolas. Diferente do consenso nacional em prol da ofensiva, uma pesquisa divulgada ontem mostrou uma opinião pública dividida, com 41% dos israelenses a favor do cessar-fogo e 41% contra.
Enquanto os canhões silenciavam, uma conferência convocada pelo Egito buscava cercar a frágil trégua de apoio internacional. Os egípcios tentarão agora negociar um cessar-fogo prolongado, que concilie as exigências de Israel, principalmente o bloqueio à entrada de armas em Gaza, e as do Hamas, a começar pela abertura das passagens de fronteira.

Fragilidade
Apesar de o domingo ter sido de relativa calma em Gaza, algumas escaramuças demonstraram a precariedade do cessar-fogo. Militantes palestinos dispararam ao menos 15 foguetes contra o sul de Israel, incluindo alguns depois da trégua do Hamas. Um deles atingiu uma casa na cidade israelense de Ashdod, deixando um ferido.
Fontes militares informaram que Israel reagiu com dois ataques aéreos contra as milícias que lançaram os foguetes. O disparo constante contra as cidades do sul do país nos últimos anos foi a razão principal alegada para a ofensiva iniciada no dia 27 de dezembro, a maior já feita contra alvos palestinos.
Ao anunciar o cessar-fogo, o premiê Ehud Olmert disse que Israel reagiria a novos disparos. "Atingimos todos os objetivos da guerra, e além", disse Olmert. "Mas se nossos inimigos decidirem atacar, o Exército israelense se considerará livre para responder com força."
Confirmando sinais que vinham se fortalecendo nos últimos dias, o Hamas aceitou indiretamente o cessar-fogo, anunciando a suspensão dos foguetes por sete dias.
"Nós, dos movimentos de resistência palestina, anunciamos um cessar-fogo na faixa de Gaza e exigimos que as forças inimigas se retirem em uma semana e abram todas as passagens de fronteira para permitir a entrada de ajuda humanitária e produtos básicos", disse Moussa Abu Marzuk, número dois do birô político do Hamas, que tem sede em Damasco.
Em seguida, tropas israelenses começaram a sair de Gaza, mas o governo deixou claro que parte delas permanecerá no território. "Não podemos falar de um prazo até que saibamos que o cessar-fogo está sendo respeitado", disse o porta-voz de Olmert, Mark Regev.
No balneário egípcio de Sharm el-Sheikh, líderes árabes e europeus reiteraram a importância de um cessar-fogo imediato, mas não deram detalhes de como será implementado o entendimento negociado nas últimas semanas. A maior dúvida é sobre a composição e o mandato da força internacional para monitorar a fronteira entre Gaza e o Egito, por onde entram armas para o Hamas.
Do Egito, a missão europeia, composta de líderes dos principais países da UE, foi a Jerusalém, onde reforçou o apoio ao acordo e prometeu contribuir com o mecanismo de supervisão das fronteiras de Gaza, inclusive a marítima, e com a reconstrução do território. "Estamos dispostos a usar todos os métodos, diplomáticos, terrestres e navais, para impedir o tráfico de armas para Gaza", disse o francês Nicolas Sarkozy.


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